Por Álvaro Larangeira
Não foi o Citibank. Nem o HSBC. Muito menos o Santander, o Bradesco, o Divinobank ou o Banco da Praça. O presente de Páscoa para Roberto Marinho foi entregue pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A instituição financeira do governo federal autorizou o financiamento de UM BILHÃO de reais à Globo Cabo S.A. Por estas coincidências da vida, a empresa é controlada pelas Organizações Globo, mãe do canal de televisão hegemônico nos lares e cortiços brasileiros, e presidida por Luis Antônio Viana, executivo do BNDES em tempos passados.
A Globo Cabo, faz-se necessário reconhecer, é merecedora de tão magnânima atitude do mecenas FHC. Está à míngua por falta do leite estatal. Ainda por cima sofre da grave doença conhecida como Papa Tudo. Não pode ver nada pela frente. Olha e já quer comprar, a coitadinha. Em julho de 2000, ao tragar a Vicom, abocanhou três mil estações terrenas de telecomunicações por satélite instaladas no Brasil. Em setembro do mesmo ano, a Globo Cabo adquiriu a NET Sul e seus 374 mil assinantes, além de um milhão de domicílios cabeados.
Descontrolada, a gula pariu uma dívida de R$ 1,8 bilhão. Seria uma miséria se os principais acionistas fossem abonados. Não é o caso. O detentor de 42% do capital total da Globo Cabo é o mister Marinho, um digno exemplar da classe média baixa nacional. O segundo acionista majoritário - 12,23% - é a gaúcha Rede Brasil Sul, humilde conglomerado formado por apenas 17 emissoras de televisão, 10 rádios e quase seis jornais, especialista em comer o mingau dos outros pelas beiradas. O terceiro, com 7,5%, é a Microsoft, do privado de recursos Bill Gates. É compreensível e louvável, portanto, o auxílio do Estado da Mãe Joana a esta proba e ingênua vítima das garras desumanas do neoliberalismo estatal.

Mas o melhor mesmo em ajudar a Globo Cabo está além do regozijo da ação humanitária. É o prazer de colaborar para a melhoria do conteúdo da televisão brasileira. Graças à caridade governamental e à nossa solidariedade, teremos a presença esporádica na programação da Globo do brilhante e estimável candidato do Palácio do Planalto à presidência da República. José Serra no Telecurso 2000. Serra no Globo Rural. Serra no Bom Dia Rio Grande. Serra no Bom Dia Brasil. Serra no Sítio do Pica-pau-amarelo, Serra no Globo Esporte, Serra no Vale a Pena Ver de Novo, Serra na Malhação, Serra nos Telecines - ao mesmo tempo -, Serra no Sexy Hot, Serra como O Clone e Serra no Quinto dos Infernos. Uma maravilha. Serra Plim-plim vem aí. Por precaução, coloquem mais um banco na sala. Pode ser o do BNDES ou o da praça.
* Jornalista e doutorando em Comunicação Social / PUCRS
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