Cinema Mudo

Por Juceli Azevedo Havia um tempo em que o cinema era mudo. Norma Desmond, personagem do filme Sunset Boulevard, foi o símbolo desta época …

Por Juceli Azevedo
Havia um tempo em que o cinema era mudo. Norma Desmond, personagem do filme Sunset Boulevard, foi o símbolo desta época tão distante para nós como a internet para nossos pais.
A vida parece estranha de vez em quando. Começando pela idéia de que estamos rodando a não sei quantos quilômetros por hora, mas ao mesmo tempo parados.
Com a Norma, a Desmond, não foi diferente. Neste clássico do cinema, uma atriz, ídolo do seu tempo, torna-se repentinamente uma estrela decadente em meio à transformação tecnológica que a induz ao anonimato. Pobre Norma, ela continua a viver num mundo à parte, acreditando que as pessoas ainda a consideram uma estrela.
Assim é a mídia, Norma. Um dia te transformaram num ídolo, no outro, uma esquecida.
Quem, ao percorrer uma breve linha de tempo, não lembra vagamente de alguma destas estrelas populares sumidas?
Querem exemplos? Grace Jones. Ícone da modernidade no início dos idos 80, hoje ninguém mais ouve falar. E a Laurie Anderson tornou-se, pelo que sei, a senhora Reed, leia-se Lou Reed. Quem lembra do Jimmy Sommerville, dos Dead or Alive, Erasure, Meredith Monk e as maravilhosas canadenses Jone Mitchell e Phoebe Snow?
Se lá fora as pessoas somem, mas pelo menos têm seguro social, no Brasil o negócio é diferente. Soube que a Rosana, sim, a Deusa, estaria cantando num cinema. Nos intervalos, diga-se de passagem. É, a vida também é dura para as divindades.
Mas se a Norma tivesse alguma voz, por pouco que fosse, coitada, seria, quem sabe, incluída no Hall da Fama.
Mas assim é o vício da mídia, quanto mais se tem mais se quer. Seria uma coisa tipo músculos para a Feiticeira? compreendem?
A mídia pode ser cruel: hoje se é famoso por 15 segundos, amanhã se é esquecido pelo resto da vida. Quem lembra onde anda a vencedora do primeiro No Limite? Dou uma dica: ela é gordinha.
Pois olha, ruim mesmo é acreditar que algo pode ser imutável. Sabemos, ao nascer, que tudo é passageiro, mas queremos acreditar que não. Por isso, Deus deu vida a Norma para logo depois dar ao homem a invenção do cinema com som.
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