Comunicação para uma Gestão Responsável

Por Mariana Candal* O que podemos chamar de gestão responsável no mundo dos negócios hoje em dia? Sempre me pergunto isso no nosso dia …

Por Mariana Candal*
O que podemos chamar de gestão responsável no mundo dos negócios hoje em dia? Sempre me pergunto isso no nosso dia a dia de consultoria e de confronto com as entranhas das organizações.
No nosso trabalho cuidamos das pessoas, ouvimos as pessoas, tentamos entender todos os lados de uma relação, identificamos problemas e oportunidades e traçamos estratégias onde a comunicação possa ajudar as pessoas e o negócio. Falando assim parece mais fácil do que realmente é, mas na verdade é um trabalho que revira a organização, mostra a sua alma, seu comportamento e o seu caráter. É, as organizações são como pessoas, e se comportam como tal, têm conflitos de sentimentos, preconceitos, jogos de poder, alegrias, tristezas, enfim, uma organização é reflexo dessas pessoas que a formam e de suas personalidades.
Mas se no mundo atravessamos um período de mudanças e de questionamentos éticos, como ficam as organizações? Também estão sendo questionadas pelos seus interlocutores. A sociedade vem num crescente de consciência, percebendo o seu papel e seu poder para mudar as coisas. Por que continuamos a aceitar determinados comportamentos com os quais não concordamos?
A eleição do Sr. Severino Cavalcanti surpreendeu a todos nós, mas a sua proposta de aumento foi, pelo menos, adiada pela pressão da sociedade. Nós temos poder e estamos começando a perceber a importância da comunicação para o processo de transformação. A imprensa fez o seu papel, nós, sociedade, colocamos a "boca no trombone" como falávamos antigamente, conseguimos estruturar um manifesto pela Internet e enviar para a Câmara. Podem não ter dado o nosso crédito, mas pode acreditar: fomos nós.
A globalização chegou com toda força, foi inevitável. Não podemos mais viver isolados, sem entender o que se passa em todo o mundo, aqui e lá do outro lado. E por isso mesmo nos tornamos mais questionadores do que nunca. Então, o mundo da gestão empresarial não pode viver isolado dos questionamentos da sociedade. Somos nós que consumimos tudo que as empresas produzem, portanto temos o direito e o dever de questioná-las.
Falar em gestão responsável é enfrentar um processo intenso de transformação, é buscar a ética nos negócios. Entramos num caminho sem volta, cada vez mais a ética além de ser um ponto positivo, um diferencial, passa a ser um fator de competitividade. As empresas precisam desenvolver a ética nos negócios para serem competitivas e se manterem no mercado.
Cabe a nós, sociedade, e não só às pessoas de negócios, lutar por essa ética. Não apoiar empresas que poluem, que não são responsáveis com seus empregados, que não pensam nas conseqüências sociais do seu negócio e no quanto elas podem interferir positivamente e negativamente nessa dinâmica.
Começamos a caminhar em termos de "gestão responsável". As empresas começam a buscar certificações ambientais, e mais recentemente as certificações sociais. Quem poderia imaginar isso 20 anos atrás?
O boom da Responsabilidade Social trouxe à tona, ao nível do consciente, a discussão da interferência das empresas nas sociedades. Antes só conseguíamos visualizar a interferência ambiental, mas essa é apenas uma pontinha. Bancos não poluem, mas interferem profundamente no desenvolvimento de uma sociedade. Uma indústria alimentícia pode provocar o aumento da obesidade. E uma agência de propaganda, então? Nós, profissionais da comunicação, não somos poluidores, mas talvez sejamos os maiores culpados pelos nossos problemas sociais. Nós temos o poder de "vender" produtos e comportamentos, influenciamos nos conceitos de certo e errado, e podemos acelerar essa mudança inevitável em busca da ética. Podemos usar todas as nossas ferramentas, que aprendemos tão bem a usar, para construir uma sociedade mais justa, mais equilibrada e mais correta. Todos nós, ligados à comunicação de alguma forma, devemos nos conscientizar desse poder e mais do que qualquer outra profissão sair na frente em busca desse novo mundo.
Ainda temos muito o que caminhar em termos de certificações, balanços sociais, índices de sustentabilidade. Ainda não conseguimos ser transparentes, ainda temos mazelas a esconder, e mais, ainda não estamos totalmente maduros para esse enfrentamento dos problemas das organizações e da sociedade. Mas como todo processo de transformação, o processo de transformação social é lento, mas o importante é que caminha.
Já que a comunicação estratégica é fundamental para iniciarmos a nossa transformação, também é fundamental unirmos comunicação e Responsabilidade Social. A principal ferramenta para transformarmos o mundo é a comunicação, mas como tudo pode ser usada para o bem e para o mal. Então, faço um convite: Vamos lutar pela ética na comunicação?
* Mariana Candal é consultora de planejamento da Rebouças & Associados.
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