Daniel Dantas e a Caixa de Pandora

Por Paulo Tiaraju Daniel Dantas é a mais emblemática flor de estufa do capitalismo selvagem, o filho pródigo da criatura tentacular, não se iluda, …

Por Paulo Tiaraju

Daniel Dantas é a mais emblemática flor de estufa do capitalismo selvagem, o filho pródigo da criatura tentacular, não se iluda, ele apenas fez os deveres de casa. Bactérias, mofo e células malignas precisam de ambiente adequado e favorável para desenvolverem-se. Daniel é resultado da combinação de uma sociedade elitista, lideranças gananciosas, e de um sistema político arcaico e vulnerável. Some-se a isso uma legislação engenhosamente construída para prender ladrão de galinha. Seu modus operandi foi inspirado na banda podre dos financistas americanos, na barbárie portanto. Escreve Walter Fanganiello Maierovitch - colunista da revista CartaCapital: "Dantas, caso residente na Itália, poderia ocupar o  Ministério das  Finanças da Cosa Nostra.Talento para o mal, artes e poder compulsivo para corromper não lhe faltam."


Contudo, como se justifica que uma mente brilhante, ao incursionar pelos meandros dos fabulosos negócios internacionais e, a um só tempo, pelos pantanosos redutos do dinheiro sujo -  leia-se malversão de fundos, off-shores, lavagem de dinheiro em contas bilhardárias nas Ilhas Caymã,  corrupção ostensiva e suposta associações criminosas -, não sabia que seu império iria ruir?  Eu, você, nunca seremos bilhardários no Brasil. Nos falta um ingrediente essencial: a mente criminosa. Pessoalmente não acredito em impérios financeiros que não tenham sido eregidos sobre uma pirâmide de ossos, ou um rio de sangue, ou um batalhão de advogados. São raras as exceções. Dantas é um player, ele jogou o velho jogo. E sempre teve consciência cristalina de quantos milhões de dólares podia lucrar em cada dia na carceragem da PF. Psicopatas têm certeza pétrea de que jamais serão condenado, façam o que fizer. No Brasil esta patologia é ainda mais robustecida, na razão direta em que o dinheiro compra tudo, porque sempre comprou.


Em toda a sua trajetória Daniel Dantas transitou com charme e desenvoltura no território das contendas jurídicas e da intimidação. Por duas vezes ganhou a queda de braço com o todo poderoso Cityb Bank. Quando é briga de cachorro grande, quase sempre vence o mais insensato, o que tem menos a perder. Dantas levou ao extremo o aforisma maquiavélico segundo o qual deve-se fazer o mal em uma única vez, e da forma mais destrutível possível. Embora haja controvérsias, nos Estados Unidos, onde a legislação é duríssima e crimes contra o sistema financeiro são punidos de forma exemplar, um Daniel Dantas seria inviável.


Agora, no prende-solta do indiciado, a pergunta que não quer calar é: qual é o conteúdo da caixa-preta de Dantas? Felizmente temos uma imprensa livre e que compete pela primazia do furo jornalístico, o que deflagra o clamor público que, por sua vez, influencia as decisões do judiciário. "Vou detonar tudo" - declarou o maior empresário do Brasil. É o terror. Ou seja, mais uma vez ameaça e tenta intimidar o estado de direito. A simples declaração deve ter esgotado os estoques de Lexotan nas farmácias. Na condição de homem-bomba, ele sugeriu que está com o dedo no botão que aciona o artefato explosivo, o dedo que empurra o primeiro dominó que irá provocar quedas seqüenciais e espetaculares.


Como mero observador, suponho que Daniel Dantas não tem uma caixa-preta. Mente brilhante e notório corruptor, ele tem em mãos a Caixa de Pandora. E sabe que, ao abri-la, pode libertar forças avassaladoras. Seu alvo são lideranças políticas e agentes da mais alta relevância no cenário empresarial e financeiro do país. Uma vez aberta, a Caixa de Pandora adquire vida própria, nada poderá detê-la. É o terrorismo de colarinho branco. Aposto numa decisão consensual para deixar a caixa fechada, deixar tudo como está.

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