Desafios da Comunicação Pública

Por Gabriela Alcantara Braz, para Coletiva.net

A comunicação pública ou governamental enfrenta um cenário atípico nesta década. Crises na área política e econômica, processos de impeachment, escândalos, denúncias e delações trouxeram à tona para os noticiários e para as telas de smartphones uma realidade difícil de aceitar. Num ambiente hostil, em que a credibilidade é o melhor cartão de visitas, os profissionais de imprensa, que atuam no setor público precisam comunicar de forma independente e ágil os rumos dos governos. Precisam falar abertamente sobre remédios amargos, prazos realistas e projetos concretos. Precisam ter a consciência de que trabalham não apenas para atender à demanda de seus assessorados, mas para servir à sociedade e facilitar o acesso da imprensa.

Servir à sociedade é pensar naquele cidadão que trabalha duro, paga impostos e espera que os governos invistam seu suado dinheiro em hospitais, escolas, segurança e melhores estradas. Quando a comunicação pública não chega corretamente lá na ponta, no bairro, na vila ou na comunidade do interior, a má fé prevalece. No ambiente digital, por exemplo, todos têm voz e razão, mas poucos buscam argumentos sólidos e checam dados. Neste contexto, facilitar o acesso da imprensa é um antídoto eficaz para quem ainda preza pelo fortalecimento das instituições, apesar da descrença generalizada que domina os posts e comentários nas redes sociais.

E por falar em redes, a era digital exige mais transparência dos entes públicos. Os governos, ainda um pouco distantes de serem didáticos, escancaram as contas, desburocratizam processos, criam aplicativos e modernizam estruturas. Agem como um pai de família, que reúne todos na sala para deixar claro aos seus "dependentes" que o cobertor da casa não dá conta de aquecer todo mundo. E que a opção tem sido estabelecer prioridades, investir em planejamento e gestão, até que haja equilíbrio e tudo esteja em ordem. Entre a realidade austera do setor público, a verdade sobre o que está sendo feito e as necessidades do seu João e da dona Lurdes, estão assessores de imprensa e jornalistas, que têm a missão de encaixar anseios com suas respectivas soluções. Nada conseguem se não trabalharem afinados com os profissionais que estão do outro lado no balcão - nos jornais, TVs, rádios, sites e blogs de notícias - para que a informação seja bem entendida, tanto pelo agricultor, quanto pelo operário ou pelo empreendedor.

As pautas econômicas e administrativas nunca estiveram tão presentes no café da manhã dos brasileiros. A sociedade aprendeu a conviver com temas complexos que lhe afetam, como previdência, privatizações, juros, planos de carreira e reformas de toda ordem. São assuntos que exigem detalhamento, compreensão e fontes políticas, mas acima de tudo técnicas. Abrir as portas e traduzir para o cidadão que o problema dele não pode ser resolvido de imediato porque faltam recursos e sobram etapas a serem vencidas é uma tarefa árdua e necessária. Mas não para por aí. O grande desafio desta década está em manter acesa uma luz no fim do túnel: a pauta positiva. Há problemas sérios, sim, ao mesmo tempo em que muitas práticas estão dando certo. A área social, por exemplo, é um terreno fértil para garimpar boas experiências. Desde o menor infrator que aprende uma profissão e deixa de servir ao crime, até o projeto desenvolvido em parceria com a comunidade escolar para reduzir a violência em sala de aula. Bons resultados, vidas resgatadas e novos futuros acontecem todos os dias. À boa comunicação pública, cabe explorá-los.

Gabriela Alcantara Braz é jornalista e pós-graduada em Branding e Gestão de Marcas.

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