As lições de Cannes

Por Tiago Russel Cheguei no Brasil numa tarde e na outra manhã já estava na agência. Confesso que senti uma pontinha de saudades dos …

Por Tiago Russel
Cheguei no Brasil numa tarde e na outra manhã já estava na agência. Confesso que senti uma pontinha de saudades dos PITs, e que estava curioso para descobrir o "Efeito Cannes" logo no primeiro trabalho? e funcionou.
Se você acreditou, acorde: nada disso existe.
Cannes não é um elixir milagroso, mas sim uma ferramenta de amadurecimento profissional. Você até pode ir lá e achar que não viu nada de interessante. Acho difícil, mas pode acontecer. Talvez, visualmente e criativamente nada salte aos olhos mais vanguardistas. Mas, na minha opinião, não é este o principal objetivo de se participar do Festival. Se fosse isso, bastaria comprar e assistir o DVD.
O Festival de Cannes contribui com amadurecimento e critério. Lá você vai poder ver de perto tudo o que existe de melhor e de pior na propaganda mundial. Você vai conhecer pessoas e fazer perguntas diretamente para quem participou da elaboração do briefing, definiu as ações estratégicas e colocou a mão na massa na hora do brain. Sim, porque não são apenas os "criativos" que marcam presença por lá. Você vai discutir a maneira de trabalho de cada um e conhecer um pouquinho mais sobre como funcionam as agências mundiais. E é isso tudo que vai acabar refletindo no seu trabalho, queira você ou não. Não quero dizer com isso que, depois de ir a Cannes, você vai se transformar num Fábio Fernandes "de apartamento". Claro que não. Mas você vai ter vivido, visto e ouvido tanta coisa, que acredito ser difícil trabalhar um briefing da mesma forma que antes.
Outra constatação importante, e que se reflete ainda mais no mercado gaúcho, é a maturidade e a importância de se poder contar com criativos mais experientes, capazes de entender e de falar de igual para igual com os clientes, empresários e diretores de Marketing. Gente madura o suficiente para lapidar uma boa idéia e cuidar de todos os detalhes, da concepção à produção. E gente madura não quer dizer necessariamente gente mais velha. Mas sim profissionais preparados para exercer suas funções.
Outra evidência do Festival é que, além de uma boa idéia, não é necessário uma verba milionária para se criar um bom filme e este ser premiado. Mas também ficou claro que pecados na produção não serão perdoados. Pequenas coisas que qualquer publicitário deve perseguir nas criações.
Estas características, e mais uma série de outras considerações, dão origem a algumas perguntas que a gente acaba invariavelmente trazendo na bagagem: como fazer para ganhar um Leão? Tem como fazer isso em Porto Alegre?
Alguns vão lembrar que a própria Upper já ganhou um de mídia, o Media Lion. Muito merecido, diga-se de passagem. Mas o foco da questão não é esse. Esta pergunta simples, na verdade esconde um sem número de pré-requisitos complexos, como maturidade criativa, fornecedores de qualidade, clientes bem focados e um mercado desenvolvido.
Tudo isso acontecendo, e ao mesmo tempo, é o fator fundamental para que as nossas agências possam ir até Cannes e trazer um Leão em Press & Poster ou mesmo Filme na bagagem. E dá motivos suficientes para que todos aqueles que vivem e sobrevivem da propaganda no Rio Grande do Sul arregacem as mangas e trabalhem juntos para ajudar a preencher todos estes pré-requisitos. Seja ele um profissional de criação, produção, gráfica, arte-final, manipulação, atendimento, mídia, foto, música ou cinema.
Quando as condições para o prêmio estiverem reunidas, todos se beneficiarão com o resultado final.
* Tiago Russel é publicitário, redator na agência SLM, e acompanhou o Festival de Cannes, de onde enviou crônicas diárias para Coletiva.Net. Clique aqui para ler todas.

Comentários