Criança tem que brincar

Por Marcia Martins Há muito tempo, quando era criança e fazia travessuras, como subir em árvores, roubar maçãs nas casas vizinhas e pular amarelinha, …

Por Marcia Martins
Há muito tempo, quando era criança e fazia travessuras, como subir em árvores, roubar maçãs nas casas vizinhas e pular amarelinha, torcia para o tempo passar e eu chegar à fase adulta. Queria me vestir como minha mãe, com saltos altos, vestidos da moda, batom vermelho e, aparentemente, não ter preocupações. A ingenuidade ajuda a construir sonhos irreais. Nem as brincadeiras de criança eram ruins, nem a fase adulta é algo tão maravilhoso e a minha mãe tinha preocupações.
Hoje, quando minha filha de quase 10 anos me diz que quer pular algumas etapas de sua infância, pensando exatamente como eu fazia, sinto-me impotente em interromper isso. Mas, sei que somente construiremos uma sociedade mais justa, educada e soberana se todos puderem cumprir todas as etapa de vida necessárias.
Tudo na vida de qualquer cidadão, independente de sua estatura física (como Gabriela, que já alcança 1.42 cm), deve acontecer dentro do seu tempo e o destino já vem traçado. Ninguém tem o direito de escrever destinos ou ceifar sonhos. Foi mais ou menos o que aconteceu no último Dia da Criança, 12 de outubro. Havia planejado um super Dia da Criança com minha pequena. Cinema, parque, pipoca, cachorro quente, balão e uma lembrancinha.
Percebi que nossos planos estavam em discordância quando ela me disse que adorou a lembrancinha (uma perereca de pelúcia porque as fãs das Witchs adoram e no esoterismo é sinal de sorte), mas que não estava pensando em tanta agitação. Deixei, então, que ela traçasse os planos e me guiasse. De início, dormimos até mais tarde e depois ela, ainda criança, quis abrir os e-mails para ver se tinha recebido algo. Banho. Roupa de domingo e vamos almoçar que mãe moderna foge da cozinha.
Filme democraticamente escolhido fomos assistir ao Espanta Tubarões em um shopping da cidade. Na saída do cinema, casualmente, desembocamos num imenso e maravilhoso parque de brinquedos eletrônicos. Aquelas engenhocas que atraem todas as crianças. Vencida, vamos brincar um pouco. Modernidade é tudo. Não se compra mais ingresso. Hoje, a gente compra um cartão, carrega com tantos pontos e fica com ela para recarregar sempre que voltar ao local. Jogamos basquete, batemos com raiva em insetos horripilantes e jogamos bolas em cubos que somam pontos.
Completamente cansada da maratona, Gabriela cedeu ao primeiro apelo e concordou em ir embora. Lembrei que tinha que arrumar mochila, refazer algum tema e que o pai dela podia querer aparecer para levar um presidente de Dia da Criança. Em casa, exaustas, fizemos todas as tarefas rotineiras após um dia de compromissos. Gabriela sentou a cabeça no meu colo e perguntou em que eu pensava. Disse-lhe que na minha agenda para amanhã. Ela reclamou: "quero ser adulta logo para ter compromissos".
Ao levá-la para cama, rezei muito para que ela permaneça criança por mais tempo, que queira brincar mais vezes, nem que seja em parques eletrônicos. E que eu possa ainda acariciá-la por muito tempo. Lembrei de um projeto que ela está preparando para a noite de talentos do colégio no final do ano sobre o livro "Os direitos das crianças", segundo Ruth Rocha. No final, o livro diz embora eu não seja rei, decreto, neste país, que toda, toda criança, tem direito a ser feliz. E pensei: eu decreto que a Gabriela, com a educação e o carinho que lhe dou, com certeza, ajudará outras crianças a serem felizes.
* Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela PUCRS, trabalhou no Jornal do Comércio, Zero Hora e atualmente é assessora de comunicação social.
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