Caindo no(a) Real

Por Vilson Antonio Romero* A mídia escrita, falada, televisiva e virtual já ocupou seus espaços com análises as mais diversas sobre o aniversário do …

Por Vilson Antonio Romero*
A mídia escrita, falada, televisiva e virtual já ocupou seus espaços com análises as mais diversas sobre o aniversário do Plano Real, reproduzindo retrospectivas históricas e levantamentos estatísticos, entrevistando políticos, economistas, palpiteiros e a população em geral.
Algo que não houve foi notado: nesta efeméride não foram sopradas as dez velinhas, nem mandaram confeccionar bolos e tortas comemorativas, nem cantaram em altos e festivos brados o indefectível "Parabéns a você", como em épocas de antanho.
De tudo o que pôde ser ouvido, visto e lido, com a visão leiga do cidadão preocupado com os rumos da Nação, é possível apurar, em resumo:
a) O Plano Real foi implantado como um programa de controle inflacionário, com base na sobrevalorização do dólar (âncora cambial), reforma monetária sem vinculação umbilical com a política econômica perpetrada a partir de então;
b) O Fundo Social de Emergência, pontapé inicial do Plano, depois se percebeu não ser de emergência e muito menos social, e se perpetua até hoje na nova roupagem da Desvinculação das Receitas da União (DRU), dando livre arbítrio ao governante federal no gasto de 20% da quase totalidade da receita tributária, inclusive a destinada à área social;
c) As crises externas escancararam, sucessivamente, a fragilidade do País. Assim foi com as hecatombes na Ásia, em 97, e na Rússia, em 98. Se sucederam o estouro da Nasdaq, a insolvência da Argentina, os efeitos do terrorismo e, internamente, o apagão ocorrido no governo FHC.
d) Apesar de ter domado uma inflação percentual superior a 200 bilhões na década anterior a 94, que se transformou nos atuais 144% acumulados entre julho de 94 e maio de 2004, os indicadores econômicos e sociais são lamentáveis:
- Desigualdade - Continuamos com 35% da população abaixo da chamada linha

de pobreza;
- Renda - O trabalhador em geral viu sua renda média ter um pequeno crescimento nos primeiros anos do Real, atingindo R$ 725, em 1996. Desde lá, só despenca, chegando aos R$ 636 em 2002 (último dado disponível);
- Desemprego - A taxa medida pelo IBGE subiu de 5,1% da População Economicamente Ativa (PEA), em 94, para 12,2%, neste início de 2004. O Dieese registra números mais alarmantes.
- Dívida pública - O comprometimento do Estado com organismos nacionais e internacionais cresceu de 30% para 59% do Produto InternoBruto (PIB), no período;
- Carga tributária - O trabalhador, no lançamento do Plano, dedicava 104 dias para pagar impostos. No ano passado, já foram necessários 135 dias para bancar a estrutura estatal, como resultado da elevação da carga total de tributos dos 28% para 37% do PIB, entre 94 e 2003.
- Tarifas públicas - A par de uma inflação acumulada de 144% nos dez anos, os preços administrados e as tarifas públicas comprimiram o poder do compra da classe média, em especial, e da população em geral: subiram, em média, 255%. A conta de telefone foi a campeã - 611%, seguida pelo gás de cozinha - 471% e a passagem de ônibus - 300%.
Estes são alguns poucos dados que puderam ser coletados nas diversas matérias divulgadas por jornais, rádios e televisões, mas que refletem que, apesar de termos sofrido tanto com recessão, desemprego, aumento da insegurança, dá a impressão que estamos novamente no marco zero de nossa história, pedindo medidas urgentes de reconstrução do País. Um outro dado revelado pela mídia, nos mostra a felicidade de uns poucos que muito sorriram e gargalharam nestes dez anos: os banqueiros. O lucro das dez maiores instituições financeiras se elevou 1039 % no período - em 94, lucraram R$ 1,27 bilhões e em 2003, R$ 14,39 bilhões.Somente foram superados pelo setor de bebidas, cujo resultado positivo cresceu 1592% nos dez anos do Real.
Acho que por isso dizem tanto: "Do jeito que a situação está, só

bebendo!?"
* Vilson Antonio Romero é jornalista, auditor fiscal do INSS, diretor da Associação Riograndense de Imprensa e consultor da Fundação Anfip de Estudos da Seguridade Social.
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