Crime e castigo na internet

Por Sílvio Meira Como é de conhecimento geral, sites de todas as vertentes e níveis de governo estiveram sob ataque de um enxame de …

Por Sílvio Meira
Como é de conhecimento geral, sites de todas as vertentes e níveis de governo estiveram sob ataque de um enxame de hackers nas últimas semanas.
Muitos foram derrubados e uns poucos invadidos, o que podia interromper a prestação de serviços à cidadania e a empresas. Não que isso tenha acontecido; serviços essenciais como a Receita atravessaram incólumes o tsunami.
Defensores da internet vigiada entendem que só isso já é motivo para acelerar a passagem da Lei Azeredo (o "AI-5 digital") pela Câmara, onde a proposição se encontra depois de aprovada pelo Senado. Mas não é.
O surto de ataques e os sites de e-gov prejudicados são resultado de um fenômeno muito mais básico e, por isso mesmo, endêmico na administração pública: a falta de políticas e estratégias e, na presença delas, a incapacidade operacional.
Segundo relatório recente do TCU, nada menos que 65% dos órgãos federais não têm uma política de segurança da informação (veja http://bit.ly/lUQni0), o que tira muito da graça de derrubar seus sites e invadi-los para subtrair, aqui e ali, informação via de regra irrelevante.
Nos últimos 15 anos, toda uma geração cresceu na internet, íntima de muitos de seus segredos. Parte transformou tal intimidade em ferramentas que tornam possível feitos que o imaginário, ao desconhecê-las, atribui à genialidade.
Menos, muito menos do que isso está em jogo na vasta maioria dos casos.
Mas é certo que a geração hacker cresceu à margem do veio social, ignorada e, ao mesmo tempo, quase sempre ignorando um mundo onde quase ninguém sabe o que é ou joga World of Warcraft. E muito menos do que é capaz uma linha de comando na hora e no lugar certos.
Essa separação levou a visões de mundo, de cada lado, que são de difícil articulação sem que se faça um esforço consciente, coerente e de longo prazo para atrair hackers de todas as matizes para o jogo social.
De pouco ou nada adianta um "dia do hacker" no governo sem que haja uma política continuada de absorção de suas competências pela sociedade
O artigo foi publicado originalmente no jornal Folha de S. Paulo.

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