O jornalismo tradicional já morreu

Por Claiton Selistre

Quando se vê uma informação de que "uma pessoa morreu", "um carro bateu", "um supermercado foi multado" e outras preciosidades semelhantes a conclusão é óbvia: o jornalismo tradicional, ensinado nas universidades e mesmo aqueles ensinados na prática, morreu e está sendo enterrado diariamente.
A imprecisão vem da informação em cima do muro por falta de alguém que apure os fatos e outros interesses, como não descontentar clientes. Na área política, então, é um acinte.
Exemplo de falta de apuração foi o acidente com uma moto no sábado, 29, na Beira-Mar, em Florianópolis, que matou uma caroneira e feriu gravemente o piloto, além de ter parado a cidade. As informações sobre as vítimas e o motivo do acidente só foram divulgados na segunda-feira, 31, porque não teve quem fosse atrás da informação no domingo, 30. Houve um racha mas ninguém procurou saber dos outros envolvidos. O piloto ficou no hospital mas ninguém foi até lá buscar dados sobre ele. Talvez hoje se saiba alguma coisa a mais, quase quatro dias depois do ocorrido.
Outro fato surpreendente: alguns colunistas da cidade estão sendo orientados internamente a só divulgarem notas sobre clientes. Se não é cliente não sai.  A leitura real, então, é a contrária: quase toda a informação é de interesse  comercial. Cada vez mais os colunistas estão sendo capturados para se envolverem em ações do marketing. Em troca fazem visitas grossas as atividades de apresentadores de eventos, bailes de debutantes, formaturas e outras ações vendidas, sem nenhum critério de seleção.
É um interesse de mão dupla: o jornalista é chamado por cuja empresa para promoções que não gostaria de ir, mas vai para não ficar ameaçado no emprego e em troca fatura a imagem em eventos, as vezes de segunda categoria. Pode-se dizer que uma mão lava outra e também é a prova de que a dignidade também tem preço.
Até onde vai isso? A decisão é de quem lê e os leitores estão começando a perceber que o jornalismo tradicional já morreu.
Claiton Selistre é jornalista.

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