Daniel Rodrigues: Além das linhas do corporativo

Escritor, contista, radialista, apresentador e crítico de Cinema também atua como coordenador de Comunicação na Martha Becker Connections

Daniel Rodrigues - Crédito: Arquivo pessoal

O bacana para quem colabora para o universo da Comunicação é conhecer diversas pessoas, de diversos estilos e talentos. No entanto, muitas vezes, não nos relacionamos com elas na parte de fora do seu "habitat natural", algo comum neste mercado. Muitas delas, são vinculadas ao local de trabalho em que atuam, por meio de seus talentos que marcam o lugar e, também, por estarem há muito tempo dentro de uma mesma empresa. Esse é o caso do jornalista Daniel Rodrigues, o Dani, que, há duas décadas, atua na Martha Becker Connections - o que é motivo de orgulho para ele. "Sou honrado em ter tido a oportunidade de me desenvolver e crescer na profissão."     

Para aqueles que o conhecem, podem identificar o seu jeito como: a típica Música Popular Brasileira (MPB), que respira e conduz a levada com paciência. Ministra, ainda, com sabedoria, a todos da sua volta que pretendem beber um pouco de experiência. Também gosta de navegar pelos ritmos de Jazz e Blues, onde carrega consigo as raízes afro-americanas que nunca deixam a peteca cair. Mas, se não cai para ele, imagine para quem está à sua volta. Isso porque, se for preciso, utilize-se do rock 'n' roll que tem em suas veias para deixar claro o seu recado para quem precisa ouvir. 

Mas para aqueles que não o conhecem mesmo, saiba que ele vai muito além da Comunicação Corporativa. Se a ilustre jornalista e apresentadora de televisão, Marília Gabriela, fosse apresentá-lo ao público, diria: "ele é Assessor de Imprensa, coordenador de Comunicação, escritor, contista, radialista e apresentador do programa 'Música da Cabeça', da Rádio Elétrica. Além disso, é crítico de Cinema, membro e um dos fundadores da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande (ACCIRS)". Mas e daí? Dá tempo para fazer tudo isso? "Não é fácil, mas a gente tenta cumprir com todos os compromissos", diz Daniel, aos risos.  

Aconteceu na Intercap

A explicação para a absorção de tantos talentos é oriunda de um local, o de nascimento. Era por volta do fim dos anos de 1980, a comunidade do bairro Intercap - Partenon, Zona Leste de Porto Alegre, organizava-se para montar a famosa fogueira de São João. Os vizinhos se reuniam para a realização daquela que seria a grande atração do festejo junino que se avizinhava. A localidade era humilde, porém, com pessoas unidas, onde todos ali se conheciam pelo nome. Esse foi apenas um dos exemplos que o jovem Daniel Rodrigues absorveu como valores essenciais da vida, provenientes de uma infância marcada por boas referências de união.

Como de casual em comunidades, as brincadeiras de rua eram as mais comuns entre as crianças. "Ficávamos até tarde depois da escola", comenta. Apesar disso, a paixão que movia o bairro era o futebol de várzea. Praças e campinhos de futebol sete faziam parte daquele contexto. Todos os bairros próximos se reuniam, dezenas de pessoas assistiam às partidas e as torcidas, animadas, ensaiavam os primeiros gritos de gol. A equipe de Daniel, a Juventus, foi a grande vencedora da Copa Ayrton Senna de 1994, competição que homenageia o célebre piloto da 'Fórmula 1'. 

Apesar das dificuldades vividas por uma família negra de classe média, o filho do meio de dona Iara Teresinha e do seu Antonio Carlos Rodrigues, já falecido, faz questão de agradecer aos pais pela educação e a infância que teve. Como relembra Daniel, naquele período sobrevivia-se com muitas dificuldades, por conta da frágil economia nacional que o país enfrentava. "Eles rebolaram para que a gente chegasse aonde chegou. O nosso povo trabalhou muito e engoliu muito sapo. Uma gente muito vitoriosa", refletiu.

A mãe, aliás, foi a primeira da família a se formar em uma graduação, um marco importante que abriu portas para que todos os "Rodrigues" pudessem galgar os seus espaços e absorverem uma mentalidade melhor no que diz respeito à Educação. O reflexo disso foi um bom emprego como funcionária pública e a possibilidade de proporcionar uma vida melhor aos filhos. Hoje, a matriarca da família reside no Rio de Janeiro, local escolhido para se viver após complicações de saúde, já superadas, por tratamentos feitos na "cidade maravilhosa". "Minha mãe é um grande exemplo de mulher batalhadora", manifesta o jornalista. 

Das letras

A Intercap, de fato, foi a grande fonte de inspiração para tudo o que se tornaria, posteriormente, o Daniel Rodrigues. Afinal, advindo de um local com tantas peculiaridades, o que esperar de um jovem que tinha tanto para expressar? A primeira manifestação se deu por meio do Rock. O estilo musical foi a primeira paixão pela música que, por meio de diversas críticas sociais, introduziu uma vontade cada vez maior de pesquisar sobre outros gêneros musicais. 

A observação dos estilos, por sua vez, criou a curiosidade de entender de que maneira o movimento Punk se comportava. Anos depois, para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), da Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos), da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), pesquisou o tema que tinha como objetivo este fim. "Depois de me apresentar me foi sugerido criar um livro com a pesquisa realizada, a fim de mostrar para as pessoas a profundidade do trabalho", conta. O pedido foi atendido e, em 2012, o livro 'Anarquia na passarela: A influência do movimento punk nas coleções de moda' foi lançado. A obra foi ganhadora do Prêmio Açorianos de 2013. 

Contudo, talvez, a apreciação pelas letras tenha se dado um pouco antes destes acontecimentos. Daniel lembra, carinhosamente, da escola de infância, o Colégio Edgar Luiz Schneider. Filho de escola pública, na sua opinião, essa foi excelente para o seu desenvolvimento, pois havia professores de alto gabarito, a começar pela professora de Língua Portuguesa, Berenice Brito, a Berê. "Essa foi especial na minha vida, uma estupenda professora que com maestria ensina toda a introdução do Portugues, de maneira muito didática", diz. 

Depois disto, a admiração pela Literatura, assim como as letras, cresceu ainda mais. Durante os anos, realizou a participação conjunta em diversas obras literárias e, neste ano, pretende apresentar ao público a sua segunda individual chamada de 'Chapa Quente', que reúne contos que escreveu ao longo dos anos. O livro aborda realidades distintas da sociedade e faz o público refletir sobre algumas a sua natureza e raízes.  

Escorpião em Touro

O Dani é o filho do meio, mas, antes dele, tem a já falecida Cristina Rodrigues. Depois dele, vem a irmã caçula, Karine Rodrigues "A geniosa, que amo de paixão", comenta, aos risos. Apesar de sempre ter tido uma ótima relação com todos eles, Clayton Rodrigues, o irmão mais velho, sempre foi o seu espelho. "Eu era o típico gatinho filhote que azucrina a vida do mais velho, porque queria ser igual a ele", recorda. Eles têm uma diferença de idade de quatro anos, portanto, as brincadeiras, quando criança, aconteciam sempre por meio do mais velho. 

Na família, o que dizem é que a dupla se completa. "É o meu escorpião junto ao de touro de Clayton", explica Daniel. Clayton também é escritor e contista. A relação dos dois continua muito próxima, tanto que eles dividem espaço em um blogue chamado ClyBlog. O local é destinado a notícias do mundo cultural e artístico, além de resenhas, críticas e textos sobre filmes, bem como um arsenal que armazena os contos escritos por eles. "O ClyBlog é um grande espaço de reflexão e tudo aquilo que pretendemos manifestar."   

Amor de Léo

Nem sempre o dito popular que emite a frase "os opostos se atraem" condiz com a realidade. Não importa quanto tempo passe, quando há afinidade, qualquer similaridade acende uma relação. Alguns podem dizer que isso vem de vidas passadas, quem sabe. E esse pode ser o caso de Daniel Rodrigues e a publicitária e produtora cultural Leocádia Costa - a Léo, como carinhosamente é chamada por ele - pois ambos compartilham as paixões por animais, Arte, Cultura, Letras e muito mais. Ele, jornalista, e ela, também envolvida nesse universo, resultando em uma união de onze, com sete anos de casamento.

O casal se conheceu um mês antes da Feira do Livro de Porto Alegre de 2013, onde o profissional, como assessor de imprensa, estava presente para um de seus compromissos. Por outro lado, Leocádia comandava a equipe de fotografia do evento. Na ocasião, ainda sem se conhecerem, eles participaram de uma reunião entre equipes que discutia a organização da feira. Daniel conta que um dos nomes citados como referência chamou a sua atenção. "Leocádia, nossa, que nome imponente e bonito", recorda o comunicador. Ali, foi o primeiro sinal de que, tempos depois, aconteceria algo entre os dois.

Não demorou muito para a dupla iniciar as conversas e debates com assuntos sobre os temas nos quais mais gostavam e, adivinha, as vocações eram muito parecidas. De acordo com Daniel, tempos depois, Leocádia confessou a ele que já o observava antes mesmo deles trocarem os primeiros olhares, inclusive, já falaria a seu respeito para a sua mãe que, mesmo sem o conhecer, aprovaria o interesse da moça pelo rapaz. Naquele mesmo período, antes de iniciarem o namoro, a publicitária perderia a sua confidente, pois sua mãe vinha a falecer. "Essa é uma história emocionante e divina. Muito me honra saber que tive a aprovação da minha sogra sem mesmo eu tê-la conhecido, com certeza ela está nos iluminando até hoje", emociona-se. 

Filhos? Sim, dois. No apartamento, eles dividem espaço com a Chaya, a gata que leva, em homenagem, o nome ucraniano de Clarice Lispector. Esse foi um agraciamento do casal que tem em suas inspirações as obras da escritora e jornalista. Chaya foi adotada já adulta e, hoje, recebe todos os mimos da casa. "Ela chegou ao nosso lar por meio de uma pessoa que não pode mais cuidar dela. No início foi um pouco difícil a sua adaptação, mas, hoje em dia, já se sente em casa", conta Daniel. 

A cachorra Bolota também é a segunda filha que recebe todos os afagos dos pais. No entanto, ela mora em um hotel para cães que fica localizado no antigo bairro em que moravam. Inicialmente, chegou grávida em um abrigo para jovens que ficava ao lado de sua antiga casa, mas, o casal logo deu jeito de realizar os cuidados necessários e arrumar novos lares para os filhotes da cachorra. Bolota, por sua vez, reside em um lar para Pets nos dias atuais e, aos finais de semana, recebe a visita de Daniel e Leocádia. "Um dia, ainda, resgatamos a Bolota para a gente."  

Realizações 

Com mais de duas décadas de carreira, Daniel Rodrigues se sente ativo para experimentar. "Ainda não me sinto totalmente realizado, existem muitas coisas que pretendo colocar em prática nos próximos anos", adianta. Uma de suas metas está em focar, ainda mais, em seus textos a fim de produzir diversas obras literárias. Além disso, dará um foco maior para suas atividades paralelas como, por exemplo, o programa de rádio e promover ações por meio da Associação de Críticos de Cinema. 

Entre um dos sonhos que estão em seu horizonte, um é bastante especial. Daniel conta que durante os anos, sentiu a necessidade de passar o seu conhecimento e contribuir para a academia. "Me sinto na condição de trazer mais para o mundo, no qual me foram dadas muitas habilidades. Então, pretendo, quem sabe, colaborar para a Educação", finaliza. 

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