45 reportagens que testemunharam a história

Por André Pereira O livro comemorativo de ZH "45 Reportagens que Fizeram História” é uma elogiada contribuição ao Jornalismo, sobretudo como registro histórico do período

Por André Pereira

O livro comemorativo de ZH "45 Reportagens que Fizeram História" é uma elogiada contribuição ao Jornalismo, sobretudo como registro histórico do período de 1964/2009 e instrumento de estudo, útil especialmente para alunos e professores de Comunicação, mas também para os profissionais já firmados, com carreiras consolidadas, porque reúne uma seleção muito interessante de textos jornalísticos com abordagens, estilos e técnicas diferenciadas. E são escritos, em geral, de reportagem pura mesmo, com o repórter cumprindo sua missão primordial de ir a campo buscar dados junto às fontes originais, ultrapassando os limites - e as facilidades - da internet e da telefonia.


Só por isso já se imporia a sugestão de leitura no meio da comunicação social. Mas a obra também é atrativa para o leitor em geral. Pois apesar da ausência de representativos trabalhos dos anos 70 e 80, compreensivelmente eliminados em uma seleção de mais de 200 textos que limitou-se ao numeral cronológico 45, eferveceu sob a fogueira das vaidades da redação atual e atendeu a critérios que podem ser discutíveis, mas não são dolosos, o livro oferece textos preciosos da Eliane Brum, do Nilson Mariano, do Moisés Mendes, do David Coimbra, entre outros dotados de penas avalizadas pelo chamado ?jornalismo literário?. E primorosas reportagens dos Carlos Albertos Kolecza e Wagner, Mauro Silveira, Marcelo Rech, Dione Kuhn, Ricardo Stefanelli e do mais jovem, Rodrigo Lopes, entre os demais merecidamente eleitos para o selecionado que faz justiça à virtude incontestável de ZH - de apostar na reportagem e no bom texto -, o que é reconhecido nacionalmente.


Falando especificamente em qualidade de texto, gostaria de ter relido, na coletânea, alguma criação da equipe de repórteres que incluía a Ivone Cassol e a Rosina Duarte, sob a chefia de Otília Riet e Betão Andreatta, na cobertura diferenciada do jornal nos primórdios do movimento dos sem-terras no Estado. E trabalhos mais antigos de Letânia Menezes, Sergio Capparelli, Beatriz Marocco, Paulinho Boa Nova e Pedro Maciel na época mais aguda da ditadura militar, quando a redação liderada por Victor Hugo Sperb, Waldir Zwetsch, Antonio Oliveira e João Aveline travava uma desgastante batalha diária também contra as censuras para poder publicar matérias decentes. Cito alguns colegas e já me arrependo da injustiça que cometo com outros, que esqueço. Mas aqui digito modesta opinião pessoal colhida de modo apressado e pontual, mais no âmbito de preferências pessoais e simpatias explícitas.


Não soa, entretanto, como singelo regalo a inclusão de um texto sobre a morte do papa católico João Paulo I, montado pelo diretor Carlos Fehlberg que, em uma madrugada insone, reproduziu dados da France Press recolhidos no aparelho de telex da redação.


Nem parece mera homenagem caseira à coluna mais lida de ZH a incursão bissexta à reportagem, em narrativa na primeira pessoa, do cronista Paulo Sant?Ana  (a única que fez na carreira, segundo ele diz, para autoproclamar sua genialidade), amparada na dupla condição privilegiada do passado como inspetor de Polícia e amigo da família de um jovem seqüestrado, que lhe abriu portas para promover a revelação de particularidades de um crime incomum à época.


Ambos acenam, sobretudo, como uma mensagem emblemática do vigor do gênero reportagem, independente das susceptibilidades deste inveterado repórter na melindrada defesa dos ?canetinhas? de carteirinha. 


Aos leitores de ZH, importa que foram agraciados com os dois espetaculares "furos", considerados pilares vitais do jornalismo competitivo.


Para nós, evidencia-se o recado de que os repórteres, seja quem forem, acabam passando e são esquecidos.


Já a reportagem, em sua missão instransferível não de fazer, mas de testemunhar, a história, a despeito de todas as previsões recorrentes do seu fim sempre iminente, é interminável.


SERVIÇO


O livro de 272 páginas já está disponível nas livrarias (RBS Publicações, R$ 31,90). Leitores de ZH podem adquirir ligando para 0800.051.3323 ou acessando www.zerohora.com/rbspublicacoes. O livro será entregue em casa. Assinantes de ZH, pelo mesmo serviço, podem encomendar o livro e recebê-lo também em casa pelo preço especial de R$ 24,90.

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