Para sempre jornalista

Por Marla Gass, para Coletiva.net

Era uma vez uma mocinha curiosa e tagarela, que adorava sujar os dedos folheando jornais. Acordava ouvindo emissoras AM no rádio-relógio - não, não era um celular berrando, que despertava as pessoas naquela época. A curiosidade pela notícia, por informação movia aquela pequena traça, devoradora de jornais e livros.
Aos 16 anos, chegou a hora da inscrição no vestibular - óbvio, para Jornalismo. No mesmo ano, durante a Feira do Livro de Porto Alegre, o Correio do Povo escolheu estudantes para uma oficina de Jornalismo, durante a feira. E a nossa mocinha foi selecionada. Ô faceirice. Durante uma semana, o grupo conheceu profissionais do jornal - a pauteira, o repórter, o editor, a fotógrafa, o diagramador - e produziu uma matéria, publicada na edição de domingo do jornal. Sexta-feira, 17h, e a tal mocinha voltava para a "redação" - uma das tantas tendas da Praça da Alfândega - após a última entrevista, com prazo para entregar o texto até as 18h. A pressa, a ansiedade, os dedos frenéticos no teclado, "vai dar tempo" porque a matéria já se costurava na cabeça. E deu tempo. Matéria entregue, editada e encaminhada para publicar. Os oficineiros acompanharam até o processo de impressão, no parque gráfico do Correio. Os exemplares saindo quentinhos da rotativa, com a matéria e o nome de cada um estampado. Foi muita emoção! E, com ela, a certeza: a mocinha seria jornalista!
Mas a vida tem seus próprios caminhos. Eu, aquela mocinha do começo, entrei no Jornalismo da Unisinos e concluí o curso pelo IPA, depois de bastante tempo. Fui a congressos, cursos, palestras, debates. Estagiei em assessorias de comunicação. Escrevi, escrevi, escrevi. Li, cobri eventos, fotografei, editei, apresentei, debati. A vontade de trabalhar em veículos veio, mas a fatura da faculdade vinha junto e o sonho de atuar no rádio ou em redações de jornal acabou ficando de lado. Passei em um concurso público, onde sigo até hoje, trabalhando como bancária.
Mesmo fora do roteiro que eu tinha planejado, o Jornalismo está presente. A newsletter da Coletiva, todos os dias no meu e-mail, me mantém atualizada do universo da Comunicação. Os debates cotidianos sobre a comunicação, o papel da imprensa, seus erros e acertos, acontecem todos os dias. Mas a prática dá saudade. Vez ou outra, um artigo ou uma matéria diminuem a essa saudade.
Uma parte curiosa, divertida até, da vida do jornalista-atuando-fora-do-jornalismo é tornar-se uma referência, no seu âmbito, sobre texto, expressão e comunicação. Seja como revisora oficial dos textos de colegas na firma, ou consultora para media training dos amigos, e até ghost writer do chefe, a gente se diverte. Os anos de assessoria de comunicação deixaram marcas. O repórter se faz presente a cada pesquisa ou entrevista com cliente. Cada matéria lida traz consigo a reflexão "como eu teria contado esta história?". A jornalista não morreu.
Quando perguntam minha profissão, a resposta é sempre igual: bancária e jornalista. Hoje, estou bancária. Mas eu sou jornalista. Com diploma e, apesar dos percalços, com orgulho.
*Marla Gass é bancária e jornalista - [email protected] 

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