A figura do psicopata na TV

Por Paulo Tiaraju, para Coletiva.net

O livro Mentes Perigosas, de Ana Beatriz Barbosa Silva - embora haja uma corrente de psiquiatras que torça o nariz para o trabalho da autora -, surpreende pela simplicidade com que expõe as muitas faces (perturbadoras) do psicopata fora do seu repertório midiático, ou seja, do assassino frio e destituído de culpa.

A autora descreve de forma direta a natureza do psicopata em seus diversos perfis e, ao desconstruir a identidade do doente mental, fica claro para o leitor que a conhecida figura do psicopata associada aos assassinatos espetacularizados é somente a mais visível das suas facetas.

O traço comum de todos é o comportamento aparentemente "normal", sendo que, muitas vezes, são pessoas inteligentes, sedutoras e convincentes. A autora discorre sobre o modo de vida dessas pessoas, as quais vivem nos condomínios e podem ser os seus vizinhos de porta. Ou trabalhar normalmente nas repartições públicas, com grande recorrência na política. São psicopatas portadores de um gatilho mental, que pode disparar ou não.

Não é difícil lembrar de filmes e romances em que eles surgem na pele do sujeito violento. Por óbvio, o psicopata rende tramas sombrias, roteiros de áspera tensão. Fazem da figura do mordomo suspeito, mamão com açúcar, comparada às personagens medonhas que proliferam na política brasileira ou no vale tudo das novelas da Globo.

Não me acostumo com o escracho da perversidade, com a violência das cenas em que mulheres trocam porradas, com a faceirice da avó desalmada que prostitue a neta, as Erêndiras de novela.

A trajetória folhetinesca da Globo resultou por criar uma subleitura da vida. Não somente pela sordidez das tramas, mas pelo ar entediado com que as personagens traem, prostituem-se, sacaneiam-se, esbofeteiam-se e se matam. Essa é a minha perplexidade. O fato de encenarem tudo isso novelescamente.

Não vejo densidade, contradições, tensão, conflito, nada destas substâncias capazes de oferecer verossimilhança com a vida. Importante alertar que, aquilo que está acontecendo na telinha, é grave, ou doloroso, ou imoral, ou condenável, um meio de arrancar a figura do psicopata do anonimato.

Paulo Tiaraju é publicitário.

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