Por que temos que salvar a política?

Por Elis Radmann

Como pesquisadora que estuda o comportamento da sociedade, tenho visto se ampliar a descrença e a negação da política. Esse fenômeno ocorre associado ao aumento do individualismo e da intolerância, motivado pela influência da tecnologia em nosso cotidiano.

Tenho destacado o quanto a política é fundamental para guiar nossa vida em sociedade. A política define as leis (o que podemos ou não fazer) e define a gestão dos serviços públicos (como será o atendimento da saúde, qual será a forma utilizada para combater a violência, se a educação será a prioridade e até o que será ensinado nas escolas).

A política define o tamanho do Estado, de uma cidade e influência nos rumos da economia. E também é a política que diz a quantidade de impostos e tributos que devemos pagar e o que será feito com esse dinheiro.

A política pode diminuir a tendência ao individualismo e ampliar o sentimento de comunidade. Com a política somos parte, somos inclusos, ela traz o sentimento de pertencimento. A política é a arte do diálogo, da negociação, da capacidade de transformar tese e antítese em uma síntese, de fazer com que o conjunto A e o conjunto B formem uma intersecção. A política fomenta o estabelecimento de regras, a harmonia do convívio social e transforma moral em ética. A política é responsável pelo contrato social entre as pessoas, entre as instituições e entre os governos.

A política nos faz evoluir como seres humanos e sociais. Nos faz ver que precisamos uns dos outros, que o direito de um acaba quando começa o do outro. A política nos ensina que somos diferentes e podemos pensar de forma diferente, mas temos que lidar com a diferença de forma respeitosa e fazer isso com tolerância e empatia. Com a política podemos transformar sonhos em realidade.

Mas, para que a política seja tudo o que ela se propõe, temos que ter consciência de que o jeitinho brasileiro está impregnado em nossa cultura e que temos que fazer a nossa parte. Que não adianta reclamar dos políticos e continuar praticando o jeitinho ou ficar omisso diante de pessoas que praticam o jeitinho.

Temos a missão de salvar a política. Mas para salvar a política temos que ajudar a resgatar e ressignificar a política. E para fazer isso, temos que rever o nosso comportamento e o nosso envolvimento com a política.

Se cada um de nós fizer um pouquinho em prol do bem comum, estaremos salvando a política e o resultado dessa ação irá repercutir e influenciar no comportamento e nas práticas dos partidos e dos políticos.

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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