A reencarnação das agências de publicidade

Por Max Rathke, para Coletiva.net

Sou publicitário e já fui seminarista. Estudei três anos de Teologia no Seminário da Igreja Luterana. Confesso que continuo luterano e dentro da doutrina não se acredita na ideia da reencarnação. Mas, se fala tanto na morte das agências, que comecei a acreditar que estamos vivendo um momento de reencarnar em um modelo novo de negócio e de profissão.

Acredito que a crença na reencarnação é de que a pessoa possa evoluir. Ter uma nova chance para viver uma realidade diferente e mais elevada que a anterior. Pode ser mesmo que a agência onde comecei minha trajetória como publicitário, há 21 anos, tenha morrido. A "agência" de "agenciar" veículos e ser remunerada por eles pode ter passado dessa para melhor. A "agência" de criar campanhas e peças premiáveis, quem sabe, foi parar em um purgatório.

Tenho certeza que estamos renascendo para reaprender a sermos algo diferente e melhor. Mais evoluído. E minha crença se baseia em algumas percepções pessoais ao longo da minha vida como publicitário, professor universitário, dono de agência e, agora, executivo de uma entidade do nosso setor.

A primeira percepção é a de que a propaganda conversa com quem se interessa com sua marca. Ela está aberta a efetivamente se relacionar, ouvir, admitir seus erros publicamente, se posicionar e manter o diálogo aberto e franco. Mas, também, dizer com quem quer se relacionar e com quem não quer ter contato para preservar sua verdade e sua essência. A velha fórmula EMISSOR - MENSAGEM - RECEPTOR não existe mais.

O segundo ponto é que as agências não são "empresas". Essa mentira sempre foi contata para 'preservar seus criativos'. Dar uma liberdade que a maioria das organizações não tinha em nome daquela ideia que faria toda diferença. E se acreditou nisso até ontem. Se a alma do negócio é o que fazemos, não existe empresa sem gestão. Não podemos fazer comunicação sem saber o RETORNO SOBRE O INVESTIMENTO. E esse assunto vale do dono da agência até o estagiário.

Todo mundo tem que saber quanto vale nosso tempo, nosso esforço, nossa ideia que trará resultado e lucro para os nossos clientes, e isso precisa ser aprendido, vivenciado e entregue a eles. Não pode ser apenas discurso ou uma tela de apresentação do planejamento. Mas, apesar dos nossos erros, de muitos formatos ainda orientados para "MAD MEN", nós reencarnamos. E só conseguimos isso porque temos alma.

As agências podem até ter morrido, sim. Perdido seu glamour de Don Draper. Mas, estão voltando em uma versão muito melhor. Porque a gente existe não para resolver um problema ou um briefing, mas porque temos uma visão mais ampla do negócio dos nossos clientes. Porque as marcas continuam precisando de um olhar crítico de seus produtos e serviços. Necessitam de profissionais que não tenham medo de ir contra o posicionamento da empresa e dizer que estão em um rumo errado.

As agências reencarnaram para evoluir, não porque fazemos peças com uma direção de arte e redação bem finalizadas e produzidas, mas porque conseguimos nos colocar no lugar do consumidor e ter a sensibilidade de perceber o que pode emocionar, o que pode motivar a tomar uma atitude positiva sobre determinado produto. As agências reencarnaram porque tem alma. Estão mudando seu corpo, sua forma. Voltaram renovadas, repaginadas e sabendo que, apensar de todo os dados, códigos e data "alguma coisa", existe gente querendo receber algo com uma verdade que pode tocar sua vida, fazer diferença em seu dia a dia e simplesmente participar do seu cotidiano.

As agências ainda têm vida longa pela frente enquanto preservarem a cultura da criatividade pela vontade de surpreender e de ser relevante. Pelo propósito de promover o desenvolvimento de empresas e pelo bem das pessoas.

Nessa reencarnação eu acredito. Vida longa às agências!

Max Rathke é publicitário e supervisor-executivo do Sindicato das Agências de Propaganda (Sinapro-RS)

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