Pra quem fica, tchau

Por Ênio Lindenbaum, para Coletiva.net

Está perceptível pela sociedade o renovado movimento migratório brasileiro. Já tivemos diversos. Alguns internos do Norte para o Sul e o dos gaúchos para o Norte. Tivemos os 'nissei' indo para o Japão e a formação de comunidades brasileiras nos Estados Unidos da América, no Canadá e em diversos países europeus. Cada uma teve uma motivação clara: a busca de uma melhor sobrevivência.

Isto fez com que enviássemos brasileiros com pouca capacitação e praticamente nenhum capital. Muitos destes, pelos vínculos mantidos com a terrinha, se tornavam uma fonte de desenvolvimento em cidades emissoras como Governador Valadares, em Minas Gerais, ou Criciúma, em Santa Catarina. O envio dos recursos dos brasileiros no Japão era tão expressivo, que entravam nas previsões econômicas.

Ao voltarmos a ser um país de consumidores, incremento de crédito que antecipa consumo, modernização dos produtos, equilíbrio cambial, este movimento diminui e, sim, temos um tipo de emigração mais qualificada intelectualmente.

O Brasil, que foi nos séculos XIX e XX grande receptor de imigrantes, que efetivamente vinham para sobreviver e, portanto, com baixo grau de exigência e, praticamente, nenhum preparo ou visão de cenário presente ou futuro, hoje está exportando mão de obra qualificada e capital

São mais de 450 bilhões de dólares depositados no exterior. É uma leva de profissionais muitos formados em nossas instituições públicas, que já não veem perspectiva de felicidade no Brasil. Que ainda somos um País bom para ganhar dinheiro, principalmente para quem já o tem ou atua no agronegócio, é inegável. Mas as perspectivas da nossa seguridade social, nossa baixa inserção no comércio mundial e a insegurança urbana estão matando aquele sonho tão lusitano de fazer concurso e se abrigar no Estado.

Temos poucos fatos que conseguiram unificar as ações em prol do bem comum. Não conta o futebol! Foi o caso do racionamento de energia no governo FHC, foi o Fome Zero do Betinho, foram as campanhas de vacinação e de combate à disseminação da Aids. Isto pode e deve ser feito das micro regiões até ao país inteiro. Em comum, e aí vem a nossa parte, o uso inteligente da Comunicação, visando emocionar as pessoas por causas comuns. Os compromissos de Estado e não de Governo.

O ambiente tóxico que estamos vivendo com ódios de exclusão está nos empurrando, os que podem, a pegar o navio, avião, o que for e sem muito planejamento nem visão de futuro da continuidade e da adaptação cultural.

Creio que é a hora das nossas entidades de classe pegarem uma bandeira de bem coletivo, de mudanças de paradigmas. A campanha do 'Mexa-se', do Unibanco, colocou a questão saúde com exercícios físicos na vida dos brasileiros, e não só da classe média para cima.

Na nossa vizinhança, tem uma cidade, Tubarão, em Santa Catarina, que passou pelo trauma de desistir de ser um centro empreendedor para ser uma cidade de funcionários públicos, com a instalação de estatais na década de 70. Quando veio o fechamento ou enxugamento destas empresas, a cidade, que já tinha perdido sua pujança, foi deprimida pela falta de consumo e ainda uma tragédia monumental. Enchente. A solução, anos depois, foi aliar comunicação com ação para resgatar aquele espírito empreendedor, criando mecanismo tanto de formação empresarial como auxílio na implantação de negócios com futuro e sustentáveis.

A junção dos empresários Glauco Caporal Fernandes e prefeito Carlos Stupp elaborarão um programa inédito no Brasil - santo de casa, aqui, faz milagre. Um conjunto de medidas, de estímulos e de informação, que resgataram este espírito empreendedor e recolocaram Tubarão em novos e mais sustentáveis rumos.

Na esteira de Gramado, já temos varias regiões que estão investindo em agregação de valor pela qualidade, mas também pela visualização e percepção de marca. A Serra Gaúcha. Os vinhos de altitude em Santa Catarina para falarmos em alguns exemplos próximos.

Estimular o Marketing Social, criar visão de futuro para pessoas, empresas e cidades. Estimular o pertencimento e comprometimento comunitário. Precisamos também melhorar a nossa imagem, a própria e a publica.

Qual o papel que teremos nesta sociedade em transformação? Como teremos orgulho e prazer pelo que produzimos? Podemos ter respostas próprias, mas precisamos de novos caminhos juntos.

Ênio Lindenbaum é publicitário.

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