A história revisada

Por Luciano Martins Costa Deu na edição de terça-feira (29/11) da Folha de S.Paulo: o ex-presidente Fernando Collor de Mello nega ter recebido ajuda …

Por Luciano Martins Costa
Deu na edição de terça-feira (29/11) da Folha de S.Paulo: o ex-presidente Fernando Collor de Mello nega ter recebido ajuda do principal executivo da Rede Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, durante a campanha eleitoral de 1989.
Boni, como é conhecido, declarou em entrevista à Globo News, no sábado (26/11), que teria feito recomendações ao então candidato à Presidência antes do debate com seu oponente na época, o líder metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o ex-dirigente da Globo, Collor foi aconselhado a tirar a gravata, passar glicerina no rosto para simular transpiração e colocar sobre a bancada do debate uma pilha de pastas com papéis vazios, para simular dossiês que poderiam ser usados durante o confronto.
Segundo Collor, nada disso aconteceu. Ele negou também que sua assessoria tivesse pedido ajuda ao então chefão da emissora. "Nunca pedi a ninguém para falar com o Boni, meu contato era direto com o doutor Roberto", afirma o ex-presidente, referindo-se a sua relação com o falecido controlador do grupo Globo.
Contexto histórico
Collor nega que tenha havido uma "produção" da Globo favorável a si no debate e afirma que as pastas foram levadas por ele mesmo e continham números da economia, que não chegou a usar no confronto com Lula.
Também é citado na reportagem da Folha o atual diretor da Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel, que não se diz surpreso com a declaração de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho. De fato, segundo Kamel, Roberto Marinho orientou Boni a auxiliar Fernando Collor para o debate antes do segundo turno das eleições, e que o episódio, se era factível no contexto histórico da época, hoje seria impossível na Globo.
O executivo da emissora não explica se o histórico de interferências da emissora em fatos políticos importantes era prática pessoal de seu fundador, Roberto Marinho, rejeitada pela atual direção do grupo. O caso mais rumoroso refere-se exatamente à campanha de 1989, vencida por Fernando Collor no segundo turno, mas a lista é grande.
O fato é que a divergência pública entre Boni e Collor confere certa verossimilhança à teoria segundo a qual a Rede Globo sempre manipulou informações durante disputas eleitorais para favorecer seus candidatos preferidos.
Ali Kamel também não esclarece por que o contexto histórico impediria, hoje em dia, manipulações ou noticiários tendenciosos. A Globo resolveu abdicar de influenciar a política, ou apenas passou a adotar um estilo mais discreto?

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