O CONVIVER COM ELES

Por Iraguassu Farias, para Coletiva.net

Destino é destino. Filho de um profissional que atuou por 50 anos no meio jornalístico (Rádio, TV e Jornal), é de estranhar não ter seguido a carreira. Talvez pela frustração do primeiro vestibular, acabei na área de Gestão e do Direito.
Evidentemente que não é de mim que quero falar, muito menos das frustrações - que não são poucas, mas deles. Deles, jornalistas. E será, evidentemente, mera opinião. Nada de análises empiricamente sociológicas, ou de comportamentos politicamente corretos ou não. Só opinião e observação.
Dizia, então, que vivi uma infância privilegiada. Meu pai trazia todos os jornais quantos fossem com aquele carimbo em vermelho: CORTESIA. Rádio ligado o tempo todo. Flavio Alcaraz Gomes pela manhã, comentários esportivos ao longo do dia, e a avidez por saber o que acontecia perto e longe. Posso concluir que minha alfabetização foi muito facilitada por tudo isto. Sempre achei que meu pai detinha muito mais informações e ensinamentos que os próprios livros escolares. Claro que me refiro à língua portuguesa, à história e à geografia, por exemplo. Também me assombrava a análise política associada às próprias convicções dele.
Das lembranças mais remotas (porque com 14 anos eu vivia dentro de emissoras e redações), as idas à Censura Federal de então e ao ECAD da época. E ao forro improvisado de uma cabine de locução, com colchões e caixas de ovos, aquelas enrugadas e cheias de pontas. Certa feita, até participei da cobertura de uma Califórnia da Canção, que ocorria lá em Livramento (mas eu estava em Canoas, batendo uma colher numa panela).
E, hoje, por um destes acasos da vida, eis-me às voltas com jornalistas em grande parte do meu tempo. Dos mais experientes aos mais novinhos. Um amigo de 90 anos (sim, tenho-os) costuma dizer: "agora, tu andas no meio dos boateiros e fofoqueiros?".
Acho que tem mesmo muito jornalista fofoqueiro. Como acho que tem jornalista que não é jornalista (e aqui, tem os dois: o que diz ser, sem sê-lo, e o que titulou, mas esqueceu-se das aulas iniciais do curso).
É uma figura interessante este tal jornalista. Intuitivo. Farejador. Sempre ligado na tomada. Não liga pra hora. Quer dizer, nem sabe quantas horas o dia tem. E a maioria tem a suprema sabedoria de ter lado, mas não dizer qual é, porque seria trágico revelar. E tem um poder. Um poder imenso, que pode ser próprio ou por delegação, mas é poder. Poder de incensar, impulsionar, ou mesmo de derrubar, arrasar. Uma informação mal veiculada, por incompetência ou má-fé, pode acabar com uma vida. Sim, pode.
Na minha opinião, o 4º poder do qual este ser é dotado, joga-lhe sobre as costas enorme responsabilidade. E, neste sentido, minha atual experiência diária tem me feito muito bem. E tenho sorte, pois poderia estar rodeado de jornalistas inescrupulosos, a serviço de uma ideologia ou interesse comercial. Mas não. E como é bom vivenciar a todo o instante, todas as variáveis que envolvem a informação, que vira notícia e que está a um clique na tecla ENTER: ética, cidadania, trabalho, cuidado, preocupação, correção, justiça, equidade, qualidade. Falta mais um adjetivo? Penso que sim. Mas se eu não parar, posso representar, sem sê-lo,  aqueles jornalistas que assistimos todos os dias a serviço da bajulação, do incensamento, que estão na mídia, sempre a serviço do interesse político e comercial.
E como não é meu caso, fico tranquilo ao menos para homenagear estes profissionais, especialmente os que me rodeiam atualmente, e àqueles a quem venero, em vida ou in memorian.
A todos eles o meu reconhecimento. E que possam entender, quando critico, que talvez eu seja um espectro do que deveria ter sido e nunca fui. E que a culpa é só minha, por ter sido considerado inapto no primeiro vestibular para Comunicação Social.
Terá sido um acerto da comissão julgadora da Ufrgs? Certamente. Mas tive a sorte de ter ao meu lado um pai jornalista, que embora não esteja mais entre nós, está feliz porque continuo colorado, inclinado mais à esquerda politicamente, crendo em Deus e, agora, militando no Jornalismo.
E, ao homenageá-lo, e à minha filha, estendo a todos jornalistas que conheço ou não, meu abraço e honras.
E a vida é uma roda gigante, dá voltas? Eu fui inepto. Meu pai não fora. Minha filha também não é.
Mas a culpa é da UFRGS? acho.
Iraguassu Farias é sócio-diretor do portal Coletiva.net, respondendo pela área Comercial e de Relacionamento.

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