As máscaras que caem

Por Enio Lindenbaum, para Coletiva.net

Venho de uma família de jornalistas. Minha filha é a 5ª geração. Mais que isto, quando tivemos uma rede de 12 jornais, a Última Hora, nunca deixamos de ser jornalistas.

Nos anos da decadência, após o golpe de 1964, perguntava para o meu avô Artur, que seria o patriarca, por que não havíamos seguido a linha de outros jornais, misturando negócios. E ele me explicou com a sua paciência oriental o quanto nos custaria.

Já tínhamos problemas com anunciantes que, diante da penetração e credibilidade, não poderiam deixar de anunciar profissionalmente no jornal. Mas não poderiam impor conduta e linha editorial.

A nossa independência, a custo do nosso ganho, não estava em jogo.

Procedimento que também foi o do Correio da Manhã, da senhora Niomar Moniz Sodré Bittencourt, a quem este país ainda deve uma mais justa homenagem.

Temos poucos heróis. Já esquecemos da Dona Zilda Arnts, Dom Helder, Darcy Ribeiro e tantos outros.

Enquanto o Jornal do Brasil entrava firme na especulação das bolsas via Nascimento Brito, o Globo se profissionalizava, criava a multimídia, principalmente via concessões públicas de rádio e televisão, disseminando este modelo pelos estados.

A Folha de São Paulo tinha a concessão das rodoviárias de São Paulo e a Litográfica Ypiranga. E o Estadão, que se pretendia independente, entrou em uma aventura de fabricar papel, ou seja, passar de usuário a fornecedor.

Chegamos aos dias de hoje. Derrocada da Abril, com as piores práticas de ocultação e transferência de capitais para não honrar compromissos nem trabalhistas. Prática que está sendo usada pelo Eike Batista, por exemplo.

E as trombadas de excesso de capital no grupo Folha que agora, querem se aventurar no setor bancário. Quer estrangular o jornal, visto que o setor bancário é concessão pública.

Em cima destes vácuos de credibilidade é que vem navegando a mídia digital, que também não apresenta um fator de credibilidade expressiva diante dos seus engajamentos políticos.

Saliento que, quando claro este engajamento, e muitas destas mídias o são, o discernimento é nosso. Não é uma enganação.

Nosso caldo cultural pode se encaminhar para mais uma matéria no currículo escolar. Como ler uma notícia. Como assimilar um anúncio. Como não ser manipulado.

Sim, agora tem o escândalo da XP, de 1.500 a 1.000.000. É a autora da façanha, relata a verdade. Cai o castelo. Pelo exagero.

Nosso Conar já foi mais efetivo em casos semelhantes.

Mas é um período de intensa renovação. Hora de rever Darwin e sua percepção só sobrevivem os mais aptos.

Na mesma linha, por que não Einstein? "Insanidade é fazer sempre a mesma coisa várias e várias vezes esperando obter um resultado diferente".

Enio Lindenbaum é publicitário.

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