Amém?

Por Rafael Soares* Nota no site Coletiva.Net dá conta que a RBS TV, afiliada da Globo no Sul e um dos maiores grupos de …

Por Rafael Soares*
Nota no site Coletiva.Net dá conta que a RBS TV, afiliada da Globo no Sul e um dos maiores grupos de mídia do país, e a TV Guaíba, da rede Caldas Júnior (a segunda no RS), estão em pé-de-guerra pelo direito de realizar o último debate televisivo com os candidatos de Porto Alegre, na sexta-feira. A Guaíba reclama que já havia feito reserva da data em maio; a RBS, que depende da Globo para agendar os debates - em uma transmissão nacional, como de praxe - e não possui outra data. Esta briga, que até agora prossegue sem solução, promete. Mas vejamos bem o por quê.
Para um dos executivos da Guaíba, Carlos Ribeiro, está em jogo "o fato jornalístico de realizar o último debate da campanha". Acredito que o buraco seja um pouco mais embaixo. Uma reunião ontem (terça-feira), agendada com as coordenações de campanha dos candidatos, não conseguiu dirimir o impasse. Das emissoras da capital gaúcha, apenas as duas redes ainda não promoveram o debate no segundo turno. A Guaíba propôs realizar uma transmissão conjunta, com um mediador de cada emissora, sob um cenário neutro. O jornalista Afonso Motta, da RBS, rejeitou a idéia, por ferir o padrão das demais transmissões da Globo. Uma das candidaturas ainda propôs realizar dois encontros na sexta-feira, primeiro no Guaíba, depois (fechando o horário com a rede nacional) na RBS. Nada feito, para deixar de cabelos em pé as equipes dos candidatos.
Ora, entende-se a posição dos dois lados. A RBS tem de obedecer às regras da todo-poderosa; a Guaíba - que não responde a ninguém - quer manter a sua programação original. As condições da dita "reserva de data" da Guaíba não foram confirmadas nem pelo TRE, nem pela própria emissora. Foi feito um contato com as duas partes, que silenciaram. Não sei se cabe ao TRE ou a algum outro órgão regulamentar este tipo de ação da imprensa. As duas coordenações de campanha já disseram: estão dispostos a comparecer aos dois debates se for o caso, só que, claro, não há como estar em dois lugares ao mesmo tempo.
Na verdade, o que está em jogo nesta queda-de-braço é a posição do resto das empresas de comunicação frente à Globo. A Caldas Júnior, que nos áureos tempos de Breno Caldas resistiu até às investidas de Assis Chateaubriand, não quer se curvar ao poderio da empresa dos Marinho, que manda e desmanda na mídia brasileira respaldada pelo "exército" constituído pelo seu poderio financeiro - fácil quando se detém uma fatia de 80% dos investimentos em publicidade nos meios de comunicação no Brasil. Já a RBS, que vem alçando vôos mais altos desde a chegada de Pedro Parente, re-organizando sua estrutura, abrindo capital, crescendo o olho para além das fronteiras da região sul, não precisa e não quer, de forma alguma, um "desconforto" com a todo-poderosa nesta hora. Especialmente se considerarmos que esta eleição em Porto Alegre - mais tradicional reduto do PT, de Lula, o Presidente da República - talvez só perca para a de São Paulo nas atrações deste segundo turno.
A briga é boa. Lembram da história da aldeia gaulesa de Asterix contra os todo-poderosos romanos? Vale fazer um paralelo. A RBS já começou a veicular as chamadas do debate - sexta-feira, 22h. A Guaíba? Bom, veremos se ela tem uma poção mágica para salvá-la.
* Rafael Soares é jornalista.
[email protected]

Comentários