Antes mesmo do voto, TV aberta já saiu derrotada nas eleições

Por Andrei Kampff, para Coletiva.net

A revolução digital atropela até especialistas. A imensa maioria foi pega de surpresa pela força gigantesca que as redes sociais mostraram nesse processo eleitoral. Alguns até desconfiavam que a mídia tradicional perderia um pouco do poder que sempre teve. Mas nem foi preciso esperar pela voz das urnas para já se saber qual foi o maior derrotado nesse processo eleitoral brasileiro: a televisão.

Depois de buscar alianças para ter mais espaço na propaganda eleitoral, de investimento pesado para produzir conteúdo de qualidade, de meses de campanha e esperança de transformar tudo isso em voto, o que se viu foi a confirmação de algo que já se vive no dia a dia do jornalismo e da produção de conteúdo: uma perda diária, permanente e sem volta, da TV aberta como protagonista na formação da opinião pública nacional.

A TV aberta deixou de nadar soberana como a detentora do monopólio da informação coletiva. E esse é um caminho sem volta.

A TV tradicional não é mais onipotente na construção do imaginário coletivo. Ela, que nos últimos tempos, via as redes sociais repercutirem os assuntos 'espelhados' nas grades dos telejornais, hoje se vê tendo que olhar para a internet e o que está repercutindo por lá para definir uma estratégia e 'paginar' seus programas.

A eleição simplesmente refletiu o que já está circulando pela mão e pelos olhos de todos. O STREAMING (tecnologia de transmissão instantânea de dados), as REDES SOCIAIS, o compartilhamento, tomaram conta da produção de conteúdos. No mundo e na área do esporte, também.

Nas ligas norte-americanas, muitas já preferem negociar com plataformas de STREAMING. "No STREAMING você sabe com exatidão, precisão e retorno imediato quem está assistindo e por quanto tempo eles ficaram online", explicou o VP de Comunicação do Orlando City, Diogo Kotscho. O Brasil começou a se dar conta dessa e de outras vantagens.

O STREAMING não tem o limite da 'grade' dos canais a cabo, aquele espaço limitado de 24 horas que o canal das mídias tradicionais tem em sua programação!

É possível produzir uma quantidade sem fim de conteúdo, desde que se tenha público e potencial de comercialização. A plataforma é um universo ilimitado. E para melhorar ainda mais, o público é que escolhe a hora e onde vai assistir, diferentemente da TV a cabo ou aberta.  

A TV tradicional não tem como competir contra isso.

Hoje, a produção está capilarizada. Nessa nova forma de consumir conteúdo é preciso pensar em produções direcionadas para um público específico (crianças que gostam de futebol dos três aos oito anos, por exemplo). Os programas 'para toda família', tendo um público mais genérico, como se pensava até cinco, 10 anos atrás, terá cada dia menos espaço.

O esporte brasileiro já se deu conta dessa revolução.

A Liga Nacional de Basquete definiu no último mês que vai apostar no conceito de MULTIPLATAFORMA para os jogos do NBB, a principal competição do basquete brasileiro. Ou seja, a Liga decidiu deixar o parceiro de 10 anos, GLOBO/SPORTV, para ter seu produto transmitido por ESPN, FOX, BAND E FACEBOOK E TWITTER. E mais. Segundo levantamento da FOLHA DE SÃO PAULO, este movimento está cada dia maior nos esportes brasileiros. Atualmente, já possível acompanhar pela internet, regularmente e ao vivo, competições nacionais e internacionais de 20 esportes olímpicos, incluindo o futebol.

A Liga dos Campeões da Europa, o principal campeonato de futebol entre clubes do planeta, terá transmissão pelo FACEBOOK no Brasil.

É fato. A GLOBO não tem mais como principal concorrente a RECORD, SBT, REDE TV.

Agora, ela passa a concorrer pela audiência com a NETFLIX, a AMAZON, a PERFORM GROUP (que chegará em breve ao Brasil), com o DISNEYFLIX? (o STREAMING do grupo Disney, que comprou a FOX em um negócio de mais de US$ 71,3 bilhões, justamente para reforçar sua plataforma). A briga agora é globalizada, sem nenhum trocadilho.

Segundo uma pesquisa nos Estados Unidos, os norte-americanos pagam, em média, dois aplicativos de streaming por residência. Tendência, no Brasil, é que a média fique entre um e 1,5. Ou seja, você vai ter que escolher: a qual conteúdo você vai querer ter acesso? NETFLIX, DISNEYFLIX, AMAZON, PERFORM, GLOBOPLAY?? A escolha é sua.

As empresas de comunicação que conhecemos hoje não vão acabar.

Afinal, elas têm um ativo indispensável para a produção de conteúdo: marca e credibilidade. Elas só não podem cometer o erro de levar para o veículo que produzem hoje uma linguagem que nasceu para ser das novas mídias. Ela precisa ser inteligente para levar o conteúdo que sempre produziu para as novas plataformas, com uma linguagem diferente, para um público novo, com a credibilidade e qualidade de sempre.

As eleições não deixaram mais dúvidas sobre isso.

Andrei Kampff é jornalista e advogado.

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