A credibilidade dos veículos

Por Gabriel Bocorny Guidotti Considero uma afronta a falácia que a internet está acabando com a imprensa tradicional. O fim do papel, por exemplo, …

Por Gabriel Bocorny Guidotti
Considero uma afronta a falácia que a internet está acabando com a imprensa tradicional. O fim do papel, por exemplo, pode vir acontecer, mas por uma razão cultural e tecnológica, não intelectual. Cumpre aos veículos de comunicação remodelar seu planejamento de negócios, para a sua sobrevivência e para a sobrevivência informativa dos leitores. Advirto: se a fonte de conhecimento das pessoas provier de blogs e páginas pessoais, o futuro vai ser sombrio.
Todos os dias é a mesma coisa. Abro meu Facebook e recebo dezenas de compartilhamentos de amigos. Neste período em que a crise econômica e política é tangente, os assuntos refletem as polêmicas do Congresso ou do Planalto. Confesso ignorar todas as postagens dessa natureza, exceto se elas se originarem da imprensa. Entre milhares de páginas esparsas, opto por formar minha opinião absorvendo as notícias de jornais, rádios e TV´s que, durante décadas, construíram a sua credibilidade.
A internet, em razão da personalização, virou palco de abjetas mentiras. Se dependesse de meu Facebook, Aécio Neves teria sido eleito presidente do Brasil. Em desconformidade aos institutos de pesquisa, li, horas antes do segundo turno das eleições de 2014, levantamento suspeito que mostrava o tucano sete pontos à frente de Dilma Rousseff. Sem qualquer critério científico, o compartilhamento tinha a única finalidade de influenciar votos. Algum sucesso deve ter obtido.
Essa onda de factoides é preocupante. Todavia, na medida em que os jornais surgiram no contexto do publicismo - a era das opiniões políticas -, a internet passa por período semelhante de amadurecimento. A proporção, evidentemente, é maior, pois cada indivíduo no planeta pode ter acesso e propagar seus interesses, mesmo que estes não encontrem respaldo na realidade.
Não vai acontecer, mas sejamos fatalistas. Vamos supor que os veículos tradicionais um dia deixem de existir. Onde o público vai consumir notícias verídicas? Se a internet não evoluir, não tenho respostas. Torço que a migração da imprensa seja pacífica - e sustentável - para o meio digital.
Depender de milhões de blogs e de indivíduos sem formação em comunicação aumentaria a ignorância intelectual que se vê nas redes sociais. O jornalista é uma espécie de procurador, isto é, ele recebe uma procuração tácita para ser os olhos e ouvidos do público onde este não pode estar. Páginas pessoais não têm política editorial. Páginas pessoais, normalmente, não vão ao lugar do fato para realizar uma apuração confiável. Depender disso seria temerário.
Na contramão de muitos críticos, discordo da ideia de uma mídia golpista. Há profissionais associados a tendências políticas, é verdade, mas a construção social da notícia - o newsmaking - detém manipulações flagrantes. Alguém vai levantar a mão e dizer: e o jornalismo da Revista Veja? Em casos com esse, não é preciso se esforçar muito para compreender que a Revista deixou de atuar imparcialmente. Perdeu credibilidade, portanto.
Desse modo, creio que a entressafra dos veículos de comunicação seja uma febre passageira. De minha parte, assino vários jornais. Faço-o pelo prazer de ler as visões diferentes a respeito de um acontecimento. A maior parte delas plausíveis, construídas com base em reuniões de pauta e ingerências de jornalistas experientes, que conhecem as necessidades da audiência. Jornalismo de verdade se faz com pesquisa e qualidade na apuração. Tudo que for diferente disso coloca a informação em risco. Coloca, assim sendo, o leitor em risco.
Gabriel Bocorny Guidotti é bacharel em Direito e estudante de Jornalismo. Assina o blog http://gabrielguidotti.wordpress.com/
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