A pátria das chuteiras esquecidas

Por Eliziário Goulart Rocha Difícil não se comover com o choro de Roberto Dinamite, exibido dois dias seguidos em rede nacional. Para quem não …

Por Eliziário Goulart Rocha
Difícil não se comover com o choro de Roberto Dinamite, exibido dois dias seguidos em rede nacional. Para quem não viu na TV, o maior jogador da história do Vasco, sim, maior do que Romário na história do Vasco, marcou mais de 600 gols com a camiseta do clube que os narradores antigos chamavam de cruz-maltino, alguns dos quais dignos de figurar em qualquer retrospectiva do futebol brasileiro, este símbolo do Vasco vencedor foi retirado da tribuna de honra do Estádio de São Januário pelos seguranças. Supostamente, porque não estava na lista de convidados. Roberto chorou feito criança à frente da câmera. Restou-lhe o consolo de que o filho não chegou a perceber a humilhação. Juntos, foram para as cadeiras e assistiram até o fim à estréia da equipe no Rio-São Paulo.
Antes que alguém venha dizer que a Globo deu destaque ao fato para atacar Eurico Miranda, é o seguinte: Eurico Miranda já deveria ter sido banido há muito tempo do futebol brasileiro, toda a crônica esportiva sabe. Nos últimos tempos, devido à briga da maior emissora de TV do país com o cartola nefando, alguns profissionais da mídia parecem ter sido acometidos de conveniente amnésia em relação aos desmandos do sujeito. Se foi perseguição a Dinamite pela sua condição de futuro candidato à presidência do Vasco, ou se se tratou apenas de seguranças cumprindo ordens, tanto faz, na dúvida, a culpa é do chefe. Das duas, uma, ou o tal segurança é um dos raros brasileiros que não conhecem o rosto de Roberto Dinamite, ou foi sacanagem mesmo.
Figuras notórias como presidentes da República, o Papa e celebridades em geral não costumam ser expulsas de tribunas de honra pelo simples fato de que todo mundo os conhece. Estando ou não na lista, que ali permaneçam. É demais imaginar que Roberto Dinamite seja um desconhecido no estádio de São Januário. Jair da Rosa Pinto, figura lendária do futebol brasileiro, aproveitou o renovado interesse da mídia pelos veteranos, geralmente registrado quando algum deles morre, no caso Vavá, e desabafou. "Estou dando esta entrevista porque em ocasiões como essa interessa a vocês e a mim", disse aos repórteres, para em seguida reclamar do esquecimento a que os velhos ídolos são renegados.
Procura-se justificar o esquecimento de alguns que brilharam nos campos de futebol antes do videoteipe. Sem a exposição da imagem, fica mais difícil o reconhecimento. Que seja. Não é o caso de Dinamite, fartamente exposto. Ele ainda teve de engolir a homenagem a Romário, cuja camisa 11 será aposentada quando o atacante parar de jogar. Ninguém discute a importância de Romário no futebol mundial, quanto mais carioca, mas qualquer um com o mínimo de visão histórica reconhece que, para o Vasco, Roberto foi maior. Zico também teve de engolir a figura do mesmo Romário no selo alusivo ao centenário do Flamengo, como se alguém tivesse sido maior do que ele, Zico, na história do rubro-negro carioca. O caso de Roberto é só um emblema da pátria das chuteiras esquecidas.
Dedicado a Flávio Dutra
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