Adapte-se, Lola, adapte-se

Por Marcelo Pacheco, para Coletiva.net

Charles Darwin entendeu há muito tempo o que hoje em dia vivemos na prática no mundo empresarial: "não são as espécies mais fortes que sobrevivem nem as mais inteligentes e, sim, as que tem maior capacidade de se adaptar à mudança". Vivemos em um tempo de transformações frenéticas, que afetam todo o mercado e, também a indústria da comunicação.

Clientes, agências e empresas de mídia estão diante de um desafio que pode mudar o curso de suas histórias, e é aí que eu acredito que Darwin acertou em cheio. Em um ambiente VUCA - do inglês, volátil, incerto, complexo e ambíguo -, nada do que você tenha feito em um passado vencedor pode garantir o seu sucesso futuro. A regra agora é adaptar-se e mudar quando isso for necessário.

Do ponto de vista de uma empresa de comunicação, o que estamos aprendendo é olhar a partir da perspectiva dos nossos clientes. O que parece uma mudança semântica simples na construção do nosso objetivo - o foco DOS nossos clientes e não o foco NOS nossos clientes -, por outro lado, muda radicalmente o jeito como nos relacionamos com o público e com o mercado. O que nossos consumidores e parceiros comerciais almejam, vivenciam e projetam em seus ambientes é o que temos que entender em profundidade e com proximidade. Não basta focar neles e não entender o mundo e os desafios em que eles estão inseridos. Temos que ver o que eles veem. Sentir o que eles sentem e, só aí, poderemos ajudar a suprir suas necessidades.

Tendo vivido os últimos 20 anos trabalhando em empresas de comunicação. Pude ver organizações muito vencedoras sendo atropeladas pela sua arrogância e pela incapacidade de ver o óbvio, que o mundo mudou e que era necessário se adaptar a ele. Os celulares mudaram a perspectiva de tudo. Qualquer ser humano pode ter acesso a qualquer notícia em tempo real com um device que está ao acesso da nossa mão 24 horas por dia. Esquecemos nossa carteira em casa, mas não saímos sem celular. Empresas de comunicação precisam entender que a informação é cada vez mais compartilhada. Antigamente muitas empresas ditavam os rumos, sem ouvir seus consumidores. Hoje em dia, os mesmos consumidores também são fonte de informação. Escreva um texto mais ácido e, em segundos, já tem gente falando sobre ele nas redes sociais. Sabemos que esse equilíbrio não é perfeito - nem preciso citar a quantidade de notícias falsas no mundo. É aí que está a oportunidade. Gere credibilidade, não engane seus consumidores, pois eles têm muitas formas de verificar se suas ações são realmente autênticas.

O mesmo princípio vale para qualquer empresa. Crie um produto sem propósito e rapidamente veja todo o seu esforço e investimento se esvair em dias. Não gaste tempo nem recursos tentando agradar todo mundo. Gaste tempo tentando entender o que o mundo perde se sua empresa deixar de existir. Busque pela sua autenticidade. No mundo atual as verdades estão mais evidentes.

Neste exato momento em que escrevo este texto, em algum lugar do planeta, alguém começou uma startup que pode acabar com a sua empresa. Corra, ela é mais rápida que você, tem menos custos, investe melhor e, o que é pior, talvez nem esteja mirando o seu segmento, mas vai passar por cima de você para atingir seus objetivos. Quem leu o livro "ELON", que fala sobre Elon Musk, o criador da Tesla, Space X e outras empresas, vai entender do que estou falando. Ele não mirava a indústria automobilística nem a indústria espacial, mas essas duas estão na rota de seu caminho para levar pessoas a Marte e, por conta disso, entrou nesses segmentos. A grande lição é que ele viu o mundo com outra perspectiva e, assim, abalou todo o status quo instalado.

Caro amigo, portanto, não gaste tempo tentando agradar todo mundo.

Gaste tempo tentando entender o que o mundo perde se você não existir.

Marcelo Pacheco é vice-presidente de Mercado do Grupo RBS.

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