A crônica de um choque anunciado

Por Antonio de Oliveira Desde o incidente envolvendo Ruy e Sant"ana no Sala de Redação ? programa do qual tive a honra de ter …

Por Antonio de Oliveira

Desde o incidente envolvendo Ruy e Sant"ana no Sala de Redação - programa do qual tive a honra de ter sido um dos produtores décadas atrás, junto com meu amigo e poeta Luiz de Miranda, sob a batuta do Carlos Bastos - tenho encontrado muitas pessoas que conhecem a um ou ao outro, ou mesmo que não têm intimidade, mas os admiram. E, entre todos, as principais preocupações eram de saber sobre os detalhes das discussões (os que não tinham escutado o programa) e também sobre o que vai acontecer com eles.


O que a RBS vai fazer? Você pode perguntar "com eles?". Eu digo, não, "com ela, a RBS". Dois dos seus ícones principais em choque. Em público. A primeira ordem foi: "Vão descansar". Mas isto é uma saída só para dar tempo para respirar. Bater no Olívio é fácil. É só definir a pauta. E pronto.Passa-se quatro anos massacrando. Mas a atuação neste caso tem que ser diferente. Tem que ser muito bem pensada. É a única hora em que os grandes patrões não combinam. Se um dos profissionais sair, logo ofertas choverão para ele. Qualquer um dos dois.


E isto significa levar leitores, audiência de ouvintes e telespectadores e, acima de tudo, muitos R$s de comerciais junto. Esta é uma decisão que não serve, certamente. Mas como superar a crise? Já imaginaram uma campanha anunciando a volta dos dois ao Sala de Redação? Pois é, tem isto também. Significam muitos R$s que ficam e outros que virão. É preciso pensar em tudo. E para isto, as pessoas que têm que tomar a decisão devem, necessariamente, entender de jornalismo, marketing, publicidade e propaganda, etc.


Um jornalista precário, por exemplo, não pode ficar com esta decisão. Pode achar uma solução precária como seu registro. Tem que ser um craque. Ou uma equipe de craques. Mas há muita gente pensando outras bobagens. "Isto é coisa montada pela RBS. Eles não brigaram nada. É só onda para faturar sempre mais". Confesso que esta hipótese eu afasto. Eles não são atores para este tipo de papel mesquinho. São atores calejados. Conhecem há décadas estes palcos.


Sou daqueles felizardos que teve a oportunidade de trabalhar com os dois. E quem os conhece só pode perguntar: "Como é que demorou tanto tempo para acontecer ?" É o choque de astros bem previsível. A crônica de um choque anunciado. Não que eles tenham diferenças entre si. Não. Eles são é absolutamente diferentes um do outro. Dois seres humanos permanentemente inquietos, característica indispensável ao bom jornalista. Eu até diria que durou muito. Mas vamos fazer exercícios à procura de saídas para o impasse. Não serve como exemplo, devido às proporções infinitamente menores, mas certa vez enfrentei na redação de Zero Hora um conflito com um amigo. Daqueles de assustar. Aos gritos. Xingações. De deixar as pessoas em pânico, sem ter como agir, como interferir.


No dia seguinte cheguei à tarde na redação sem saber o que fazer, onde me meter. Como tinha me deixado avançar àquela situação? Estava, de certa forma, envergonhado. Triste. Uma discussão por bobagem. Se eu disser, vocês vão até rir.


O bar. Sim. O bar. Lá fui tomar mais um café para pensar. Talvez ouvir um conselho de alguém. Vi que alguém aproximava-se ao meu lado, no balcão, e, ao pé do meu ouvido, disse-me meio sussurrando: "A gente rompe, só quando briga com os inimigos; com os amigos, não, a gente faz as pazes". Nos abraçamos. Em silêncio. Os que viram, apenas sorriram. Tava de bom tamanho.


Fica aqui a sugestão para estes dois amigos, ídolos de tanta gente que, com certeza, não querem vê-los brigados. Tenho certeza que eles também não querem. Devem estar pensando em como sair desta situação vexatória para si e para a empresa. No ar, que horror! A outra saída é aquela que lembrei acima. Uma grande campanha para anunciar a volta dos dois garotos. Quem sabe numa véspera de Natal? Ou, quem sabe, o nosso sindicato convida os dois para um grande debate na Assembléia Legislativa com o tema: "Adesão e uso do cargo (os dois em benefício próprio)".


Ficam ai as sugestões.


Sem menosprezar os profissionais que dirigem a RBS, acho que não há lá ninguém capaz de fazer esta mediação. É um conflito que está além das paredes da empresa. Mexeu com o mais íntimo da paixão de cada um dos dois astros. Luis Fernando Verissimo? Scliar? Não. Não dá. Até porque? eu acho que os dois têm razão. Ou não, como diria Gilbertto Gil.


A única saída é chamar o Cândido Norberto. O que não dá é para depositar todas as saídas só na vontade de Deus, pois dos três lados, há um que não está nem ai para Ele.


OBS: Quando li a primeira nota do  Coletiva.net, mandei um e-mail cobrando a segunda parte, pois publicaram a notícia da briga, mas não tinham dado os motivos, as palavras ditas. O artigo do Adão Oliveira respondeu.

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