A imprensa que eu vi na Alemanha

Por Danilo Ucha Ao contrário do Brasil, onde todas as grandes empresas de comunicação estão em crise, em conseqüência da elevação dos custos e …

Por Danilo Ucha
Ao contrário do Brasil, onde todas as grandes empresas de comunicação estão em crise, em conseqüência da elevação dos custos e da diminuição da receita pela queda dos investimentos em publicidade e das vendas de exemplares, a indústria editorial alemã vive um momento de crescimento nacional e expansão internacional.
Os 355 jornais diários na Alemanha vendem 24,6 milhões de exemplares/dia. Eles são elaborados por 135 redações independentes. Há cerca de 230 emissoras de rádio e 30 canais de tevê. Em média, os alemães maiores de 14 anos dedicam mais de 5,5 horas/dia para ler jornais (30 minutos), ouvir rádio (2,5 horas) ou assistir a tevê (2,5h).
Uma de suas maiores casas de publicações, a Gruner + Jahr AG, que é a número 2 do mundo em revistas e a número 1 da Europa, publica 100 títulos no mundo todo, atuando em 14 países. Segundo seu diretor Martin Kotthaus, tem intenção de continuar crescendo para aumentar o faturamento anual de US$ 3 bilhões, que hoje provém 38% da Alemanha, 32% dos Estados Unidos e 30% da Europa e China. "Queremos ser os primeiros ou os segundos do mundo - disse Kotthaus, em seu escritório, no belo prédio da empresa em Hamburgo - e entrar em todas as mídias, embora com cautela em algumas delas, como tevê e internet, porque são caras e nem sempre dão dinheiro. O rádio e o telefone celular para transmitir imagens, notícias e sons vão dar muito dinheiro. Todos têm que pagar para receber conteúdo pelo celular, enquanto na internet é gratuito. O que a internet tem auxiliado é aumentar, sem custos, as assinaturas de jornais e revistas. As nossas assinaturas vêm 20% pela internet."
Os três principais mercados da Gruner + Jahr são Alemanha, Estados Unidos e Europa. O grupo está em quinto lugar na venda de revistas nos Estados Unidos e pretende chegar ao segundo, em 2002, segundo Kotthaus. A empresa acompanha as discussões sobre a participação de capital estrangeiro nas empresas brasileiras de mídia, mas acha o percentual de 30%, que seria permitido, muito baixo.
A DPA (Deutsche Presse-Agentur GmbH), agência alemã de notícias, mantida por uma cooperativa de jornais, também acredita num bom momento do jornalismo no país. Tanto assim que, além de fazer cobertura dos acontecimentos na Alemanha, para os jornais locais e para o exterior, mantém correspondentes em países que vão da Albânia (Tirana) até o Zimbabwe (Harare), segundo informou, em Hamburgo, Esteban Bayer, do Serviço Internacional em Espanhol.
O fortalecimento militar da Europa, tendência ineludível de criar uma alternativa de poder diante dos Estados Unidos, está sendo acompanhado pelo fortalecimento da mídia. Outro gigante da mídia alemã, o Grupo Axel Springer Verlag, também tem grandes projetos de crescimento. Já possui jornais e revistas na Alemanha, na Hungria, na França, na Espanha e na Polônia. Na Alemanha, tem dois exemplos de sucesso fantástico, o Bild, com 4,3 milhões de exemplares vendidos por dia, e o Bild am Sonntag, que circula aos domingos, com venda de 2,4 milhões de exemplares por edição.
Florian Nehm diz que a empresa não pára de pensar em projetos novos. Quando sentiu que os computadores estavam tomando conta dos escritórios e residências, lançou duas revistas sobre o assunto. Uma vende 997 mil exemplares e a outra 571 mil. Um dos seus jornais de mais prestígio é o Berliner Morgenpost, com 171 mil exemplares diários.
O Grupo Axel Springer, em determinado momento do passado, foi acusado de ser de direita, principalmente pela posição equivocada em 1968, quando ficou contra o movimento dos jovens, mas superou esta situação e continua crescendo. "As ideologias passaram", diz Florian Nehm, mas a empresa gasta dinheiro e esforços em campanhas politicamente corretas para manter seu prestígio com a população. Cuida dos homens da Escandinávia e do Canadá que fornecem o papel, preserva as árvores e construiu um prédio de aço e vidro, transparente, no centro de Hamburgo, através do qual as pessoas passam de uma rua para outra. Também podem fazer suas refeições ou beber uma cerveja nas mesmas mesas usadas pelos jornalistas. Tudo isso para mostrar transparência e abertura à sociedade.
A internet ainda é vista com precaução pela maioria dos grandes grupos de comunicação da Alemanha. Todos estão fazendo investimentos na nova mídia (há 176 jornais com homepage), mas Götz Hamann, do importante jornal semanário Diet Zeit, com redação em Hamburgo, concorda com seus colegas Kotthaus e Nehm que ainda não foi possível transformar a internet em negócio. Trata-se de um meio fantástico de comunicação, mas não dá dinheiro.
Um pouco diferente pensa o jovem Peter Schumacher, do portal Faz.Net, criado há dois anos pelo importante jornal Frankfurter Allgemeine, de Frankfurt, e que funciona com 32 redatores e seis editores. Apesar de novo, o serviço registra oito milhões de páginas impressas por mês e cerca de dois milhões de visitantes. Mas ainda não dá dinheiro! "Investir na internet - diz Schumacher - é uma decisão estratégica para estar presente em todos os meios. Tenho certeza que, dentro de cinco anos, todos os meios estarão integrados e este é o futuro. Se sairá melhor quem tiver conteúdo e conhecimento de como fazer a integração. Os jornais não vão morrer, mas precisam de novos canais."
Cláudia Bröll é Editora de Economia do Frankfurter Allgemeine (400 mil exemplares diários) e, embora prefira o jornal impresso, admite que a associação do veículo papel com internet é uma exigência dos leitores. O segundo maior jornal da Alemanha, o Frankfurter Allgemeine possui 600 jornalistas, sendo 40 na área de economia, e paga salários que vão dos 2.500 marcos (R$ 2.875,00), para iniciantes, até DM 10.500 (R$ 12.075,00), para editores. Há uma remuneração extra interessante: a partir do primeiro ano de trabalho, cada jornalista ganha um carro e a gasolina da empresa.
* O jornalista Danilo Ucha é diretor do Jornal da Noite
( [email protected])

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