Mais conteúdo, menos opinião

Por Gilberto Jasper, para Coletiva.net

A cada ano aumenta o risco de vida para jornalistas em diversos países. Mas isto não ocorre apenas em regiões conflagradas onde a morte flerta com os profissionais que lidam com a verdade que desagrada os poderosos. No Brasil, a atividade jornalística impõe inúmeros riscos que transcendem as ameaças físicas. O radicalismo que caracteriza as relações - não apenas políticas - criou um ambiente de estresse contínuo. Erra quem imaginou civilidade no pós-eleições. O clima é de beligerância total.

Redigir uma coluna de gastronomia, por exemplo, é capaz de despertar a fúria de leitores/ouvintes/telespectadores/internautas. Nas redes nem tão sociais o autor do texto recebe uma pecha irreversível. Fascista, reacionário, conivente, golpista, "vermelho" e tantos outros adjetivos perseguem os profissionais como um míssil teleguiado, sem chances de escapar!

Com 40 anos de Jornalismo impressiona o contingente de colegas que abandonaram a isenção para assumir suas preferências políticas. Isso faz parte da democracia, ok, mas por que tanto ódio contra os que pensam diferentemente? E logo um comunicador que deveria zelar pela pluralidade da informação.

O ódio tem sido disseminado em todas as plataformas nas 24 horas do dia, durante a semana, aos sábados, domingos e feriados - santificados ou não. É raro encontrar profissionais equilibradas capazes de, ao menos, ouvir argumentos "do outro lado". A rotina é de debates entre surdos que sequer cogitam o uso da leitura labial para um mínimo de entendimento.

Quando a intolerância pousa nas redações, sem disfarces e com a conivência geral, é preciso fazer uma reflexão. Opinião tem lugar garantido, mas se vislumbra uma redução gradativa do espaço destinado à publicação de conteúdo que levem o leitor/ouvinte/telespectador/internauta a pensar e fazer seu próprio juízo de valor. Impera, porém, a tentativa indisfarçável da influência ideologicamente e partidária.

Gilberto Jasper é jornalista.

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