Começar do zero

Por Gilberto Jasper, para Coletiva.net

Gilberto Jasper - Crédito: Arquivo pessoal

Recentemente, publiquei neste espaço artigo sobre a situação de indigência em que vivem vários colegas, resultado da imprevidência e do descaso de entidades representativas que pouco ou nada fazem em termos de lutar por uma previdência em grupo ou um seguro para garantir o mínimo de dignidade ao final da vida profissional. Hoje, vou tratar de outro aspecto relevante que caracteriza a nossa atividade.

Ao longo de mais de 40 anos de jornalismo, exerci funções em rádio e jornal, além de prestar assessoria a órgãos públicos e privados. Neste tempo todo convivi com inúmeros colegas de veículos de comunicação. Esta rotina fortaleceu em mim a certeza de que a maioria não nutre o mínimo respeito com os assessores de imprensa.

Perdi a conta de colegas "do outro lado do balcão" que sempre ignoraram a figura do assessor, preferindo ligar diretamente para fonte/autoridades. A soberba, a falta de humildade e a arrogância são traços da personalidade de muitos de nós. Falar sobre isso, no entanto, é um tabu porque soa antipático, antiético e pouco profissional.

Jornalistas que ostentam crachás de grandes empresas jornalísticas "não estão nem aí" para o trabalho do assessor de imprensa que, no final de contas, é um colega que apenas está numa posição diferente. Outra "curiosidade" desta relação é a repentina mudança de comportamento tão logo o jornalista "do crachá ostentação" seja demitido da grande mídia.

Uma das primeiras providências do "neodesempregado" é ligar para um assessor mais chegado para marcar um cafezinho e reclamar da empresa/chefes/colegas e perguntar se sabemos sobre uma oportunidade de trabalho. Modéstia e humildade não constam do ideário da maioria dos coleguinhas que fazem questão de pisotear em assessores de comunicação e estagiários. Duvidam? Perguntem para um jornalista que tem anos de experiência. Eles irão repetir o que relatei acima.

O comportamento bizarro de arrogância inviabiliza qualquer possibilidade de união da categoria. Como ocorre na política, isso faz com que meia dúzia de oportunistas se perpetuem no comando de nossas entidades. Alguns conseguem, inclusive, falir/destruir corporações que fizeram história ao defender a democracia e a liberdade do exercício de trabalho da categoria.

Gilberto Jasper é jornalista ([email protected])

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