Assessoria é Comunicação!

Por Laura Glüer A área da Comunicação tem passado por grandes mudanças nas últimas décadas. O avanço tecnológico e a consequente transformação dos meios …

Por Laura Glüer
A área da Comunicação tem passado por grandes mudanças nas últimas décadas. O avanço tecnológico e a consequente transformação dos meios de comunicação fizeram com que novas atividades surgissem, exigindo readequação de antigos processos.
Uma destas transformações envolve a Assessoria de Comunicação. Propositadamente, não uso o termo Assessoria de Imprensa, por considerá-lo restritivo diante dos inúmeros desafios que um assessor tem nos dias atuais. O assessor de hoje não se limita somente ao envio de pautas e clipagem dos espaços gerados. Ele deve ser um profissional estratégico, capaz de atuar no monitoramento dos meios tradicionais e das mídias sociais, com habilidades para prevenir e gerenciar crises, preparar fontes, emitir comunicados internos, quando necessário. Ou seja: a área se transformou e vai muito além do que fazia uma assessoria de imprensa no século passado.
A História serve de apoio à nossa reflexão. Em 1908, um jornalista americano, chamado Ivy Lee, largou sua função de repórter para iniciar uma atividade profissional de relacionamento com a imprensa, para as organizações Rockefeller. Estabeleceu uma carta de princípios para este relacionamento e, com isso, é considerado o pai das Relações Públicas e da atividade de Assessoria de Imprensa.
Do ponto de vista conceitual, não há dúvida que a Assessoria de Imprensa se insere no conjunto de atividades de Relações Públicas. A imprensa é um público de interesse e as organizações precisam estabelecer políticas claras de relacionamento com os meios e seus representantes, da mesma forma como devem dedicar atenção aos públicos internos, comunidade, acionistas e outros.
Entretanto, é importante destacar que este relacionamento tem no seu interior um conjunto de conhecimentos técnicos de natureza jornalística, desde a elaboração da sugestão de pauta aos meios de comunicação e produção de press releases, até a realização de contatos e entrevistas coletivas para reforço destas mesmas pautas, citando apenas algumas das etapas deste dinâmico processo.
O autor Manuel Chaparro criou a denominação Jornalismo no nível da fonte para descrever, do ponto de vista teórico, dentro do campo do Jornalismo, esta atividade tão importante. Os números também evidenciam a presença jornalística nesta atividade: no Brasil, segundo dados dos sindicatos de todo país e da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), mais de 50% dos jornalistas diplomados atuam em assessoria, podendo chegar a 60% em alguns Estados e capitais.
Em pleno século XXI, vivemos um mundo multifacetado e complexo, onde, na perspectiva de Edgar Morin, tudo se tece junto. Pesquisa recente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) aponta que o mercado da comunicação corporativa no Brasil (onde estão as assessorias de comunicação) é majoritariamente ocupado por jornalistas e relações públicas.
Os profissionais das áreas de Relações Públicas e Jornalismo precisam, portanto, dialogar para uma convivência pacífica no mercado de assessoria. Além de promover o crescimento de todos os profissionais, com a troca de conhecimentos específicos de cada área, este diálogo promoveria o que considero mais importante: a legitimação da área da Comunicação, pois é nela que deve estar a atividade de Assessoria.
Infelizmente, não é isso que acontece no mercado. Enquanto jornalistas e relações-públicas discutem qual é sua gavetinha no armário, administradores, engenheiros e profissionais de outras formações se aventuram a redigir releases por aí?
Como professora na área da Comunicação, posso afirmar que os egressos de Jornalismo e Relações Públicas estão igualmente aptos a atuar na área de Assessoria. Conforme as Diretrizes Curriculares vigentes para os dois cursos, a teoria e a prática da Assessoria é componente fundamental na formação dos futuros profissionais.
Obviamente, o que seleciona no mercado é a competência. A capacidade de ser um bom assessor será desenvolvida conforme o interesse do aluno, não somente durante sua graduação, mas em atividades extraclasse, em estágios, na pós-graduação e por meio de networking.
Está na hora de colocar lucidez neste debate. O que não podemos é ficar perdendo tempo em uma guerra que não nos levará a nada. Afinal, somos todos comunicadores.
Laura Glüer é jornalista, doutora em Comunicação, professora universitária e consultora na área. Autora do livro Assessoria não é Acessório, publicado pela Editora da UniRitter.
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