Um engano eterno

Por Adão Oliveira Na secção “Perfil”, o Coletiva.Net trata da carreira de sucesso de Rogério Mendelski, um dos ícones da imprensa gaúcha. Rogério é …

Por Adão Oliveira
Na secção "Perfil", o Coletiva.Net trata da carreira de sucesso de Rogério Mendelski, um dos ícones da imprensa gaúcha.
Rogério é um dos jornalistas mais lúcidos de sua geração. Quando escrevia em jornal era conhecido por ter um texto leve, irônico, solto, mas crítico, sempre muito crítico. Por isso controvertido.
No rádio ele se consagrou ao oferecer aos ouvintes toda essa ironia. Foi um abraço!
O estilo Rogério Mendelski se tornou único no rádio. E o povo do Rio Grande, reconhecendo isso, lhe dá uma audiência incrível. Mesmo os que não concordam com suas idéias o ouvem. Na verdade, o que o Rogério diz no programa, ecoa pra todo o lado. Sua opinião é respeitadíssima pela metade do Rio Grande. A outra metade a despreza. Mas ouve? Ouve para morrer de raiva. É a glória!
Além de tudo isso, Rogério é dotado de uma memória fantástica.
E, por todo esse conceito, essa credibilidade que tem de seus leitores e ouvintes, Rogério Mendelski não pode errar. E? errou! Sua memória o traiu.
Mendelski atribui ao grande repórter Ricardo Kotscho, seu contemporâneo no jornal "O Estado de São Paulo", ter introduzido o jornalismo investigativo no Brasil com uma série de reportagens sobre as hoje conhecidas "mordomias" do governo. "Hoje temos até as câmaras escondidas, mas naquela época ele revirou o lixo dos ministros para saber como eram as coisas", disse Rogério. Não foi bem assim.
Foi o jornalista Fernando Barros, no início de 1976, o autor da primeira denúncia sobre mordomia no governo, com base num discurso do então deputado federal por Goiás, Henrique Santillo.
Numa sexta-feira, pela manhã, ao ler o Diário Oficial da União, Santillo ficou estarrecido com uma licitação para a compra de alimentos para a mansão do ministro do Trabalho do governo Geisel, o gaúcho Arnaldo Prietto.
A licitação previa a aquisição de uma quantidade enorme de alimentos para o ano inteiro, mas o deputado, ao usar a tribuna de um plenário vazio, completamente às moscas, disse que o ministro, a família e a criadagem iriam consumir "essa enorme quantidade de alimentos, em um mês".
O jornalista Fernando Barros, que "cobria" o ministério do Trabalho, aqui em Brasília, publicou a denúncia. Foi um escândalo!
A "Veja", com uma matéria assinada pela jornalista Eliane Catanhede, repercutiu intensamente o assunto.
A partir daí passaram a ser desmontadas as "mordomias" ministeriais que se constituíam de moradia, alimentação, segurança, empregados, transporte aéreo para familiares, ajudas de custos etc.
Rogério Mendelski, ao depor para o Coletiva.Net, voltou a enganar-se quando diz que foi Ricardo Kotscho quem revirou o lixo dos ministros, "para saber como eram as coisas". Também não foi!
Já no governo João Figueiredo, no início da década de 80, foi Guilherme Costa Manso, repórter da "Veja", em Brasília, quem teve essa brilhante idéia. Costa Manso vasculhou o lixo - entre outros - dos ministros Delfim Netto e Mário Andreazza, e escandalizou-se.
Numa matéria densa ele mostrou com fotos que os ministros consumiam - em dias normais - champanhes, caviar, etc. A reportagem repercutiu porque o Brasil vivia, naquele momento, mais uma de suas crises conjunturais. Devido a esta repercussão, Costa Manso teve a sua credencial cassada junto à presidência da República, lembra-me Adroaldo Streck.
Ricardo Kotscho, que eu considero um dos maiores repórteres do Brasil, não escreveu essas matérias, mas bem que poderia ter escrito. Elas o merecem.
Para curiosidade dos leitores, os dois competentes jornalistas já não exercem a profissão. Fernando Barros virou "restauranter", e Guilherme Costa Manso é proprietário da Massimo?s, badaladíssima padaria do Lago Sul, aqui em Brasília.
A minha intenção, ao resgatar esses fatos que fazem parte da história do jornalismo brasileiro, é tão somente mostrar que, por sua importância, pela credibilidade que tem junto a seu "distinto público", Rogério Mendelski não pode errar.
Um engano do Rogério é um engano eterno!
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