O que a comunicação organizacional ganha com o novo programa para jornalismo do Facebook?

Por Kadydja Albuquerque

Na última semana, o Facebook anunciou o seu mais novo programa de apoio ao jornalismo, que consiste em desenvolvimento de produtos, novos treinamentos e ferramentas para promover as práticas jornalísticas na rede e formar novos (e melhores) leitores digitais.
A empresa de Zuckerberg informou que o projeto Facebook para Jornalismo será construído em parceria com grandes veículos como Washington Post, Fox News e El País. As ferramentas atuais devem ser melhoradas para atender à imprensa, como o Live, 360 e o Instant Articles. Estes parceiros vão ajudar, ainda, na construção de novos formatos para "contação de histórias".
Além disso, parcerias com universidades vão garantir cursos que ajudem o jornalista a utilizar melhor o Facebook e ações de fomento às notícias locais e à mídia independente.
Este programa do Facebook surge também como uma resposta aos ataques no final do ano passado quando parte da imprensa e outras instituições norte-americanas atribuíram às notícias falsas no Facebook um peso de contribuição à eleição de Donald Trump para presidência dos Estados Unidos.
O Facebook até caminha em um projeto para ter maior controle em relação à publicação de notícias falas, mas este novo programa é uma boa alternativa para tornar a participação da imprensa mais presente na rede. Inclusive, o programa anuncia que um dos objetivos da parceria com educadores e pesquisadores da área é continuar os esforços para impedir a divulgação das notícias falsas na rede (news hoaxes).
Sob um ponto de vista otimista, o The Facebook Journalism Project ajuda a promover a circulação de informações, as boas práticas jornalísticas e até pode ser um começo naconscientização sobre o consumo e o compartilhamento de informações (embora isso demande um caminho bem mais audacioso e que envolva diversos outros atores).
Mas, finalmente, o que as assessorias de comunicação (ou imprensa) ganham com esse programa?
A melhoria das ferramentas como o Live beneficia não só os veículos tradicionais, mas qualquer usuário que utilize o recurso, e isso inclui as organizações. Vídeo é o formato que faz mais sucesso nas redes hoje. Um estudo da Cisco Forecast projetou que 69% do tráfego da Internet, em 2017, vai ser realizado em vídeos; a previsão para 2019 é de 80%.
De acordo com o Facebook, as pessoas tendem a comentar 10 vezes mais em posts do Facebook Live do que em outros vídeos. Ainda que com alguns problemas de transmissão, o Facebook Live precisa ser considerado dentro das estratégias de assessoria de imprensa, seja na transmissão de um evento do cliente para os seus públicos ou ainda, por exemplo, na negociação de cobertura desse evento pela imprensa.
Além disso, com o Facebook dando mais espaço para as matérias dos veículos nas timelines dos usuários, é possível ampliar a visibilidade da inserção dos clientes. Mas, para isso, é necessário que as estratégias de assessoria de imprensa se estendam para a rede social.
Um novo entendimento sobre as páginas dos veículos no Facebook
Este programa demonstra o quanto o Facebook reconhece a importância da presença dos veículos de comunicação em sua rede. Sendo assim, as organizações precisam encarar os perfis institucionais da imprensa, de jornalistas e de influenciadores como veículos de comunicação com potencial para repercutir o tema além dos canais tradicionais.
E esse entendimento está diretamente ligado às estratégias de assessoria de imprensa. Ao construir a estratégia de follow-up, por exemplo, o assessor de imprensa deve levar em consideração que a notícia do seu cliente pode ser postada tanto na versão impressa do jornal como em sua página no Facebook com milhares de seguidores. É uma forma de multiplicar a audiência daquela inserção e promover o engajamento sobre o tema de interesse do cliente.
Outra maneira é dando visibilidade aos clippings nas páginas institucionais dos clientes no Facebook, como já falei em outros artigos.
Parece óbvio, mas é algo que ainda está bem distante da realidade de muitas assessorias no Brasil. Contar com um programa que estimule a divulgação e o consumo de notícias na rede pode contribuir para que a comunicação organizacional valorize mais o direcionamento das ações de assessoria de imprensa para o ambiente digital das redes.

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