Banque o profeta

Por Dagomir Marquezi Quebramos a cara, mas não deixamos de fazer previsões. Arthur C. Clarke escreveu 2001: Uma Odisseia no Espaço entre 1964 e …

Por Dagomir Marquezi
Quebramos a cara, mas não deixamos de fazer previsões.
Arthur C. Clarke escreveu 2001: Uma Odisseia no Espaço entre 1964 e 1968. Como cientista, criou o conceito de satélites de telecomunicação, em 1945. Mas como profeta da ficção não foi tão bem. Ele e Stanley Kubrick sugeriram em 2001 que o homem teria colônias de exploração na Lua, naves rumo a Júpiter, e que a PanAmerican seria a primeira companhia aérea a servir o espaço. (Ela faliu em 1991). Para Clarke, em 2001 o máximo em matéria de computador seria o HAL-9000, um mainframe programado para matar.
Com o sucesso do filme, Clarke lançou em 1982 a continuação, 2010: Odisseia 2. Em 2010, o cientista que criou HAL-9000 pegava carona numa nave soviética para tentar consertar o computador na órbita de um satélite de Júpiter. Enquanto traz HAL de novo à vida, a missão é abortada porque na Terra estourou um conflito apocalíptico entre os EUA e a URSS por causa da Nicarágua. No processo, Júpiter explode e se transforma num minissol. Entramos agora em 2010 sabendo que Júpiter está inteiro, girando ao redor do único sol que temos. A União Soviética faliu no mesmo ano que a PanAmerican. Agora o calendário maia e o diretor Roland Emmerich declararam que não passaremos de 2012, quando bilhões de pessoas morrerão. Aceitar a possibilidade de uma catástrofe é um perigo real e imediato. Achar que sabemos quando acontecerá é outra história.
Quebramos a cara ao bancar profetas. Faz parte das angústias humanas não controlar o futuro. Talvez por isso as previsões tendam a ser tão catastróficas e pessimistas. Projetamos nossos medos. Mesmo sabendo que é uma atividade de alto risco, vou inalar os vapores da vidência e fazer minhas previsões tecnológicas para 2010.
- Será o ano da ascensão definitiva da leitura digital. Leitores tipo Kindle vão baratear e se espalhar.
- A Microsoft vai mergulhar de vez na crise de quem insiste na internet 1.0. Não vai falir, claro. O Windows 7 deve vender muito bem. Mas por que comprar o novo Office se já escrevo esta coluna confortavelmente no Google Docs?
- Vão surgir nas lojas monitores e consoles de videogames em 3D. Caros e cheios de bugs. É só o início. A terceira dimensão já se estabeleceu no cinema e está chegando à TV.
- A indústria da música vai considerar o som do vinil "artificial demais" e anunciará o relançamento de discos no único formato que preserva o "calor" das gravações: a fita cassete.
- A nova onda será o metaverso, uma versão simplificada e mais realista do Second Life. Será mais divertido que digitar até 140 toques. Encontraremos as pessoas numa "rua" virtual e estabeleceremos diálogos cara a cara com outros avatares. Fora encontros em locais reservados.
- O Brasil enfrentará suas primeiras grandes eleições da era do Twitter e do Facebook. O clima vai ficar irrespirável na blogosfera.

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