Conexões que geram valor

Por Raquel de Castro Boechat, para Coletiva.net

Sempre ouvi, durante a minha formação profissional, que a pessoa que queremos contatar está no máximo a cinco contatos de nossa rede. Hoje, com a velocidade da comunicação, e as diversas redes sociais, esse caminho certamente está ainda mais curto para encontrar uma fonte, um contato estratégico, um amigo que não vemos há anos. Estamos todos conectados. No entanto, estabelecer este primeiro acesso é apenas o primeiro passo. Como gerenciar estas relações, de maneira que gerem valor?

Com as novas tecnologias, o avanço da realidade virtual e da inteligência artificial, passamos a nos relacionar cada vez mais por meio de máquinas, robôs, algoritmos e estudos com big data. Estas novas tecnologias trouxeram inúmeros recursos. Porém, permanecem imprescindíveis as ações intrinsecamente humanas.

A empatia, por exemplo, é uma qualidade humana de complexidade muito superior ao que é obtido em qualquer máquina ou tecnologia sofisticada. Muitas vezes, um simples olhar transmite mais do que 10 mil palavras. Todos vivemos um paradoxo, em que, ao mesmo tempo em que mantemos nossa individualidade, podemos nos aproximar da percepção da realidade do outro. A empatia é fundamental para gerar valor nos relacionamentos.

Outro aspecto importante é a possibilidade de expressar emoções autênticas nos vínculos que estabelecemos. Em experiências e momentos genuínos uns com os outros. Um episódio da série Black Mirror, por exemplo, estabelece uma crítica às avaliações nas redes sociais, quando apresenta uma personagem desesperada por likes e aprovações virtuais para fortalecer sua reputação e ser aprovada para conviver em ambientes diferenciados. Uma realidade muito próxima a que vivemos. Mesmo com todo seu esforço para agradar e ser gentil, ela recebe baixa avaliação quando suas emoções não são verdadeiras, gerando, inclusive, desconforto.

Mesmo os vínculos criados com base em valores positivos sofrem turbulências e ameaças de ruptura. É talvez o respeito às diferenças, o autoconhecimento sobre nossos limites, e a capacidade de tolerância, que preservem nossos relacionamentos no longo prazo. Ao encerrar um ciclo, de estágio ou trabalho, por exemplo, de que forma mantemos as portas abertas para conviver no mercado e abrir possibilidades futuras? Como somos lembrados por onde passamos?

Como profissionais de marketing e comunicação, precisamos desenvolver continuamente nossa habilidade de relacionamento interpessoal, de visão estratégica e de conectar diferentes mercados e áreas de interesse. Precisamos estabelecer relações ganha-ganha, onde negociamos com benefícios e conquistas conjuntas. Onde todos os envolvidos saiam satisfeitos e dispostos a atuar em conjunto em outras oportunidades. Estabelecer vínculos para parcerias futuras, conectar interesses a causas com propósitos comuns.

Agora, será que desenvolvemos nossas habilidades cognitivas, sociais e emocionais cruciais para estabelecer esses vínculos? Um estudo realizado pela McKinsey & Company em nome da Microsoft Education, sobre a sala de aula em 2030, aponta que as áreas profissionais de crescimento mais rápido exigirão habilidades cognitivas de nível superior em áreas como colaboração, resolução de problemas, pensamento crítico e criatividade.

A pesquisa feita pela McKinsey se baseia na contribuição de 70 "líderes de pensamento" sobre o futuro da aprendizagem, do trabalho e da vida, e apontou que será profundamente vinculada à capacidade de convivência social. Por isso, tanto na vida profissional como pessoal, precisamos desenvolver e aplicar habilidades sociais e emocionais, as chamadas Soft Skills, e buscar aperfeiçoamento com técnicas e práticas aplicadas.

Em sala de aula, como professores, não basta transmitirmos o conteúdo, é fundamental contribuirmos para criar um ambiente de aprendizado, uma experiência que possa potencializar os atributos socioemocionais. Atuar como mentores para alçar desafios e questionamentos para que os próprios alunos identifiquem as melhores soluções, com base nos debates, reflexões e troca de conhecimento adquirido com o conteúdo e as atividades propostas.

Em minha experiência na área empresarial, convivendo com lideranças há mais de 20 anos, tenho convicção de que um bom líder não é aquele com mais conhecimento técnico, e, sim, quem tem mais autoconhecimento, gosta de conviver com outras pessoas, sabe se comunicar bem, atrai outros profissionais, gera influência positiva, é admirado. Estes atributos fazem parte de sua formação humana.

Para empreender, liderar, atuar em grupo, precisamos desenvolver estes atributos, ou teremos uma série de dificuldades para nos relacionar, receber e dar feedback. Até as dificuldades nos relacionamentos, os ruídos dos trabalhos em grupo, um chefe difícil, podem ser chave para a formação, ao saber lidar com frustração, aprender com os erros, ter mais tolerância. Essas experiências aumentam nossa envergadura emocional e nos fazem mais fortes.

Nas empresas, escolas e universidades, é fundamental estabelecer este ambiente de troca, de incentivo à criatividade, à comunicação, à negociação e à influência positiva. Criar espaços para ampliar a comunicação entre os grupos de diversos níveis, segmentos e interesses. Um grande desafio é unir os elementos essenciais para propiciar este espaço de desenvolvimento. O ambiente de trabalho e de ensino, assim como as lideranças e os educadores, precisam se reinventar, buscar novas formas de interação e de transmitir conhecimento, por meio de propósitos que o grupo envolvido acredite e esteja motivado a seguir.

Raquel de Castro Boechat é sócia-diretora da Enfato Multicomunicação e professora na Famecos, da PUC.

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