Crescendo e criando inimigos

Por Geoffrey A. Fowler A ambição crescente do Facebook Inc. está redesenhando o campo de batalha do Vale do Silício. À medida que a …

Por Geoffrey A. Fowler
A ambição crescente do Facebook Inc. está redesenhando o campo de batalha do Vale do Silício. À medida que a empresa, fundada há sete anos - e que acabou de ser avaliada em US$ 50 bilhões depois de uma rodada de captação de US$ 1,5 bilhão -, aumenta o número de contratações e adiciona recursos à sua rede social, ela está gerando dificuldades para empresas já estabelecidas, como Yahoo Inc. e Google Inc., deixando outras de sobreaviso.
O Facebook, que tem agora mais de 600 milhões de usuários no mundo, está tirando faturamento de propaganda online do Yahoo, do Myspace e de outras. A moeda virtual do site de relacionamento o posiciona como possível concorrente do site de pagamentos via internet PayPal, da eBay Inc., enquanto as parcerias que ele está cimentando com fabricantes de smartphones lhe permitem concorrer com a Apple Inc. e o Google em serviços para aparelhos portáteis. Enquanto isso, o Facebook briga com o Google e a Microsoft Corp. por engenheiros e a lealdade dos internautas.
O resultado disso é que muitas empresas do Vale do Silício estão tendo que decidir se tratam o Facebook como um amigo cujo alcance e dados demográficos podem ajudar a impulsionar o crescimento delas, ou um inimigo que pode se tornar uma força destruidora. "O Facebook é um grande concorrente, mas também é um benfeitor aqui no Vale do Silício", disse David Cowan, capitalista de risco da Bessemer Venture Partners, de Menlo Park, na Califórnia. "Qualquer um que estiver tentando captar a atenção do jovem usuário da internet agora tem que competir com a posição dominante do Facebook por aqui. Por outro lado, eles criaram muitas oportunidades."
"Dois negócios bem diferentes"
Os executivos do Facebook não são tímidos quanto aos seus planos. "Achamos que todos os setores vão se acomodar em torno do relacionamento social", disse ao Wall Street Journal a diretora operacional do site, Sheryl Sandberg. O Facebook já ajudou a impulsionar uma nova safra de empresas de videogame projetadas para a interação entre amigos, disse ela, acrescentando que "agora é a vez da saúde, das finanças e do comércio - de modo parecido, todas essas coisas serão reorganizadas por empresas que cooperam conosco para inserir o social no âmago da questão".
Até agora, o campo de batalha mais importante do Facebook é o marketing online. Em apenas dois anos, o Facebook cresceu de 2,9% para 13,6% dos anúncios que aparecem em sites - aqueles ligados a buscas não estão incluídos - nos Estados Unidos, um mercado que atingiu US$ 8,8 bilhões em 2010, segundo a firma de pesquisa eMarketer. O crescimento do Facebook ocorre às custas de empresas como Yahoo e AOL Inc., e o site provavelmente também está roubando faturamento publicitário de mídias tradicionais como jornais e canais de TV.
O Yahoo parou de tentar concorrer diretamente com o Facebook e passou em vez disso a integrar recursos da rede social em seus sites, na esperança de interromper um declínio do tempo que seus usuários passam em sites Yahoo a cada mês. O Myspace, que como o Yahoo fechou algumas parcerias com o Facebook, negou-se a fazer comentários. O Myspace e o Wall Street Journal pertencem à News Corp. Jeff Levick, o diretor de publicidade da AOL, disse que vê a ascensão do Facebook como "complementar" porque as empresas "operam dois negócios bem diferentes". A AOL, disse, concentra-se em faturar com o conteúdo que os usuários do Facebook compartilham.
Investida no conceito de plataforma
Documentos aos quais o WSJ teve acesso e que o Facebook preparou para possíveis investidores mostram que o site faturou cerca de US$ 2 bilhões ano passado, quase tudo com propaganda. O Facebook lançou recentemente formatos de propaganda que incorporam a rede de amigos dos usuários - até mesmo seus nomes, fotos e atualizações - nos anúncios. E o Facebook também se voltou para o potencialmente lucrativo mercado de propaganda local, lançando seu próprio serviço de localização e de descontos que une elementos de sites como o Groupon Inc., de descontos, e de opiniões sobre serviços, como o Yelp Inc. O Groupon se negou a comentar e o Yelp não respondeu a um pedido de comentário.
O Facebook provavelmente vai pisar em mais calos à medida que desenvolve sua plataforma para a internet, em que outros sites, smartphones e até mesmo carros podem acrescentar suas próprias ofertas, permitindo às pessoas acrescentar seus amigos ou preferências. Cerca de 2,5 milhões de sites já participam da plataforma, que inclui acrescentar o botão "Curti" em blogs, notícias, listagens de produtos e outras páginas da web.
Com sua investida no conceito de plataforma, o Facebook está se posicionando como um parceiro de outras empresas de tecnologia - até mesmo do Google, que usa o botão "Curtir" no YouTube.
Cada vez mais em rota de colisão
Mesmo assim, Rose admite que o Facebook pretende participar de qualquer novo negócio que surgir a partir do uso de sua plataforma. Um exemplo são as produtoras de jogos como a Zynga Game Network Inc., uma das primeiras a crescer exponencialmente com a plataforma do Facebook, que agora têm que pagar uma espécie de tributo para usar a plataforma. O Facebook anunciou mês passado que iria obrigar todas as produtoras de jogos a usar seus créditos, uma moeda virtual, para fazer compras nos jogos, transações das quais o Facebook cobra 30%. A Zynga não quis comentar. O Facebook pode expandir posteriormente seu sistema de créditos para outras áreas do comércio, como bens físicos, o que pode torná-lo um concorrente do PayPal e da Amazon.com Inc. Rose não descartou essa possibilidade, mas disse que no momento a empresa está se concentrando nos produtos virtuais.
O presidente da PayPal, Scott Thompson, minimiza a rivalidade com o Facebook. Ele disse que a empresa se associa ao Facebook, permitindo que as pessoas paguem os Créditos com o PayPal. Mesmo que o Facebook se aprofunde no segmento de pagamentos, ele disse que o PayPal permanecerá protegido. "Os pagamentos são algo muito, mas muito difícil mesmo de se fazer", disse ele.
Os executivos do Facebook também estão de olho nos smartphones, onde esperam se integrar mais com o software dos aparelhos. A INQ Mobile, filial da Hutchison Whampoa Ltd., lançou semana passada no Reino Unido um aparelho que dá destaque aos contatos, fotos e outros dados das contas do Facebook. Ontem, a HTC Corp. anunciou smartphones que incluem um botão só para acesso à rede social. Essa atividade coloca o Facebook cada vez mais em rota de colisão com o Google, a Apple e outras empresas envolvidas em propaganda em celular.
O Google se negou a comentar sobre o Facebook (colaboraram Stu Woo e Amir Efrati).

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