A Internet pode decidir as eleições americanas

Por Antonio Brasil* As redes de TV americanas decidiram diminuir consideravelmente o tempo dedicado à cobertura ao vivo da Convenção do Partido Democrata. Baseados …

Por Antonio Brasil*
As redes de TV americanas decidiram diminuir consideravelmente o tempo dedicado à cobertura ao vivo da Convenção do Partido Democrata. Baseados em pesquisas que provam qualquer coisa, os novos executivos de TV resolveram que o público médio americano não estaria mais interessado em política no horário nobre. O público de TV aberta prefere entretenimento e todos os tipos de "baixarias" que ainda proporcionam bons lucros. A cada dia, a TV aberta confirma uma tendência a ser um mero repositório de programas baratos e novas formas de "infotainment" - noticiários leves que não dizem nada e priorizam o "entretenimento" dos telespectadores. Crime pode. Política e informação de qualidade? nem pensar.
Como todos os meios de comunicação de massa, a TV aberta luta para "sobreviver". Tem custos altíssimos, perde verbas publicitárias para os novos meios, não consegue definir uma programação de sucesso, a audiência qualificada diminui e nesse cenário, prossegue em ritmo acelerado rumo ao desastre que nos parece inevitável.
Convenção dos blogueiros
Hoje, quem deseja informação atualizada e de qualidade procura a Internet. E dentro da Internet, o grande sucesso têm sido os jornalistas blogueiros.
A Convenção do Partido Democrata teve a participação de aproximadamente 5 mil delegados e cerca de 15.000, vou repetir, 15.000 jornalistas. Desses jornalistas, pela primeira vez na história das convenções americanas, uma parcela considerável era formada por jornalistas blogueiros.
Eles fazem parte de uma nova e espetacular tendência do jornalismo segmentado. Escrevem para um público pequeno e específico. O jornalismo de massa, impessoal e generalista, assim como os meios de comunicação de massa podem estar com os dias contados. Muitos dos jornalistas "blogueiros" conhecem seu público quase que individualmente, por nome. Ele se comunica com o seu público com uma nova linguagem multimídia ainda mais "personalizada", coloquial e diferenciada. Eles utilizam todos meios para criar uma nova forma de comunicação.
Jornalismo digital é jornalismo nanico
Telefones celulares com câmeras digitais sofisticadas transmitem tudo a vivo e a cores por um custo baixíssimo. Esses jornalistas não têm necessariamente que priorizar o tempo e a competição. Eles reinventam um jornalismo "sensual", quase "solitário", com público cativo. Um novo jornalismo mais "ecológico", nanico, voltado para um público com interesses específicos nos grandes eventos. Um público cansado de ambições gigantescas, promessas não cumpridas e muitas decepções com os grandes veículos de informação. Os jornalistas blogueiros se tornam uma alternativa digital às grandes generalizações, ideologias e pouquíssimas informações. Sinal de "novos tempos" onde o individuo não aceita mais ser tratado como mero consumidor de notícias, "massa" a ser manipulada ou índice de audiência a ser aferido. Mas para quem prefere viver no passado e insiste nos velhos modelos e soluções, é bom lembrar que uma coisa, não substitui a outra. A grande mídia pode até sobreviver. Mas deixa de ser única e hegemônica. Criam-se alternativas para quem não está satisfeito.
Ontem, debates na TV. Hoje, blogs na Internet
Obviamente, muitos jornalistas e políticos resistem às novas tendências e tecnologias e se apegam às velhas táticas do passado. Acreditam no poder supremo dos meios de comunicação de massa, apostam tudo na TV e arriscam a repetir erros do passado.
Em 1960, um novo meio de comunicação de massa, a televisão ainda engatinhava. Não tinha desenvolvido uma linguagem definida própria, e lutava contra a hegemonia da imprensa e do rádio em tempos ferozes de eleição. Mas foi um debate transmitido pela primeira vez "ao vivo" pela TV que se tornou o fator decisivo na eleição de um jovem e inexperiente candidato, o futuro presidente John Kennnedy. Nixon era um candidato experiente, sabia tudo de política, mas não percebeu o poder das imagens e do novo meio de comunicação para decidir uma eleição "apertada".
Em 2004, as redes de TVs americanas decidiram que as convenções de partidos políticos não passam de "não eventos" publicitários. Não há notícias novas. Tudo já está decidido com antecedência pelos produtores de Hollywood contratados pelos novos donos da política, os marqueteiros.Eles também resolveram impor limites ao trabalho dos jornalistas das redes de TV e, principalmente, a suas "prima donas", os poderosos âncoras dos telejornais noturnos. Peter Jennings, da rede ABC foi o primeiro a apostar no futuro. Resolveu transmitir a convenção pelo novo canal de notícias pela Internet, o ABC Now. Para o velho Tom Brokaw, "âncora" da emissora líder, a NBC, Peter Jennings deve ter "enlouquecido". Declarou com muita ironia que o seu "competidor" estava trabalhando tanto para tão poucos. Segundo Tom Brokaw, falar na Internet seria como falar "ao vento".
Burros demais!
Tsc, Tsc, Tsc. A História tem sido muito cruel com aqueles que menosprezam o poder das novas tecnologias e, principalmente o poder das novas idéias.
Com esse tipo de raciocínio, não é a toa que o público se afasta ainda mais dos noticiários pela TV e da política. As convenções políticas americanas não possuem o mesmo apelo do passado. São eventos ultrapassados, longos, chatos e previsíveis. Mas o interesse pela política, a participação em eleições ainda é fundamental para a preservação da democracia. Para o público da TV aberta, a política é mero consumo, comportamento passivo e manipulação. Para o público da Internet, jornalismo é uma nova forma comunicação segmentada, interatividade e? mobilização.
As próximas eleições americanas serão de importância vital para o futuro dos EUA e de todo o nosso planeta. Menos de 50% dos eleitores americanos assistem muita TV e não se interessam mais em votar. Eles não acreditam em mudanças. Como já diziam os nossos Titãs, "A TV nos fez burro demais, pensamos como os animais"!
As próximas eleições americanas podem ser diferentes. Elas podem ser decididas pela primeira vez, por um novo meio de comunicação totalmente diferente de tudo que jamais conhecemos. Quem viver, verá!
* Antonio Brasil é jornalista.
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