Como ser visto na internet em meio a tanto conteúdo?

Por Flavia Gamonar

Há quinze anos não existia nada parecido com o Google como ele é hoje. Naquela época eu ainda fazia trabalhos escolares consultando livros, enciclopédias ou, no máximo, o site Cadê, que não era um buscador, mas um mero repositório de endereços catalogados de forma manual.
Não existia essa abundância de informação de hoje. Os celulares só faziam chamadas e logo passaram a enviar SMS. Não existia todo esse ruído. Aliás, não existia também porque em épocas de web 1.0 e 2.0, nós apenas consumíamos o que nos era imposto. Não podíamos comentar os conteúdos, não existiam diversidade, opções, nichos, dispositivos diferentes que nos permitissem ir ao quarto assistir algo super específico e que agradava apenas ao nosso gosto, enquanto todo o restante consumia outras opções.
De repente, passamos de um cenário de escassez para um cenário tão abundante que ficou difícil saber o que era bom e no que podíamos acreditar. Certos de que a única métrica que importava era a quantidade de acessos, sites passaram a se dedicar à criação de mais e mais conteúdo. E nesse meio surgiram as notícias falsas, que proliferaram pela internet e deixaram até os usuários mais experts confusos sobre o que é real ou não.
Estamos num momento então, em que produzir apenas mais um conteúdo, seja ele razoável, mediano ou repetido, não é o caminho. As pessoas têm cada vez mais ofertas competindo pela atenção delas e o tempo, sempre escasso, virou algo extremamente valioso.
De acordo com o Internet Live Stats de 17/04, são aproximadamente 8 mil tweets por segundo, 4.480 mil posts de blog por dia, 2 milhões e meio de e-mails enviados por segundo e 56 mil buscas realizadas no Google em um segundo.
Todo esse conteúdo, muitas vezes, parece formar uma barreira invisível que impede que cheguemos ao que realmente nos importa. E em tantas outras vezes, somos direcionados a consumir o que entendem que queremos ler ou que será melhor para nós, nos enfiando em uma bolha ideológica pautada pelos algoritmos das plataformas que usamos.
Martin Hilbert, um Doutor alemão em Comunicação, Economia e Ciências Sociais que investiga a disponibilidade de informação no mundo contemporâneo, comenta que, no passado, a referência de maior coleção de informação era a biblioteca do Congresso americano. Hoje a informação disponível no mundo chegou a tal nível que equivale à coleção dessa biblioteca por cada 15 pessoas . E esse número vem crescendo. Assustador!
Comparando a Pesquisa Brasileira de Mídia de 2016 com números de 2015 e 2014 temos algo que merece atenção. A confiança na informação diminuiu no on-line e aumentou no off-line. Ou seja, apesar de termos avançado no uso das ferramentas e plataformas digitais, de estarmos mais experts  no assunto, estamos regredindo de alguma forma, porque todo esse ambiente se tornou não confiável.
O conteúdo falso cresceu tanto que gigantes como Google e Facebook passaram a buscar alternativas para combater o que é falso, desenvolvendo métodos próprios, que passam por plugins, alertas e até checagem manual. Tentamos recorrer aos algoritmos para que eles detectar automaticamente o que era credível ou não. A linguagem humana, porém, é muito complexa. Separar o falso em meio ao verdadeiro tornou-se um grande desafio. Afinal, não é preto no branco. Não basta filtrar baseado em critérios que alguém definiu e dizer o que alguém deve ou não ler.
Foi aí que a checagem humana, editorial, voltou em cena. Surgiram agências especializadas em checagem de fatos, cujo trabalho é realizado de forma bastante manual em busca da apuração do que foi a aumentado ou não, por exemplo.
Distorcer informações não é um problema novo para a sociedade. Desde sempre estivemos expostos ao risco de confiar em algo que era mentira. Até mesmo nas conversas corriqueiras entre as pessoas no dia a dia estamos sujeitos a falsidades. Nunca se sabe se no meio de uma frase existe algo deturpado, tendencioso ou falso. O problema é que o digital ampliou isso. E como as mídias sociais possibilitam viralizar rapidamente uma publicação, nos pegamos várias vezes diante de conteúdo falso sendo levado adiante de um modo que ninguém consegue parar.
Tudo isso fez com que o tempo das pessoas se tornasse ainda mais valioso. Todas essas mídias guerreiam por nossa atenção e aí passamos a olhar apenas para aquilo que parecesse realmente fresco, inovador, relevante, credível, digno de nosso precioso tempo.
Já não basta mais abrir o editor de textos e escrever mais um artigo ou criar mais um vídeo. As mídias sociais e as pessoas estão saturadas deles. Um bom conteúdo ainda é capaz de gerar muitos negócios, educar mercados, tornar alguém uma referência em sua área, mas o modo como isso é feito precisa ser repensado, ou sua página será só mais uma perdida em meio a tudo isso.
A seguir, dicas práticas para a produção de conteúdos que realmente façam a diferença para seu público e realmente ajudem você ou seu negócio a gerar mais oportunidades, a ser visto em meio a tanta concorrência.


  1. Defina bem quem é seu público e entenda onde ele está: Com quem você quer falar? Que público é estratégico para você? Que perfil representa seu melhor tipo de cliente, aquele que você quer atrair? Ele usa a mídia em que você escolheu publicar um conteúdo?

  2. Entenda quais são as dúvidas, dores e objeções de seu público: Outro dia me perguntaram em uma palestra se seria legal produzir, para uma concessionária de rodovias, um post sobre o risco de morte ao dirigir embrigado. Eu sugeri, então, que usássemos o auto-completar do Google e juntos digitamos o termo "dirigir embrigado". Logo percebemos que os termos que mais apareciam associados ao alto volume de pesquisa eram "pena" e "crime" em relação ao fato de dirigir bêbado. Isso nos mostrou que faria mais sentido produzir conteúdo que falasse não apenas do risco de morte, mas também da pena e da multa a que estaria sujeito o motorista que fizesse aquilo. Ali tivemos um claro exemplo sobre o que interessava mais ao público ler. E para saber o que o seu público quer, é preciso analisar dados, pesquisar tendências e insights e analisar palavras-chave. Além disso, pense nas objeções de seu cliente. Elas nem sempre são claras. Alguém pode não comprar seu produto porque pensa que ele é mais caro do que é, por exemplo. Esta é uma objeção.

  3. Lembre-se de que seu público não é homogêneo: nem todo mundo sabe o mesmo sobre um determinado assunto. Ao produzir conteúdo lembre-se de que seu público tem níveis diferentes de conhecimento. Há pessoas que estão começando agora a ler sobre aquilo, enquanto outros já sabem quase tudo e precisam de uma informação mais profunda, densa, que as ajude a decidir uma compra, por exemplo.

  4. Analise dados a seu favor: dados de CRM, entrevistas, observações, acessos ao site e páginas de mídias sociais, tudo isso será útil para lhe ajudar a produzir conteúdo que faça sentido.

  5. Humanize seu conteúdo: isso inclui escrever de um jeito mais descontraído, ser mais real, porque a vida não é sempre perfeita e polida e porque do lado de lá existe outro ser humano consumindo seu conteúdo.

  6. Publique regularmente: não basta escrever um texto aqui e outra lá. Para formar uma audiência e obter resultados é preciso produzir conteúdo regularmente. Porém, não basta virar uma maquininha e deixar a qualidade cair.

  7. Seja credível: se a internet está cheia de conteúdo falso, não seja você mais um a produzir algo que deixa brechas. Cite fontes, seja cuidadoso com a informação que você leva adiante.

  8. Descubra mais sobre o que pode prejudicar sua estratégia: por melhor que seja seu conteúdo, existem diversas questões que podem influenciar o resultado de sua estratégia no dia a dia. O site em si, o modo como o texto foi formatado, o jeito da equipe abordar ou atender, a comunicação da empresa e de seus produtos, a demora na resposta?

  9. Pense na experiência do leitor: um texto difícil de ler faz as pessoas irem embora. A experiência precisa ser positiva, a leitura precisa ser feita de modo fácil em qualquer dispositivo, a fonte não pode ser muito clara ou pequena, as frases podem ser menores e o texto sempre melhor formatado. Tudo isso ajuda na experiência.


10.Não fique só no Facebook: diversifique as mídias que você usa para publicar conteúdo. Um erro bem frequente das pessoas é ficar postando em uma só, querendo apenas mais e mais seguidores. Se esquecem de que a internet não é o Facebook. Por isso, varie e aposte em um blog próprio para atrair visitas.

  1. Crie conteúdos evergreen: pense em conteúdos que sejam bons o ano todo. Aqueles que são muito factuais e pontuais são interessantes apenas por um curto período do ano. Da mesma forma, escrever sobre assuntos polêmicos poderá até lhe dar visualizações, mas não necessariamente vai gerar negócios ou criar uma imagem positiva sobre você.

  2. Crie conteúdo para promover sua imagem profissional também: lembre-se de cuidar também de sua imagem. Conteúdo pode ser poderoso também para seu marketing pessoal, para mostrar às pessoas sobre a área que você domina, em que é especialista. Mesmo que trabalhe em uma empresa hoje, não deixe de cuidar de sua imagem, de sua marca pessoal. Algo que está em alta é treinar os colaboradores da equipe para que todos produzam conteúdo, uma excelente forma de cada um debruçar-se no assunto que mais domina. Mesmo que não escreva muito bem, alguém pode revisar o texto por você. Ao publicá-lo em seu LinkedIn, por exemplo, se o texto é interessante de alguma forma para a empresa em que você trabalha, ele pode ser destacado pela marca para que mais pessoas leiam o "artigo que nosso colaborador escreveu". Isso será positivo não apenas para reforçar a imagem de referência na área da empresa, mas sobre você como profissional.


Flavia Gamonar é doutoranda em Mídia e Tecnologia, mestre em TV Digital e pesquisadora sobre a nova ecologia dos meios. É professora em cursos de pós-graduação na ESPM, na USC, no Senac e na Unimar.

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