Comunicar para informar

Por Ângela Baldino, para Coletiva.net

Nenhum governo é o primeiro e tampouco será o último. E também não costumam ser iguais. Mas, via de regra, mostram ter uma visão em comum: bem ou mal, se valem de uma equipe de Comunicação para dar conta das demandas de interlocução com sociedade.

Quando as novas administrações assumem a máquina pública costumam promover remodelações na estrutura desta área, e às vezes isso ocorre de forma super-radical! Mas em qualquer dos casos uma outra equipe é colocada no lugar. Isso porque os governantes, de um modo geral, provavelmente percebam que grande parte do sucesso de seu governo, eleito, passa pela forma articulada, séria e transparente com que precisam se comunicar com os cidadãos, se relacionar com os diversos segmentos sociais e com a valiosa opinião pública. Afinal, quem já não ouviu, e frequentemente ainda ouve, o jargão "o problema é a comunicação" para justificar problemas e insucessos?

Embora já não seja uma exigência legal ter diploma para exercer a profissão de jornalista (em 2009, o Supremo Tribunal Federal derrubou sua necessidade, mas o tema voltou à discussão na Câmara dos Deputados, em 2017, por meio de um Projeto de Emenda Constitucional), o fato é que estes profissionais qualificados, assim como os de publicidade e marketing, continuam sendo figuras importantes (e até centrais) na criação de estratégias para fazer chegar a informação até a sociedade, com clareza e assertividade. Isso vale para governos, empresas e entidades, que ainda encontram nas equipes de Comunicação uma ajuda fundamental na construção da figura pública de prefeitos, empresários e gestores.

No entanto, não é incomum dirigentes públicos e privados optarem (equivocadamente, é certo) por serem os porta-vozes de si mesmos. O prefeito de Porto Alegre, com seu perfil de gestor, parece, infelizmente, ter feito esta escolha. Ao atribuir para si próprio uma competência que não é sua  - e que não se espera que a tenha - abre mão do resguardo que uma equipe profissional de Comunicação pode oferecer seja na leitura do momento externo, na repercussão e desdobramentos que as medidas anunciadas podem ter, na construção de uma linha de discurso coerente e único com relação a informações e dados que otimize as ações de governo.  Dispensar esta retaguarda é, se não um erro, um risco muito grande.

Não basta ao prefeito ser a figura que fala pelo governo. Porque não é suficiente "informar". É preciso se fazer entender pela população em seus diferentes perfis e segmentos para melhor "transitar" no ambiente da disputa de interesses e objetivos presentes na sociedade. Não é tarefa fácil para nenhum prefeito ou gestor, mas imprescindível porque é inerente ao cargo para o qual foi escolhido. Como resultado da opção "prefeito porta-voz de si mesmo", a Comunicação da prefeitura de Porto Alegre é difusa e, por conta disso, até as mídias sociais se tornam inócuas, vazias.

Algumas perdas que o governo municipal tem tido se devem também a problemas de comunicação com a sociedade, pois ela é necessária para construir uma visão que gere um sentimento de pertencimento a todos. Ou seja, o jargão continua valendo! Algumas áreas são exemplo, como o projeto de lei já enviado ao Legislativo com mudanças nos valores do IPTU: qual foi a estratégia usada para formular a Comunicação de um tema tão sensível, que mexe com a vida de diferentes públicos, de universos, interesses e objetivos distintos?

Para melhor transitar em cada um deles, o governo evitaria "perdas" se adotasse uma linguagem apropriada, não limitada ao tecnicismo dos números, mas que agregasse valor à "informação" pela transparência, seriedade e agilidade - três elementos básicos para conquistar a credibilidade pública.

Construir uma narrativa que explicite a marca, a cara do governo e suas ações de interação com o que ocorre na cidade é fundamental, ainda mais em Porto Alegre, onde sempre há muitas coisas boas acontecendo. Como nas áreas de Inovação e de Economia Criativa, campo em que Porto Alegre é especialmente dinâmica, com um rico universo de ideias e iniciativas, que acabam acontecendo de forma desarticulada e sem visibilidade. Certamente a estrutura de Comunicação da prefeitura, entendida como ferramenta estratégica de gestão pública, seria um importante vagão para impulsionar o movimento desta inovadora locomotiva de desenvolvimento econômico e social para nossa Capital. Porto Alegre não tem vocação para ser terra arrasada!

Ângela Baldino é jornalista e ex-secretária de Turismo de Porto Alegre.

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