A caixa preta de Washington Olivetto

Por Paulo Tiaraju, para Coletiva.net

Vinte e cinco anos de convívio com a DPZ, no início na condição de sócio da filial gaúcha e, depois, como representante desta grife de propaganda, resultou, além da enorme admiração por conhecer em profundidade os valores objetivos e subjetivos da agência, uma autocensura inevitável: não se torna público os problemas internos da empresa que te representa.

A matéria 'No umbigo da Whashigtonlatria' (Folha 14/04/2018), de Mario Sergio Conti, foi como a mão que abre a represa. Foram muitos anos engolindo Washington Olivetto, o desleal. O curioso é que sua inerente deslealdade não é somente uma questão de caráter, é um traço de alienação que beira à demência. Quando ouviu de alguém que deveria ser focado em sua atividade focou 120% em si mesmo, e apagou o resto. Ao fazê-lo, apagou os mais elementares valores humanos de convivência civilizada, entre os quais o mais relevante deles: a ética. Será que apagou, ou nunca teve?

Olivetto traiu a confiança da DPZ, de forma grave. Valendo-se do livre trânsito junto aos clientes, armou, conspirou e seduziu o CEO da agência com promessas de poder e de grana. Afinal, ele era o Washington Olivetto. Juntos, dariam o golpe indispensável para fundar a WGGK, agência antecessora da WBrasil. Literalmente, ele fugiu da DPZ levando uma razoável fatia do faturamento da agência. Olivetto não traiu a boa fé do Zé das Pitangas. Traiu a confiança de Roberto Duailibi, de Fransec Petit, de José Zaragoza, nomes com respeitabilidade e prestígios internacionais. Jamais se saberá sobre os meandros pelos quais foi arquitetado o negócio proposto pelo businessman que Washington levou a tiracolo à Suíça. Seja quais foram os argumentos da abordagem, certamente foram revestidos por meias verdades e outros ingredientes maliciosos.

O narcisismo de Washington Olivetto é tão desproporcional que salta aos olhos algum complexo de vira-lata, pelo modo com que se esforça para mantê-lo oculto, a qualquer preço. Sua autobiografia é quase uma declaração disso. É notável que não se conhece. Fosse um cara emocionalmente mais seguro, não seria histérico.

Costuma alardear que ganhou 50 Leões em Cannes, entre os quais muitos de ouro. Não é verdade. Nenhum criativo ganha sozinho um Leão de Ouro em Cannes. Os Leões vêm coberto de impressões digitais do Grupo de Criação.  O exemplo mais eloquente de que o 'gênio dos gênios' sonega os créditos dos verdadeiros autores da ideia é o caso de "O primeiro soutien a gente nunca esquece", icônica campanha, criada para a Valisère, pelas talentosas Camila Franco e Rose Ferraz. A campanha estremeceu o mercado e gerou um enorme volume de prêmios, nos mais diversos concursos nacionais e internacionais. O publicitário de caráter duvidoso chamou para si a autoria da ideia e jamais deu os créditos para as duas redatoras.

Do mesmo modo como não tinha o hábito de creditar os nomes dos criativos, seus colegas foram responsáveis pela quantidade inacreditável de Leões que a DPZ conquistou em Cannes. São eles: Lawrence Klinger, Murilo Felisberto, Ilan Kow, Javier Talavera, Nizan Guanaes, Marcelo Serpa, Carlos Righi, Cipola, Carlos Silvério, Aurélio Juaneli, Francesc Petit, José Zaragoza, e Roberto Dualibi. Este último fomentando ideias e inspirando os seus grupos de criação.

Washington Olivetto, o ególatra, sabe o quanto prêmios são volúveis. Por isso este esforço maluco para revitalizá-los. E que, no balanço do tempo, talvez tenha uma vaga noção, segundo a qual uma prateleira repleta de prêmios e troféus se enche de poeira. Não é o suficiente para dar sentido para uma vida.

Paulo Tiaraju é publicitário.

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