Comunicadores: Boralá compartilhar?

Por Adriene Antunes

Como raiz, quase todo comunicador, seja ele de que área for, é formado na base do individualismo. Mesmo que não pareça, no fundo os profissionais tentam fechar nos seus casulos seus problemas e suas soluções, compartilhando pouco com colegas os conhecimentos e menos ainda suas dificuldades.

Exagero, vais dizer. Mas não é. Por mais que pareça que a 'classe' está mais participativa, nós comunicadores, e aqui destaco os jornalistas, somos moldados a lutar contra o capitalismo (né não?) e atuar como se o jornalismo fosse o oposto da publicidade (em tudo). Por tempos, nos corredores das universidades o pessoal da PP (Publicidade e Propaganda) eram os gananciosos, aqueles que pensavam em vendas, lucros, recursos, gastos, grana. E nós do jornal, éramos então os sonhadores, que buscávamos mudar o mundo com o jornalismo independente, solitário, desunido.

Sim. Era isso. Basicamente, nós (e eu me incluo muito nisso) achávamos que a publicidade e o jornalismo eram antagônicos e precisavam de distância para que os trabalhos pudessem ser exercidos com autenticidade. De fato, quando atuei em uma emissora de rádio, pude perceber a distância que havia do comercial e do departamento de jornalismo. Nossos programas eram os que menos tinham 'propaganda', e não porque nós repórteres demonizávamos o comercial, mas porque quase nem era oferecido os horários das notícias. Talvez até mesmo para que os ouvintes não associassem que as 'matérias' eram compradas, pagas ou 'mandadas'.

No subconsciente geral, jornalismo não pode ter envolvimento monetário. Mas para que ele exista, alguém tem que puxar à frente desta engrenagem. Afinal, ninguém vive sem dinheiro em um mundo, sim, capitalista. Então, para que o jornalista possa estar lá na sua redação investigando e criando grandes reportagens é preciso que um tremendo grupo pense em como 'ganhar' dinheiro e pagar todas as contas, incluindo as do jornalismo. Jornalismo é sim, é cada vez mais, um produto da publicidade.

Oi? Ficou louca? Ainda não. Mas é preciso enxergar o novo horizonte da comunicação, saindo da caixa cheia de conceitos concebidos e entender que somente o compartilhamento dos comunicadores e a união das técnicas pode e fará uma comunicação social, de fato. Para os mais novos, talvez nada do que escrevi faça algum tipo de sentido, afinal, a geração Z Y W, ou seja, lá qual for agora, já vem com um chip diferenciado instalado. Graças a Deus. Porém a comunicação ainda é formada por um monte de comunicadores, como eu, que sequer tiveram a disciplina de semiótica. Que estudaram fotografia analógica e os 'blogs' eram vistos como bichos de sete cabeças. Sim, iniciamos a vida tecnológica da universidade estudando http://.

Não me acho a jornalista mais antiga da história, mas acho que os comunicadores, mesmos aqueles de chip 4.0 novinho, desunidos. Cada um no seu mundinho, com seu bloquinho ou celular tentando 'pegar' uma informação que o outro não tem, ou dar em primeira mão aquela notícia, que de verdade, fica muito melhor completa cheia de hiperlinks interessantes, do que uma notinha cinco segundos depois do acontecido. Vejo o pessoal chegar para realizar a cobertura de eventos, cada vez mais isolados. Quase não se cumprimentam, aquele receio do 'concorrente' saber mais do que eu. Não fora isso, ainda tem o não entendimento da relação com a Assessoria de Imprensa e com todos os entes que foram as equipes que atuam em empresas, eventos, instituições ou repartições públicas (isso é um outro capítulo longo). Nós assessores somos 'os malvados', muitas vezes os jornalistas e comunicadores gananciosos que vão para o lado ruim da força, ou seja, do capitalismo, do interesse de alguns (não haja o que não hajar). Mas prometo, falo disso outra hora porque este é um tema curioso.

Comunicadores são seres indispensáveis em um mundo cada vez mais tecnológico, cheios de redes sociais e, no entanto, mais carentes de informação, verdade e vida off. O que precisamos?  Sair do individualismo que nos divide e compartilhar. Trocar ideias, projetos, problemas, soluções. Entender que não, não mesmo, somos profissionais que 'podem e devem' viver em seus casulos como suas anotações, criações e ideias. Que podemos ser leves, interagirmos e vivenciarmos a comunicação na sua verdadeira criação: a de fazer chegar, transmitir, repartir.

Adriene Antunes é jornalista, especialista em Fotografia e motivadora na Plataforma Boralá Comunicar.

Comentários