Pela uva se conhece a videira (ainda, e um pouco mais, sobre Boechat)

Por Iraguassu Farias, para Coletiva.net

Nas tragédias surgem heróis, revelam-se histórias não sabidas e se conhecem personagens inspiradores. Claro, melhor seria tê-los todos sem que fossem necessárias as tragédias.

Conheci DONA Mercedes (revisor, não mexa!) por causa da tragédia. Que coisa.... Em meio à dor, em não mais do que alguns minutos, esta senhora revisita o nascimento do filho, fala do carinho das pessoas e profere ao final, com ênfase, um libelo à igualdade, aos direitos de todos, como quem diz ser isto mais importante que sua dor e a perda em si de um filho. Quem acha tempo pra isto num velório? Que coisa, minha gente....

Por isto, o título "Pela uva se conhece a videira", velho adágio bíblico, a dizer que conhecendo-se os filhos, sabe-se dos pais. Com exceções, claro. Basta ver as prisões cheias de degenerados filhos de sofredoras mães marias, que batem ponto em dias de visita para verem seus rebentos desviados.

Mas em regra, Mercedes geram Ricardos. E Ricardos só podem nascer de Mercedes, e esta senhora, que diz se orgulhar da vida de seu filho morto, deveria ser motivo de orgulho de todos nós. Quem não assistiu, faça-o. E aprenda enquanto esta senhora está viva. Por isto, acho que ao legado de Boechat, como jornalista, como cidadão, como pessoa, deve-se obrigatoriamente acrescentar a beleza de ser filho de Mercedes.

A dor é grande, sem dúvida, especialmente pela forma com a vida se vai, na fração do segundo que não esperamos. A raiva também. Raiva do acaso, do súbito, do inusitado, da falta de licença pra transportar passageiros e da mão estendida no último gesto de pedir socorro. Mas também a raiva de babacas esquerdistas que acham tempo pra julgamentos pequenos, rasteiros e quase desumanos. Nojo de ler entre as manifestações algumas como "golpista", falou mal do Lula e da Dilma e o escambau.... Almas pequenas, almas rastejantes e putrefatas. Nada acrescem a não ser para destilar ódios e mostrar sua pequenez.

E entre choros e saudade, de muita, mas muita gente, quem há de se preocupar com estes pequenos? Isto mesmo... ninguém. Porque, enquanto eles destilam ódios e impropérios sobre Ricardo Boechat (quem não tem seus erros?), nós conhecemos Mercedes Carrascal, a mãe, que diz estar seu tempo acabando. Tive sorte de ouvi-la antes deste tempo chegar. Ela é o contraponto aos babacas. É muito mais do que eles, como certamente o foi Ricardo Boechat.

Embora seja muito comum, na hora da partida, exaltar-se os méritos e feitos do de cujus, não me parece exagerado o tributo a Boechat. Apenas muito justo. Que bom poder dizer "e Mercedes gerou Ricardo"... e Ricardo, uma legião de fãs.

Muito prazer em conhecê-la, DONA Mercedes.

Iraguassu Farias é diretor Comercial em Coletiva.net.

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