Hierarquismo: como as novas gerações sofrem com a responsabilidade sem reconhecimento

Por Luan Pires

Me deparei com o termo "Hierarquismo" e, de forma resumida, fala sobre a prática de julgar, estigmatizar ou tratar indivíduos de maneira desigual com base em sua posição na hierarquia organizacional. Claro, não é um comportamento novo e muito menos inesperado (o que não significa que seja justo, pelo contrário). Mas, a formalização de um termo desses reflete um cenário de mudanças na área da comunicação: a chegada da Geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) e da maior ocupação da Geração Y (os millennials, nascidos entre 1981 e 1996) nos espaços de trabalho.

Além dos comportamentos mais conhecidos, um deles relaciona-se com o hierarquismo: os mais novos não sentem tanta atração por cargos de gerência como eles estão estabelecidos atualmente porque os ganhos não compensam as horas extras ou o estresse gerado. Veja bem: eles gostam de gerir pessoas e gostam de trabalho em equipe, mas discordam do que é esperado de um líder hoje em dia. Um estudo realizado pela Visier, plataforma de análise de pessoal e planejamento de força de trabalho, mostra que 91% dos funcionários liberais não querem se tornar gestores de pessoas pelos seguintes motivos: expectativas de aumento de estresse/ pressão ou simplesmente satisfação com suas funções atuais.

Todos os mais novos são contrários à hierarquia? Ao meu ver, não. Mas, temos uma visão nova do que é ser um líder e do que deve ser cobrado deste. Muito em razão do velho modelo de hierarquia instituído ao longo dos anos e que gerou o hierarquismo. Dentro desse termo, também está a crença de que indivíduos em posições superiores são automaticamente mais valiosos ou dignos de respeito que aqueles que ocupam posições consideradas inferiores e, portanto, tem o dever de obediência, submissão e servidão aos interesses dos superiores, estabelecendo uma coação sistemática.

Mais uma vez: isso não é hierarquia, é hierarquismo. Num mundo cada vez mais colaborativo, em que é exigido dos novos profissionais estudo, qualidade, multiplicidade de saberes, experiência, proatividade, senso de equipe e ainda um esforço para se destacar diante de um único chefe que pode determinar o ritmo do seu reconhecimento e crescimento, é cruel querer que os mais novos apoiam essa hierarquia centralizadora, tradicional e antiquada. 

Como resultado? Temos jovens fugindo da gestão porque não se sentem numa luta justa, o que gera, consequentemente, falta de motivação e baixa moral. É preciso deixar claro para essas gerações o caminho do crescimento, que suas vozes serão ouvidas, que seus trabalhos serão reconhecidos e, mais do que isso, designados como seus trabalhos. É incongruente cobrar dessas gerações um senso de equipe enquanto o esforço coletivo ganha um único nome: o do líder ou da empresa. É claro que a experiência faz a diferença e que as responsabilidades são sérias para os dois lados. Mas, o discurso de "eu também sofri com isso, agora é a sua vez" é insano porque gera cada vez mais uma geração que ao invés de evoluir com a empresa, não deseja gastar o seu esforço com ela. 

Com amor, Luan

Autor
Luan Nascimento Pires é jornalista e pós-graduado em Comunicação Digital. Tem especialização em diversidade e inclusão, escrita criativa e antropologia digital, bem como em estratégia, estudos geracionais e comportamentos do consumidor. Trabalha com planejamento estratégico e pesquisa em Publicidade e Endomarketing, atuando com marcas como Unimed, Sicredi, Corsan, Coca-Cola, Auxiliadora Predial, Deezer, Feira do Livro, Museu do Festival de Cinema em Gramado, entre outras. Articulista e responsável pelo espaço de diversidade e inclusão na Coletiva.net, com projetos de grupos inclusivos em agências e ações afirmativas no mercado de Comunicação. E-mail para contato: [email protected]

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