O que fiz com meu tempo

Por Marla Gass

Depois de formada jornalista, um dos projetos era fazer "frilas" - de vez em quando, retomar o contato com a profissão, com o texto, com as histórias. Uma amiga querida - e que, talvez, acredite mais em mim do que eu mesma - me pediu um artigo. Pauta super legal, tenho informações, dados e opiniões suficientes para ele. Prazo, ok.
E aí, a vida real atropela. E eu não dou conta. Ser funcionária, mãe, namorada-quase-morando-junto, dona de casa e esportista + fazer frila: não dei conta. Não dou conta.
"Ah, escrevo no feriado". Só esqueci de colocar o notebook na mala. Na quarta-feira de cinzas, tem uma guriazinha que passou o feriado longe querendo atenção. Na quinta-feira, depois do futebol, que desestressa e queima gordurinhas, tem filha e namorado jogando Imaginatrix e bem a fim de papo - e ainda tem lanche pra comer, roupa para lavar? Horários de almoço são consumidos em almoço com o chefe, ida ao supermercado ao lado da firma, uma passadinha no chaveiro.
O fim de semana chega. "Tá, de hoje não passa". Mas tem que rolar um desapego. Móveis serão instalados na semana e precisam de espaço para toda a função.
Chega a segunda-feira. Aquela coisa de sair do trabalho, buscar filha na escola enquanto pensa o que tem pra comer em casa. Abro meu e-mail no celular e está lá, esfregando na minha cara minha procrastinação e total falta de noção de prazo, a newsletter da Coletiva.net e a programação da semana da mulher. E aí bate aquela vontade de sumir de vergonha, de culpa, de pqp-que-que-eu-fiz-com-meu-tempo.
Marla Gass é jornalista.

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