Bastidores dos programas eleitorais

Por Lúcia Fontanive* Foi dada a largada para as campanhas municipais. Chegou o momento em que os profissionais dos meios de comunicação começam a …

Por Lúcia Fontanive*
Foi dada a largada para as campanhas municipais.
Chegou o momento em que os profissionais dos meios de comunicação começam a receber propostas de partidos e produtoras, contratadas por esses, para integrar a equipe que irá produzir os programas eleitorais para rádio e televisão.
O número de profissionais de cada núcleo pode chegar a 50, entre equipes de produção, jornalismo, técnica, operações, administração e serviços gerais. Horas de reuniões, litros e mais litros de cafezinho e milhares de cigarros serão consumidos com um único objetivo: conquistar o eleitor. Um eleitor com um perfil nada fácil.
Segundo pesquisa dos marketings políticos, na eleição de 2000 para prefeito, 30% dos eleitores viam o programa todos os dias, 25% nunca viam e 45% raramente assistiam ao horário da propaganda eleitoral. E não apenas isso, os que raramente assistiam dividem-se entre os que não acreditam em políticos e votam na pessoa (quando acham que o candidato tem bom caráter, é simpático, etc), e os que fazem a escolha de forma ideológica e votam no partido.
Mais dados e mais desafios para quem faz os programas eleitorais: 70% do total de eleitores não vivenciam a política. "Eles prestam atenção em política como quem não quer ouvir muita notícia do seu time de futebol que não anda muito bem", foi a afirmação foi feita por um dos publicitários que participou do "Seminário Propaganda Eleitoral: a conquista do voto", que aconteceu recentemente na Assembléia Legislativa.
Não há tempo a perder
Para todos os tipos de eleitores serão contratados por candidato: um profissional de marketing; um coordenador geral, um diretor de comerciais (programetes no meio da programação de tv aberta); um profissional em mídia (escolhe os horários em que serão inseridos tais programetes); um diretor de programa, um diretor de fotografia; quatro equipes, cada uma com um cinegrafista, um auxiliar, motorista, repórter ou produtor (uma desses equipes deve ficar "sempre colada" no candidato); um arquivista de imagens; um cenógrafo; um iluminador; um assistente de estúdio; um assistente de produção; um maquinista; um eletricista; mais de um motoboy de confiança total para levar os programas prontos para serem veiculados; quatro a cinco jornalistas na pesquisa; dois editores; um profissional de computação gráfica; cozinheira; e, super valorizada, esperada e estimada em todas as campanhas, a senhora do cafezinho (equipe ideal numa campanha municipal, fora a equipe política do partido).
É claro, os profissionais de televisão trabalham com equipamentos sofisticados. São computadores, câmaras, ilhas de edição. E existe um outro lado de toda essa logística. Por exemplo: a cozinha.
O ideal é que dentro de toda estrutura exista uma cozinha. Um coordenador de campanha assegura que só faz campanha com o pessoal todo podendo fazer as refeições no local. Ele conta que se não é feito assim, sempre alguém demora muito numa refeição. "Fica demais, além de tudo, ficar atrás do pessoal", assegura.
Por ele, todo mundo ficava morando no local durante a campanha. Na verdade, funciona mais ou menos assim. Todos os contratados precisam estar sempre à disposição. Alguns profissionais que já participaram dessas equipes juram que nunca mais querem trabalhar em campanhas. Uma editora que finalizava o programa conta que a edição diária (do programa) só terminava dez, cinco minutos antes de encerrar o prazo da entrega da fita. "Assim que a gente finalizava, o motoboy saia voando e todos os dias eu chegava a sangrar os dentes de tanto apertá-los".
Os detalhes são fundamentais
Alguns detalhes não podem ser jamais esquecidos. O diretor de programa precisa saber um tanto de psicologia para entender que o candidato está normalmente estressado, às vezes angustiado - afinal, está em plena campanha, sendo exposto de várias maneiras. O diretor de fotografia precisa deixá-lo sempre com o aspecto saudável. O que torna fundamental um bom iluminador e uma excelente maquiadora.
Alguns itens não devem jamais ser esquecidos:
1° - é preciso ensinar, se for preciso, o candidato a transmitir segurança;
2° - o candidato nunca pode passar a imagem de que está mentindo;
3° - prepará-lo para falar no tempo dos debates;
4° - ele precisa estar preparado para responder o óbvio e, com naturalidade, aquilo que ele não tem a menor idéia do que se trata. (Itens mencionados por alguns dos publicitários que participaram do seminário na Assembléia Legislativa).
Tudo isso sem desconsiderar as pesquisas, que indicam, porexempl, que os comerciais no meio da programação são os que mais influenciam os indecisos. Em segundo lugar vêm os debates, e em terceiro, os programas políticos, considerados quase que produzidos para militantes, já que eles é que dão maior audiência.
Tudo isso só para o primeiro turno. No segundo, cada partido tem mais tempo e o trabalho dobra. É preciso ser rápido na resposta. Mas na batida também. Não é só a defesa que decide o resultado das urnas (asseguram a maioria dos envolvidos em campanhas eleitorais).
Um dado fundamental: no meio de toda a parafernália que envolve uma eleição é preciso não esquecer em momento algum que cada vereador tem direito a algumas gravações no estúdio. Mas tem gente que acha a parte mais divertida.
* Lúcia Fontanive é jornalista.
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