Os
Jogos
Olímpicos
não
são
apenas
um
evento
esportivo
. Aliás,
nunca
o foram.
Eles
eram
eventos
políticos
na Grécia,
eles
foram
eventos
políticos
na 11ª Olimpíada, a de 1936,
em
Berlim,
eles
foram
eventos
de propaganda
política
durante
a
Guerra
Fria
,
tragédia
política
em
Munique e oportunidade
política
agora
em Beijing.
Mas
ao
lado
de
sua
dimensão
política
, os
Jogos
Olímpicos
são
sempre
grandes
eventos
econômicos
,
que
canalizam
bilhões
de dólares, constituindo
também
oportunidade
para
a
construção
civil
,
grandes
projetos
urbanísticos,
indústria
do
turismo
,
redes
globais
de
televisão
,
imprensa
e publicidade.
Por
outro
lado
,
quem
organiza
um
evento
como
esse
convive
com
todas essas
dimensões
ao
mesmo
tempo
, de
forma
mais
aguda
e
por
mais
tempo
. Essa
convivência
começa
muito
antes
,
aliás
bem
antes
de uma
cidade
ser
escolhida
para
sediar
os
jogos
. Escolhida, os
Jogos
Olímpicos
passam a
agir
nas
bases
da sociedade, e Beijing
não
foge à
regra
. Não,
não
é porque o
Correio
da
Manhã
de Beijing noticiou na
semana
passada
que
1
milhão
de
trabalhadores
migrantes seriam
expulsos
da
cidade
durante
os
jogos
-
informação
desmentida
logo
depois - mas porque a
revolução
urbanística vai
expulsar
definitivamente
do
centro
da
cidade
4,5
milhões
de moradores e
acabar
visualmente
com
a
pobreza
.
A
verdade
é
que
boa
parte
das
atividades
urbanas de Beijing estão girando
em
torno
das
Olimpíadas
.
Ainda
na
semana
passada
, 300
jornalistas
foram
convidados
para
ver
em
que
ritmo
estão os
preparativos
,
principalmente
as
instalações
esportivas
,
para
receber
informações
sobre
a
organização
da
cobertura
jornalística
durante
os
jogos
e
também
conhecer
um
pouco
da
cidade
.
Em
ocasiões
como
essa se pode
perceber
como
a
vida
urbana
se entrelaça
com
a
esportiva
,
desde
a
construção
de
linhas
especiais
de
metrô
ligando o
centro
da
cidade
ao
aeroporto
à
reorganização
do
sistema
viário
para
acabar
com
os
engarrafamentos
. E
além
disso, há o
tratamento
paisagístico
da
cidade
,
com
a
nova
Ópera de Beijing ao
lado
da
Praça
Tiananmen, e a
restauração
de
todos
os
edifícios
públicos
- Cidade
Proibida
,
Palácio
de
Verão
,
Templo
do
Céu
, Lamaseria
Budista
.
Mas
se a
cidade
estende os
braços
para
o
esporte
, o
esporte
também
estende os
braços
para
a
cidade
,
inclusive
com
a
previsão
da
vinda
de 16
mil
jornalistas
estrangeiros
.
Para
mostrar
alguns
aspectos
dessas próximas
Olimpíadas
,
especialmente
em
relação
à
cobertura
jornalística
, vamos
oferecer
alguns
cenários
do
que
pode
acontecer
ou
já
está acontecendo:
1. Visitantes
estrangeiros
Beijing recebeu
em
2005
cerca
de 3,62
milhões
de turistas
estrangeiros
. Pretende
receber
de 4,6 a 4,8 milhões
em
2008. Os visitantes
estrangeiros
,
segundo
o
vice-diretor
do
Departamento
de
Turismo
do
município
, Gu Xiaoyuan, deverão
gastar
entre
US$ 4,8
bilhões
e US$ 4,9 bilhões.
No
período
das
Olimpíadas
estão
previstos
500
mil
visitantes
estrangeiros
, para
assistir
aos
jogos
. Essas
pessoas
serão
acomodadas
nos
4.761 hotéis,
com
572.500
quartos
. Essa
infra-estrutura
hoteleira
é a
atual
, devendo
aumentar
até
a
data
dos
jogos
.
2.
Jornalistas
estrangeiros
São esperados 16
mil
jornalistas
estrangeiros
para
as
Olimpíadas
. Desse
total
, 5.600 credenciados.
Para
se
ter
uma
idéia
, os
Estados
Unidos deverão
ter
450 credenciamentos
para
a
imprensa
escrita
. Robert Condron,
diretor
de
imprensa
do
Comitê
Olímpico
dos
Estados
Unidos, afirmou
em
Beijing
que
essas 450
credenciais
são
poucas,
diante
do
número
de
pedidos
, de
três
ou
quatro
vezes
esse
número
.
Só
a China,
segundo
ele
, vai
ter
mais
jornalistas
credenciados
que
os
Estados
Unidos.
Mas
ele
lembra
que
a China
já
recebeu
mais
de 15
mil
pedidos
de
credenciais
,
para
um
total
de 5.600 a serem atendidos.
Durante
sua
estadia
em
Beijing, o
presidente
e chefe-executivo da Associated Press, Thomas Curley, deu uma
entrevista
ao
jornal
China Daily.
Ele
disse
que
sua
agência
de
notícias
tem 22
pessoas
trabalhando na China,
mas
esse
número
passará a 250
durante
os
jogos
.
Ele explica
que
está
nos
planos
da
agência
aumentar
o
número
de
jornalistas
que
cobrem o
país
de
forma
permanente
.
Até
agora
,
são
22
jornalistas
na
sucursal
.
Logo
serão
44. Outros 200 virão especificamente
para
os
Jogos
. Terminadas as competições, os
jornalistas
voltarão aos
Estados
Unidos,
mas
aqui
permanecerão 44, dobrando o
número
de
jornalistas
de
forma
permanente.
3. Os
Voluntários
Tem
muito
jovem
,
universitário
ou
não
, querendo
ver
os
Jogos
Olímpicos
.
Muitos
não
têm
dinheiro
.
Outros
querem
apenas
participar
dessa
febre
da
abertura
do
país
para
o
exterior
.
Em
outras
palavras
,
eles
querem
estar
em
pontos
estratégicos
durante
as
Olimpíadas
.
Para
esses
, os
organizadores
das Olimpídas de Beijing abriram
inscrições
para
trabalho
voluntário
. As
inscrições
no
fim
de
agosto
passado
já
estavam
em
210
mil
,
mas
o
número
deve
ter
sido maior,
pois
as
inscrições
só
fecharam
agora
.
Cerca de 76%
voluntários
inscritos
pela
internet
(52.143
pessoas
) têm
idade
entre
16 e 25
anos
,
com
as
mulheres
constituindo 61% do
total
.
Mas
nem
todos
os inscritos
serão
aceitos,
pois
existem
apenas
70
mil
vagas
para
os
Jogos
Olímpicos
e 30
mil
para
os
Jogos
Paraolímpicos.
4. O
Que
cobrir
Cobrir? Os
Jogos
,
claro
.
Mas
não
apenas
os
Jogos
,
pois
a China é
muito
mais
que
isso
. E os
jornalistas
que
vieram
agora
a Beijing,
dia
27 de
setembro
, deixaram essa
idéia
muito
clara
. Existe
mais
interesse
de
cobrir
os
jogos
pelo
fato
de
existir
o
gancho
da
própria
China.
Thomas Curley, da AP, dá o
tom
sobre
o
que
sua
agência
pretende
cobrir
.
Ele
diz: "
Cerca
de 40% da
cobertura
dos
Jogos
Olímpicos
não
terá
como
tema
os
esportes
. Pretendemos
cobrir
cultura
,
turismo
,
restaurantes
,
como
as
pessoas
vivem, o
que
pensam dos
Jogos
. Estamos
esperançosos
de
cobrir
muita
coisa
do
setor
cultural da
vida
da China,
conhecer
melhor
o
país
e
conhecer
melhor
o
povo
. E
este
é
um
momento
fascinante
porque
a China está
crescendo
muito
depressa
.
Claro
, haverá muitas
histórias
".
Condron
também
atribui
parte
do
fascínio
pelos
jogos
olímpicos
ao
fascínio
pela
China. "
Pela
primeira
vez
vamos
ver
a verdadeira China. E o
povo
norte-americano
está interessado nesse
país
. Nesse
caso
, o
maior
interesse
não
é a competição,
mais
o
pais
".
5.
Com
que
liberdade
?
Há
poucos
dias
, Li Jing Bo,
responsável
pela
mídia
dos
Jogos
Olímpicos
, sentiu-se na
obrigação
de
afirmar
que
durante
os
Jogos
os
serviços
de
Internet
não
serão
censurados.
A
entrevista
que
ele
deu foi distribuída
por
todas as
agências
de
notícias
no
dia
27 de
setembro
,
inclusive
pela
Coletiva
.Net. Vamos
retomar
alguns
aspectos
da
liberdade
de
informar
:
- Os
jornalistas
poderão
receber
permissão
para
entrar
na China
com
veículos
estrangeiros
e poderão
solicitar
carteira
de
motorista
temporária
, do
início
de
janeiro
de 2007 a
março
de 2009;
- Poderão
também
alugar
apartamentos
e
escritório
através
de
imobiliárias
locais
;
- A
Assessoria
de
Imprensa
do
Comitê
Olímpico
ajudará
jornalistas
estrangeiros
que
queiram
entrevistar
atletas
chineses;
- A
mídia
internacional
poderá
instalar
seu
próprio
equipamento
de
rádio
durante
os
Jogos
, entrando no
país
com
isenção
de
taxas
;
-
Jornalistas
estrangeiros
e
empresas
de
comunicação
poderão
empregar
cidadãos
chineses
através
de
agências
de
empregos
;
-Jornalistas
estrangeiros
poderão
fazer
outro
tipo
de reportagem e
não
apenas
as esportivas.
6. E
s
em
expulsão
de moradores?
Sem
expulsão
de moradores?
Sim
,
sem
expulsão
de moradores. "
Esse
boato
não
tem
nenhum
sentido
", disse Zhou Jnidong,
chefe
do
Departamento
Jurídico
do
município
.
Mas
ele
acrescentou
que
estão sendo
feitos
estudos
para
impedir
que
pessoas
"
doentes
" "prejudiquem o
interesse
público
durante
os
jogos
".
Diferentemente do Brasil,
em
que
um
cidadão
nordestino pode decidir
morar
em
São
Paulo,
para
tentar conseguir
trabalho
, na China o nordestino precisaria
primeiro
conseguir
um
contrato
de
trabalho
para
viver
provisoriamente
em
São
Paulo e
ser
mandado
de
volta
no
fim
do
projeto
para
o
qual
foi contratado.
Porque
,
para
morar
em
qualquer
cidade
na China, é
necessário
ter
um
"hukou",
ou
seja, uma
permissão
de
residência
permanente
e o
documento
que
prova
essa condição.
O
trabalhador
migrante,
sem
o "hukou",
portanto
, vem
trabalhar
sozinho
. Se
ele
traz
clandestinamente
sua
família
,
seu
filho
não
tem
escola
ou
paga
muito
mais
para
colocá-lo numa,
como
se fosse
um
estrangeiro
.
Alguém
pode
dizer
:
então
é
fácil
,
basta
comprar
um
apartamento
em
Beijing e
logo
receber
um
"hukou". Pode,
mas
o
preço
do
apartamento
em
Beijing,
que
já
é
muito
caro
para
o morador da
capital
chinesa, é
muito
mais
caro
para
pessoas
sem
"hukou".
Por
outro
lado
, a
notícia
publicada
pelo
Correio
da
Manhã
de Beijing falava numa
expulsão
temporária
dos
trabalhadores
migrantes. E é
isso
o
que
foi
desmentido
por
Zhou Jnidong.
Para
se
ter
uma
idéia
, Beijing tem
cerca
de 12
milhões
de
habitantes
e
mais
4,5
milhões
de
trabalhadores
migrantes
que
aqui
ficam
um
ano
,
dois
cinco
e
depois
são
substituídos
por
outros
trabalhadores
migrantes e
assim
por
diante
.
Eles
são
200
milhões
em
toda
a China.
Certo
,
certo
, Zhou Jnidong,
eles
não
serão
expulsos
.
Resolvida a
questão
das explusões - mas
não
a do "hukou"-, aparece
outra
questão
, representada
por
um
projeto
urbanístico
que
já
está mudando Beijing há
muitos
anos
e
que
se acentuou
ainda
mais
agora
,
com
os
Jogos
Olímpicos
: a
construção
de 11
cidades
satélites
,
para
abrigar 5,7
milhões
de
pessoas
, a
maior
parte
originários
do
centro
da
cidade
,
conforme
Chen Gang,
diretor
da
Comissão
Municipal de Planificação
Urbana
do
município
. O
plano
diretor de Beijing
para
2004-2020, aprovado
em
janeiro
de 2005, requer
que
as
autoridades
municipais desenvolvam
políticas
para
diminuir
a
densidade
demográfica, melhorem as
condições
de
vida
e melhorem o
centro
histórico
de Beijing.
Com a
aproximação
dos
Jogos
, essa
política
de
expulsão
de moradores das
vilas
populares
(hutongs) de Beijing vem pegando
velocidade
.
Alguns
jornais
falam
que
de 2004
para
2005, desapareceram 500 dos 5.500 hutongs existentes. Essas imensas
áreas
desapropriadas dão
lugar
à China
moderna
,
sem
ruas
estreitas,
sem
moradores de
pijamas
nos
mercadinhos,
sem
os
jogos
de majong no
fim
da
tarde
-
jogo
de
peças
tradicional chinês, muitas
vezes
jogado a
dinheiro
.
Tudo
isso
para
tornar
a
cidade
mais
charmosa
,
para
outros
Jogos
,
em
que
também
jogam a
dinheiro
,
muito
,
mas
muito
dinheiro
mesmo
!