Cobertura esportiva de grandes eventos: quando menos é mais

Por Vivian Rio Stella

Os Jogos Paralímpicos representam não apenas uma lição de superação, mas também de que menos é mais - especificamente em relação à cobertura da mídia.
Nos Jogos Olímpicos, estavam disponíveis inúmeros canais da TV paga e diversos horários de jogos na TV aberta, o que demandou das organizações televisivas uma mobilização de muitos profissionais. Mas quantidade nem sempre representa qualidade, em especial, no trato dos repórteres com os atletas.
Bruno Fratus, por exemplo, mal havia disputado a final dos 50m livre quando a repórter o entrevistou para saber se estava decepcionado com o sexto lugar e o motivo do desempenho abaixo da expectativa, pergunta a qual a própria jornalista mesma respondeu ao dar os números de arrancada do nadador na prova. Agora, veja. No calor da emoção, um atleta que dedicou 4 anos para chegar a uma final e dar o melhor de si, nem sempre está disposto a ser polido e cordial diante de perguntas tão incisivas num momento de frustração.
A ginasta Flávia Saraiva, de 16 anos, teve mais jogo de cintura que Fratus. Em sua primeira olimpíada, ela conseguiu o 5o lugar na final da trave e, mesmo assim, ouviu do repórter se ela gostaria de ter desbancado Simone Biles - atleta sensação da ginástica na Rio 2016. Com sua simpatia, Flávia disse que não, explicou que queria fazer seu melhor e que estava feliz em ser finalista em sua estreia olímpica. Até o multicampeão Bolt "cortou" o repórter, que comentar o desempenho da prova que o jamaicano havia acabado de disputar.
Esses são alguns dos muitos exemplos de falta de tato, de proposição de perguntas e comentários inapropriados, por vezes até burros, da mídia ao entrevistar atletas que chegaram a seus melhores resultados comparados a outras edições de jogos, mesmo que isso não signifique medalha.
Já nos Jogos Paralímpicos, a história foi outra. Por haver muito menos canais da TV paga dedicados às modalidades, e apenas breves boletins com notícias na TV aberta, a qualidade das entrevistas pós-provas foi infinitamente maior. Os repórteres demonstraram conhecimento prévio dos atletas e valorizaram os feitos - independente de incluir ou não a conquista da medalha, seja de bronze, prata ou ouro.  A comunicação deu um show de empatia e respeito, até mesmo porque são atletas que estão menos expostos à mídia quando não participam de competições ou jogos paralímpicos.
Mas o que podemos aprender com isso, em termos de comunicação? Bem, a principal lição que fica para a cobertura jornalística e para profissionais de qualquer segmento é que, muitas vezes, menos é mais. Focar em quantidade de entrevistas ou interpelações aos atletas não garante qualidade, relevância e empatia nem dos competidores, quiçá do público. O mesmo se aplica ao mundo corporativo e à vida. O pulo do gato está na relevância, que atrai, contribui e dá grau de excelência à comunicação.
Vivian Rio Stella é sócia-diretora da VRS Cursos, Palestras e Coaching ( www.vrscursos.com.br ), especializada em comunicação, liderança e empreendedorismo. Doutora em Linguística pela Unicamp e pós-doutora pela PUC-SP.

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