E no futuro, como estaremos?

Por Paulo Márcio Rockembach Há poucos anos, havia um programa na televisão americana chamado Beyond Tomorrow. Este programa fazia previsões semanais acerca das pesquisas …

Por Paulo Márcio Rockembach
Há poucos anos, havia um programa na televisão americana chamado Beyond Tomorrow. Este programa fazia previsões semanais acerca das pesquisas no campo da tecnologia, da medicina e da odontologia. Lembro bem de uma previsão que me causou alivio: no futuro, dentistas não usarão brocas. Serão substituídas por equipamentos que combinarão equipamentos de laser, poderosas pastas e ate chicletes para limpar dentes. Espero, a exemplo de milhares de pessoas, viver para testemunhar isto.
Predições no campo tecnológico, na medicina, na odontologia - além de inúmeros outros - são mais do que bem-vindas, são necessárias. Até porque trabalhamos com a realidade dos fatos, não meras especulações. E os americanos, como sabemos, são fissurados em futurologia. Mas a discussão começa a receber outra dimensão quando as previsões alcançam o mundo dos negócios. E o exercício é exacerbado. O exemplo mais conhecido entre nós é o da publicitária norte-americana Faith Popcorn. Ao longo dos últimos anos, a senhora Pipoca da Fé (uma tradução literal de seu pseudônimo) tem feito verdadeira fortuna com uma agência chamada Brain Reserve, que vende (entre aspas) o futuro para grandes empresas. Em 1991 ela lançou O Relatório Popcorn. Nele, apontou as principais tendências para a década. O estresse é a principal emoção psicossocial associada a uma ida ao supermercado, escreveu. Segundo ela, as pessoas preferiam ficar em casa. Que equívoco! Na década passada, as lojas se multiplicaram. No Brasil, por exemplo, mais de 80% dos alimentos foram comercializados em supermercados. E foi na década passada que trouxemos um belo exemplo norte-americano, as lojas de conveniência. E um dos grandes problemas das antevisões generalizadas é exatamente este, o de não contemplar peculiaridades.
Outra predição da senhora Faith Popcorn foi o encasulamento dos consumidores. No mundo orwelliano retratado pelo Brain Reserve, as famílias gastariam seu tempo enclausuradas em bunkers, assistindo a TV e vídeo. No Brasil, este vaticínio faz sentido - com a crescente violência a que assistimos em nossas metrópoles, a insegurança deixa os cidadãos ressabiados com as ruas. Mas nunca tantos americanos abandonaram o casulo para programas gastronômicos. Na década passada, pela primeira vez na historia, mais da metade dos 50 bilhôes de dólares consumidos com alimentos foram gastos com comida em restaurantes e cadeias de fast food.
O que torna previsões como essas perigosas - destaca um articulista da revista inglesa The Economist -, é que acabam revelando meias verdades. Formular e vender previsões é uma atividade menos arriscada (e mais lucrativa) do que usá-las para decisões estratégicas. Hoje soam estapafúrdias as previsões de que a TV não resistiria seis meses no ar ou de que as pessoas não iriam querer computador em casa. Sem comentários! Mas não esqueçamos: foram feitas por gente do ramo e, na época, levadas a sério.

No fundo, o fator decisivo para o sucesso dos negócios independe delas. O que é revolucionário irrompe, simplesmente. Um exemplo: Robert Lutz, da Chrysler, sempre preferiu não conceber produtos a partir de pesquisas com consumidores. Seria como olhar pelo espelho retrovisor. O segredo da organização não é prever o futuro, mas conceber uma organização que prosperará em um futuro que não pode ser previsto, sentencia o consultor e escritor Michael Hammer (autor de Reengenharia - Revolucionando a Empresa).
O resto é mera especulação, fica por conta da curiosidade. O ficcionista Arthur Clarke, de uma certa forma, antecipou o advento da internet ao prever que, por volta do ano 2000, desenvolveríamos uma grande biblioteca universal. Mas quanto à sua previsão de que, nessa época, os planetas estariam colonizados? Bem, até o término deste artigo a sonda com formato de aranha que os americanos despacharam para Marte não havia dado sinal de vida. Mas notícias recentes dão conta que já descobriram água por lá?
* Publicitário e Diretor de Marketing da ADVB-RS

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