A verdadeira tragédia da Varig

Por Roberto Andrade É curioso ver algumas opiniões sobre este final melancólico da Varig. E, principalmente, sobre esta derradeira venda do único pedaço da …

Por Roberto Andrade

É curioso ver algumas opiniões sobre este final melancólico da Varig. E, principalmente, sobre esta derradeira venda do único pedaço da companhia que não estava podre para sua ex-subsidiária Varig Log, hoje controlada pelo fundo americano Matlin Patterson e misteriosos investidores brasileiros.


Vimos acontecer o que já era previsto por qualquer pessoa com um mínimo de bom senso: a Varig quebrou. De fato e de direito. Os novos donos já avisaram que dos 10 mil empregados apenas 1.800 vão continuar trabalhando. E mesmo assim, após passarem por um processo de demissão da velha Varig, que continua existindo, sabe-se lá para que. Tenho a impressão que em breve saberemos.


É trágica a situação dos mais de 8 mil funcionários deixados de lado neste novo arranjo. São trabalhadores que estavam habituados a atuar em uma empresa que lhes dava todas as regalias possíveis, cumprindo deveres e atendendo conquistas corporativas históricas, que garantiam muitas vezes bons salários e vantagens extensivas a todos os familiares. A mais comum delas viajar quase de graça pelo Brasil e pelo mundo.


Hoje estão todos desempregados. Pessoal de terra, tripulantes e, o mais sintomático, comandantes, o topo da carreira na aviação civil, profissionais que durante anos estiveram no roll dos mais bem pagos do Brasil, com salários acima dos R$ 20 mil por mês.


A Varig faliu por incompetência pura de todos que lá trabalhavam. Gestores irresponsáveis, funcionários equivocados e idiotizados por uma idéia obtusa de que a "nossa Varig" jamais quebraria. E um bando de oportunistas, pararasitas que se colocavam ora como fornecedores, ora como conselheiros, ora como diretores, mas que de fato agiram como vampiros sugando os cofres da empresa. Estes vocês ainda encontram circulando feito baratas tontas dentro da decadente Fundação Rubem Berta. Não se deram conta que não há mais o que tirar da Varig. A fonte secou.


O governo, neste episódio todo, agiu de forma medíocre, jogando um jogo de empurra que permitiu a criação de suspeitas sobre as reais intenções dos seus interlocutores. Aliás, não vamos falar em governo e sim em governos. FHC também empurrou com a barriga o problema da Varig e negligenciou uma vitoriosa ação de reparação da companhia contra o congelamento das tarifas no Plano Cruzado, invenção maluca de outro governo, o de José Sarney. Esta ação, hoje, representa mais de R$ 4 bilhões.


Na verdade vemos na Varig o estertor de uma mentalidade falida, tanto da área pública como da iniciativa privada. A companhia virou o ícone maior de uma situação que, recentemente, vimos ocorrer com outras grandes empresas, poderosos bancos, financeiras, planos de saúde e grupos que não se modernizaram, não se prepararam para atuar em um mercado competitivo, moderno e arrojado.


Como sempre, quem leva a pior são as pessoas. Esta é a lógica terceiro-mundista da "inteligência" brasileira. Vão até as últimas conseqüências com suas gestões incompetentes, muitas vezes fraudulentas e invariavelmente impunes. E os trabalhadores ficam à mercê da sorte, tendo que recomeçar do zero suas vidas, reposicionar do nada seus sonhos e esperanças. E o pior, acreditar que na próxima empresa onde forem trabalhar isto não voltará a acontecer.

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