Paradigmas da comunicação: precisamos reorganizar os fluxos e as relações

Por Ariane Xarão

Desde que a comunicação passou a ser compreendida como campo do conhecimento, estudos epistemológicos se preocuparam em descrever a trajetória evolutiva, os paradigmas estruturais, bem como as relações e fluxos estabelecidos entre emissão e recepção. Do modelo informacional ou matemático da década de 1940 para cá, aprendeu-se muito sobre como a comunicação se estabelece como processo e, com o advento da Internet, como as dinâmicas da sociedade em rede e a convergência digital restabeleceram as relações entre os sujeitos desse processo.
Ocorre que, com o desenvolvimento acelerado das tecnologias de informação e as consequentes mudanças no comportamento dos públicos-indivíduos, as relações de consumo se reorganizaram e passaram a integrar um estado de fluidez bastante avançado, de modo que, os meios de comunicação não podem ser mais considerados meras tecnologias ou ferramentas para atingir fins. Um meio diz respeito a um dispositivo que serve a uma relação de comunicação, para a qual são investidas operações de produção e recepção de sentidos.
A mídia tornou-se parte do tecido social e, também, uma instituição independente, num processo que afeta demais instituições, organizações e públicos-indivíduos, regulando relações, interações e interesses. Ela não é somente refletora dos domínios da sociedade, mas uma ambiência que condiciona o que reflete.
Nesse cenário, formatos e práticas comunicacionais nitidamente superam uma série de paradigmas pré-estabelecidos no campo do conhecimento em questão. Fala-se em relações que parecem privilegiar interação e individualidade ao mesmo tempo. E mais, a fragilidade dos contratos sociais existentes trazem novas perspectivas de diálogo a partir de conteúdos midiáticos, de modo que, muitos fluxos de sentidos estão postos em circulação, reestabelecendo assim, (novos) formatos, mediações e interlocuções nas relações entre instituições e públicos-indivíduos.
Porém, não se sabe de fato como isso tudo se organiza. Sabe-se apenas que a sociedade midiatizada movimenta e mobiliza as tradicionais dinâmicas relativas às relações e vínculos. Por exemplo: há muito tempo as ferramentas computacionais deixaram de ser apenas ferramentas. Elas evoluíram para serem espaços conversacionais e isso tudo quer dizer que a lógica midiática tem perpassado muitos campos sociais num processo conhecido por midiatização.
Possibilitadas pelas novas tecnologias, geram-se formas de sociabilidade, modificam-se antigas formas de relacionamento, criam-se situações diferenciadas para ação e interação, reestruturando as relações existentes entre as organizações e a sociedade, quer dizer: trata-se de uma ambiência que transpõe as características tecnológicas dos meios, interferindo intensamente nas formas de sociabilidade.
As práticas comunicacionais, que têm como suporte tecnologias digitais, trazem à tona uma discussão que desafia todos os interlocutores do processo a reverem seus papéis, e a comunicação, enquanto campo epistemológico, a reorganizar os fluxos e modelos que se formam a partir dessas novas relações.
Ariane Xarão é publicitária e pesquisadora, mestre em Comunicação Midiática, Mídias e Estratégias Comunicacionais.

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