Assessoria e veículo

Por Rogério Teixeira Brodbeck No campo da assessoria de Imprensa, frente de trabalho para os jornalistas incrementada há mais de 10 anos, muita coisa …

Por Rogério Teixeira Brodbeck
No campo da assessoria de Imprensa, frente de trabalho para os jornalistas incrementada há mais de 10 anos, muita coisa ainda paira no ar em termos de conduta profissional, notadamente nos aspectos éticos, que não raras vezes batem de frente com a questão remuneratória dos profissionais.
Com efeito, sabemos todos que a enxurrada de jornalistas que as faculdades despejam no mercado a cada semestre (e não só mais a cada ano, como antes) têm de desaguar em algum lugar, não sendo os veículos tradicionais capazes de absorver toda essa mão de obra. Assim, começaram a surgir, anos atrás, e ficando cada vez mais freqüentes, as assessorias de Imprensa, espécie de agências dedicadas à comunicação empresarial nos moldes das suas congêneres da área de publicidade e propaganda. E foram surgindo a partir da importância que foi tomando a figura do jornalista-assessor, ente individual que se consolidou na administração pública e se esparramou para a iniciativa privada logo após.
No entanto, tenho observado, notadamente em cidades do interior, que determinados colegas, profissionais atuantes de jornais, rádios, TVs, Internet, são também, simultaneamente, assessores de imprensa, como que a exercer um "bico" para engordar a renda mensal. E fico a me perguntar até que ponto tal acúmulo de tarefas é éticamente permitido. Sim, pois como fica o veículo diante de um release escrito por um seu jornalista que (não) disserta sobre as atividades da empresa "xis"? Publica, assim mesmo, e fica desta forma fazendo publicidade editorial? Será que publicaria outro release de outro profissional que não integrante de sua redação? Ou rejeita em nome da ética, sob o argumento de que não pode misturar as coisas?
E qual a atitude do empresário do veículo ao saber que um seu funcionário, da redação, é também jornalista assessor de Imprensa de uma empresa? Permite que haja essa duplicidade, a pretexto de não perder o profissional mas cujo salário não pode aumentar e, por isso, faz "olho branco"?
São situações realmente difíceis de enfrentar, mas não tenho o menor receio de dizer que tal atividade paralela é totalmente incompatível, uma vez que não se pode servir a dois senhores. E a coisa fica pior ainda quando o jornalista é titular de uma coluna e faz dela uma página diária para a veiculação de seus próprios releases. São aspectos a considerar numa questão que não é lá muito eventual como pode parecer e que está ganhando corpo a cada dia.
Ou se é do veículo ou se é funcionário do assessorado. Dos dois, acho difícil continuar com o mesmo desempenho e com o mesmo efeito.
* Rogério Teixeira Brodbeck é jornalista e advogado em Pelotas.
( [email protected])

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